Pecuarista paga até 40% de ágio para garantir acesso a boi

Leia em 4min

Em 60 dias, os pecuaristas das regiões onde o pasto está em processo de seca não terão mais animais. De acordo com Pedro Merola, pecuarista da Santa Fé, o sul de Goiás, norte e sul de Mato Grosso e São Paulo eles terão apenas o confinamento como opção.

 

Por outro lado, segundo Merola, hoje os confinamentos operam, em média, 30% a 40% da capacidade. "Se o volume não aumentar rápido, haverá problema de oferta em meados de julho e em agosto", afirma.

 

Uma das soluções para que não ocorra uma entressafra real, segundo Merola, seria um ajuste no preço de animais para reposição. "O pecuarista precisa parar de apostar e ser realista", diz ele, referindo-se ao ágio de 30% a 40% pago atualmente pelo criador.

 

Cálculos do pecuarista mostram que em Goiás, a relação de troca de um boi magro de 12 arrobas a R$ 912, com a arroba cotada a R$ 76, não pode pagar um bezerro que custe mais de R$ 640. "Se pagar mais de R$ 700, então, acaba com seu negócio. O ágio não deveria ultrapassar 20%." De acordo com o pecuarista, este cenário de margem de troca desfavorável fez com que ele optasse pela não reposição de animais durante o ano passado.

 

Para Merola, outra maneira de minimizar a crise na comercialização de animais para reposição seria a formação de parcerias entre criadores. "Os produtores sem confinamento podem pagar por dia para que seu gado seja alimentado, ou combinar pesagem", observa.

 

Segundo Merola, a pesagem seria um acordo comercial de engorda. "Se um criador sem confinamento possui um animal de 13 arrobas, por exemplo, o montante comercializado com a diferença do peso adquirido após o confinamento vai para o parceiro."

 

Estatística da Scot Consultoria aponta que em Goiás, o bezerro Nelore, macho, de 12 meses e sete arrobas custa R$ 670. Em Mato Grosso do Sul R$ 740 e em Minas Gerais R$ 660.

 

Em São Paulo, embora não seja um estado de cria, ainda de acordo com levantamento da Scot, a margem de reposição é estreita de 1,26 na relação do boi magro com um boi gordo de 16,5 arrobas, e 1,5 com garrote de 18 meses. Já na relação do boi gordo com um bezerro de 12 meses a margem é de 1,77, e com um de desmame 1,87. "A média histórica, o que seria considerada ideal é de 2,1", diz Hyberville Neto, analista de mercado da Scot.

 

O fator positivo que tem animado o setor de engorda está na queda do custo com alimentação, puxada pelo milho e farelo de soja. "Vantagem para o pecuarista", diz Rafael Ribeiro de Lima Filho, zootecnista e analista da Scot.

 

O Índice Scot para o Custo de Produção do Confinamento registrou em maio de 2010, se comparado ao mesmo período em 2009, queda de 7,5% a 8%. "O custo operacional de confinamento para alimentação representa 25% e o custo para reposição 73%", comenta o zootecnista.

 

Segundo o pecuarista Merola, o Mato Grosso do Sul não terá problemas com oferta de boi gordo, mantendo assim, o fornecimento de animais para São Paulo.

 

Para Tamires Miranda Neto, veterinário da Agropecuária CFM, em junho a oferta de boi gordo deve diminuir, fazendo com que os preços subam, mas não quantificou.

 

Segundo o veterinário, a tendência de alta no preço da arroba é sinalizada pelo mercado futuro. "A reação desta semana de cerca de 10% no mercado futuro já indica valorização da arroba."

 

De acordo com Tamires Neto, os contratos de agosto vinham a R$ 84,30 e os de outubro já avançaram para R$ 85,60. "Os frigoríficos estão tentando segurar os preços. Mas, há uma expectativa de queda para segunda rodada de confinamento, que deve ocorrer em agosto", pontua.

 

Números da Scot mostram ainda que a indústria paga hoje entre R$ 79 e R$ 80 a arroba, a vista. A prazo, os valores variam de R$ 80 a R$ 81. "As escalas estão curtas, de em média três dias", diz Hyberville Neto.

 

Com a expectativa de aumento no consumo de carne, comum em início de mês, segundo Hyberville, o pecuarista espera novo reajuste nos preços. "No sul de Minas Gerais e Goiás já houve redução de oferta."

 

De acordo com Hyberville, as pastagens no norte de Minas e sul da Bahia perderam capacidade de suporte. "Com a seca está difícil segurar o gado."

 

Veículo: DCI


Veja também

Suspensão preocupa o setor de carne "in natura"

A suspensão de exportações de carne industrializada para os Estados Unidos pode retardar a aceita&c...

Veja mais
Marfrig anuncia que atenderá Estados Unidos por unidades do Uruguai e Argentina

Segundo a empresa, a decisão foi tomada diante das restrições à exportação de ...

Veja mais
Marfrig vende para os EUA via Uruguai

A Marfrig Alimentos anunciou ontem que vai atender a demanda dos Estados Unidos por carne bovina processada utilizando s...

Veja mais
Marfrig

A Marfrig comprou o  frigorífico irlandês O’Kane Poultry por R$ 70 milhões . Com o neg&oa...

Veja mais
Impasse no projeto carne do pampa

O programa de indicação de procedência da carne do Pampa gaúcho, na Campanha meridional, foi ...

Veja mais
Suspensa venda de carne bovina aos EUA

Medida do Ministério da Agricultura do Brasil foi tomada depois de americanos pedirem recall de 40 toneladas de p...

Veja mais
Falta qualidade para carne

O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, mas só consegue metade dos preços da carne ...

Veja mais
Rússia suspende importação da Marfrig e da JBS

A Rússia suspendeu temporariamente as importações de carne bovina de oito unidades frigorífi...

Veja mais
Rússia suspende importação de carne de oito frigoríficos

Medida vale a partir de 30 de maio; exportadores reclamam da falta de clareza nas barreiras impostas pelo país &...

Veja mais