Como efeito da crise, participação da receita estrangeira no caixa das empresas brasileiras recuou 15,73% no ano passado, segundo pesquisa da FDC
A grave crise de 2009 retirou parte da receita das empresas brasileiras com operações internacionais. Mas o estrago, segundo pesquisa divulgada ontem pela Fundação Dom Cabral (FDC), foi menor do que se imaginava.
Segundo o ranking, na comparação entre 2008 e 2009, a soma das receitas das transnacionais brasileiras no exterior caiu 15,73% e somou R$ 126,24 bilhões. Já as receitas domésticas diminuíram 14,06%, num total de R$ 361,80 bilhões. Apesar da crise, 38% das empresas aumentaram o índice de internacionalização em comparação a 2008
O ranking, feito desde 2006, leva em consideração as vendas, os ativos e o número de funcionários ? o total e a participação das subsidiárias. Com a combinação dessas informações chega-se a um índice que mostra quão internacionalizada é a empresa.
Neste ano, o primeiro lugar ficou com a JBS Friboi, gigante do setor de produtos alimentícios, presente em sete países nos cinco continentes. A companhia deixou para trás a Gerdau, que ficou com a segunda colocação.
Ao todo, 83,6% das vendas e 64% dos funcionários da JBS Friboi estão em subsidiárias estrangeiras. A companhia tem mais empregados nos EUA (54.295) do que no Brasil (44.993). Mas apenas 37,3% dos ativos estão fora do País, o que é atribuído ao grande crescimento do mercado doméstico, reforçado pela fusão com o grupo Bertin.
Já a Gerdau reforçou seu caixa com 48,2% das vendas fechadas no exterior. Mais da metade dos ativos (54,4%) está fora do Brasil. A maior produtora de aço da América Latina sofreu com a crise internacional e adiou projetos de expansão. Foi a forma encontrada de se manter sólida financeiramente até que o mercado de aço desse sinais de retomada.
De acordo com o levantamento, a empresa nacional presente em mais países é a Vale, com negócios em 33 nações. A Petrobrás vem em segundo lugar, instalada em 26 países.
A América Latina é a região que concentra o maior número de transnacionais brasileiras ? 53%, um aumento de 14,55% em comparação aos dados de 2008. Em segundo lugar está a Europa, com 17% de participação, seguida pela Ásia (15%), América do Norte (9%), África (5%) e Oceania (1%). Os maiores crescimentos foram na Ásia e na Oceania.
Conjuntura. Segundo Jase Ramsey, professor e coordenador do Núcleo de Negócios Internacionais da Fundação Dom Cabral, apesar de as receitas e os ativos das companhias brasileiras internacionalizadas terem recuado, os investimentos no exterior subiram. "A crise fez com que as empresas repensassem suas estratégias globais para ganhar posições no mercado em relação aos competidores", explica.
Ainda de acordo com Ramsey, o fato de as companhias não terem diminuído o quadro de funcionários confirma os planos de continuar a apostar fora do País. "Claro que também conta o fato de as empresas se preocuparem com sua imagem no exterior e, por isso, terem cautela quanto a demissões", lembra.
Presidente da Metalfrio, Luiz Eduardo Moreira Caio confirma os dados da pesquisa. A participação das vendas das subsidiárias caíram no ano passado. No caso da fábrica da Rússia, foi preciso cortar despesas e diminuir a produção pela metade. Os cortes também afetaram a unidade do México e da Turquia.
"A retração começou a ficar para trás, mas foi um momento difícil. Praticamente fomos a única empresa brasileira a continuar na Rússia", diz. Mas, para ele, o pior momento ficou mesmo para trás. Tanto que tem aproveitado a operação turca para abrir novos mercados. Do ano passado para cá, a Europa Ocidental perdeu o posto de principal cliente para o Iraque. As vendas da planta da Turquia no primeiro trimestre de 2010 cresceram 40% e a empresa já fala em abrir uma subsidiária na Ásia para atender aquele mercado.
Veículo: O Estado de S.Paulo