Em 60 dias, os pecuaristas das regiões onde o pasto está em processo de seca não terão mais animais. De acordo com Pedro Merola, pecuarista da Santa Fé, o sul de Goiás, norte e sul de Mato Grosso e São Paulo eles terão apenas o confinamento como opção.
Por outro lado, segundo Merola, hoje os confinamentos operam, em média, 30% a 40% da capacidade. "Se o volume não aumentar rápido, haverá problema de oferta em meados de julho e em agosto", afirma.
Uma das soluções para que não ocorra uma entressafra real, segundo Merola, seria um ajuste no preço de animais para reposição. "O pecuarista precisa parar de apostar e ser realista", diz ele, referindo-se ao ágio de 30% a 40% pago atualmente pelo criador.
Cálculos do pecuarista mostram que em Goiás, a relação de troca de um boi magro de 12 arrobas a R$ 912, com a arroba cotada a R$ 76, não pode pagar um bezerro que custe mais de R$ 640. "Se pagar mais de R$ 700, então, acaba com seu negócio. O ágio não deveria ultrapassar 20%." De acordo com o pecuarista, este cenário de margem de troca desfavorável fez com que ele optasse pela não reposição de animais durante o ano passado.
Para Merola, outra maneira de minimizar a crise na comercialização de animais para reposição seria a formação de parcerias entre criadores. "Os produtores sem confinamento podem pagar por dia para que seu gado seja alimentado, ou combinar pesagem", observa.
Segundo Merola, a pesagem seria um acordo comercial de engorda. "Se um criador sem confinamento possui um animal de 13 arrobas, por exemplo, o montante comercializado com a diferença do peso adquirido após o confinamento vai para o parceiro."
Estatística da Scot Consultoria aponta que em Goiás, o bezerro Nelore, macho, de 12 meses e sete arrobas custa R$ 670. Em Mato Grosso do Sul R$ 740 e em Minas Gerais R$ 660.
Em São Paulo, embora não seja um estado de cria, ainda de acordo com levantamento da Scot, a margem de reposição é estreita de 1,26 na relação do boi magro com um boi gordo de 16,5 arrobas, e 1,5 com garrote de 18 meses. Já na relação do boi gordo com um bezerro de 12 meses a margem é de 1,77, e com um de desmame 1,87. "A média histórica, o que seria considerada ideal é de 2,1", diz Hyberville Neto, analista de mercado da Scot.
O fator positivo que tem animado o setor de engorda está na queda do custo com alimentação, puxada pelo milho e farelo de soja. "Vantagem para o pecuarista", diz Rafael Ribeiro de Lima Filho, zootecnista e analista da Scot.
O Índice Scot para o Custo de Produção do Confinamento registrou em maio de 2010, se comparado ao mesmo período em 2009, queda de 7,5% a 8%. "O custo operacional de confinamento para alimentação representa 25% e o custo para reposição 73%", comenta o zootecnista.
Segundo o pecuarista Merola, o Mato Grosso do Sul não terá problemas com oferta de boi gordo, mantendo assim, o fornecimento de animais para São Paulo.
Para Tamires Miranda Neto, veterinário da Agropecuária CFM, em junho a oferta de boi gordo deve diminuir, fazendo com que os preços subam, mas não quantificou.
Segundo o veterinário, a tendência de alta no preço da arroba é sinalizada pelo mercado futuro. "A reação desta semana de cerca de 10% no mercado futuro já indica valorização da arroba."
De acordo com Tamires Neto, os contratos de agosto vinham a R$ 84,30 e os de outubro já avançaram para R$ 85,60. "Os frigoríficos estão tentando segurar os preços. Mas, há uma expectativa de queda para segunda rodada de confinamento, que deve ocorrer em agosto", pontua.
Números da Scot mostram ainda que a indústria paga hoje entre R$ 79 e R$ 80 a arroba, a vista. A prazo, os valores variam de R$ 80 a R$ 81. "As escalas estão curtas, de em média três dias", diz Hyberville Neto.
Com a expectativa de aumento no consumo de carne, comum em início de mês, segundo Hyberville, o pecuarista espera novo reajuste nos preços. "No sul de Minas Gerais e Goiás já houve redução de oferta."
De acordo com Hyberville, as pastagens no norte de Minas e sul da Bahia perderam capacidade de suporte. "Com a seca está difícil segurar o gado."
Veículo: DCI