Retenção de matrizes bovinas deve ajudar oferta só em 2014

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A retenção de matrizes para garantir o abastecimento de carne bovina avança no Brasil. No entanto, o processo longo e de alto custo deve gerar aumento de oferta de boi gordo apenas em 2014. Segundo Felipe Moura, proprietário da Agropecuária Ponderosa, em Manduri, interior de São Paulo, e diretor da Scalzilli Agropastoril, no Rio Grande do Sul, com as cotações elevadas do bezerro, o pecuarista que está de olho no crescimento do faturamento opta pela retenção de fêmeas para recria. "É um ciclo natural e importante neste cenário."

 

De acordo com o pecuarista, há cerca de dois anos a Argentina passou por um quadro semelhante ao brasileiro, no qual o alto índice de abate de matrizes reduziu o volume do rebanho. O abate de fêmeas ocorre quando as cotações do boi gordo estão em baixa, para o criador manter o caixa.

 

Segundo Gustavo Aguiar, zootecnista e analista da Scot Consultoria, o abate de matrizes no País se deu entre 2005 e 2006, quando a arroba do boi gordo estava 47% mais barata do que os valores praticados hoje. Em junho de 2006, a arroba deflacionada girava em torno de R$ 48,85.

 

Para Moura, ao contrário do Brasil, os argentinos dificilmente recuperam o volume de cabeças de gado, porque o índice de reprodução das matrizes da Argentina é superior ao das vacas brasileiras. A taxa de fertilidade no Brasil geralmente é de 50%, e na Argentina, de 85%. Sem contar nove meses de gestação, oito meses de desmame e 24 meses até o abate. "O impacto no preço do bezerro é menor lá pela fertilidade."

 

Dados da Scot Consultoria apontam de que no primeiro semestre de 2010, a cotação brasileira do bezerro de sete arrobas subiram quase 20%. Em junho de 2006, um bezerro custava R$ 401; hoje ele vale R$ 750, como valia no período pré-crise, em 2008.

 

Por outro lado, de acordo com o pecuarista, a retenção de matrizes está relacionada também ao clima. A região de Mato Grosso que ficou 120 dias sem chuvas pode ter o pasto comprometido. "A tendência agora, de verão com chuvas deve desafogar", observa.

 

Segundo Hyberville Neto, analista da Scot, a retenção de fêmeas iniciada em 2007, depois do pico de abate, continua em 2010.

 

Estatística da Scot mostra que no primeiro semestre deste ano as fêmeas respondiam por 36,3% dos abates, ante 39,6% no mesmo período de 2009. "A menor participação de matrizes ocorreu em 2002, com 28,7%", diz Neto.

 

De acordo com Aguiar, o percentual de 36,3% representa cerca de 4,5 milhões de cabeças de vaca. O total de bovinos abatidos no primeiro semestre de 2010, sem contar novilhos e novilhas, é de 12,61 milhões de cabeças. Para Neto, a continuidade da retenção de fêmeas no rebanho, além de indicar investimento no setor, colabora com a diminuição de animais para abate, o que consequentemente gera aumento das cotações bovinas.

 

Segundo Neto, de junho até outubro deste ano a arroba do boi gordo valorizou 15,5%.

 

Em São Paulo, a comercialização da arroba, à vista, livre de Funrural, está em R$ 93.

 

Em Goiânia, a pouca oferta provocou alta e os preços a R$ 90 a arroba, a prazo, livre do Funrural se alinharam aos do sul do estado e aos do Mato Grosso do Sul.

 

Já no sul da Bahia, os negócios diminuíram e a cotação voltou para R$ 85 à vista, sem imposto.

 

Tanto Aguiar como Moura apostam em que até o fim do ano os preços da arroba devem se aproximar da casa de R$ 100. "Em 2011, os preços seguem firmes. As cotações sobem diariamente."

 

Moura considera ainda que a tendência de elevação dos valores do boi gordo deve seguir nos próximos dois anos.

 

Na outra ponta, os preços do bezerro em 2011, de acordo com Aguiar, não devem sofrer mais altas, mas vão continuar firmes.

 


Veículo: DCI


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