Os preços da carne bovina, cuja alta beirou os 35% ao longo de 2010, tendem a continuar em ascensão em 2011. Apesar da queda registrada em janeiro, os consumidores devem esperar, quando muito, a estabilidade dos valores nos patamares atuais. A avaliação é de analistas e da associação de produtores do setor.
Dados do Índice de Custo de Vida, medido pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (ICV/Dieese), que registra a evolução dos preços na capital, mostram que, em janeiro, o grupo carne bovina recuou 2,6% ante um índice geral positivo de 1,3%. A maior baixa foi registrada no preço do filé mignon, cujo preço médio caiu 7,9%.
Alex Lopes da Silva, analista da Scot Consultoria, especializada no acompanhamento do setor, afirma que a falta de matéria-prima que provocou os aumentos em 2010 ainda não foi resolvida.
Segundo ele, janeiro é um mês tradicionalmente de safra, isto é, deveria haver mais oferta de carne bovina, já que os pastos estão melhores por conta das chuvas, o que reduz os custos para alimentação dos bois que, em períodos de seca, ficam confinados sem acesso ao cardápio natural, o pasto.
Silva classificou a redução registrada em janeiro de “tímida” e afirma que a reposição do rebanho, que poderia melhorar a oferta do produto, ainda está em curso. A crise internacional que se instalou em várias economias mundiais, inclusive no Brasil, em 2008, reduziu a demanda, sobretudo no mercado internacional, derrubando o preço pago ao produtor. O valor da arroba (peça de 15 quilos) que fechou 2008 em R$ 84,24 caiu a R$ 74,75 no fim de 2009. A baixa levou muitos produtores a abater matrizes, como são chamados os animais reprodutores.
Silva acredita que no segundo semestre, o clima mais seco em regiões produtoras, como Mato Grosso e Goiás, deve reduzir a oferta do produto e elevar os preços.
Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria, também acredita em altas de preços para 2011, sobretudo entre junho e agosto, meses mais frios.
Ela também aponta o aumento das demandas interna e externa como fatores que contribuirão para o encarecimento do produto. “Com produtores como Argentina e Austrália com restrições de exportação, a carne brasileira pode ganhar mercado ou conseguir preço melhor nos países para os quais já vende”, afirma. Em 2010, os três maiores compradores da carne brasileira foram Rússia, com 295 mil toneladas, Irã, que comprou 191 mil toneladas e Hong Kong, onde desembarcaram 165 mil toneladas de carne bovina brasileira.
Orlando Morando, diretor de Comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas) acredita em nova queda de preços perto de 1% em fevereiro e estabilidade a partir de então. “Não há previsão de aumentos”, diz.
A queda apresentada na estatística do Dieese não foi sentida pelos consumidores, que ainda digerem a alta de 2010. É o caso da doméstica Benedita de Almeida, de 60 anos. “Não percebi nenhuma baixa nos preços, ao contrário”, diz. Benedita conta que para driblar as altas trocou os cortes bovinos por frango.
A técnica farmacêutica Arli Regina Diniz, de 35 anos, também não notou as baixas. “Só notei aumentos e como acho carne de frango mais saudável, às vezes substituo”, afirma.
A operadora de máquinas Renata de Lima, de 23 anos, faz coro com Benedita e Arli. “A impressão que tenho é de aumento”, diz.
Veículo: Jornal da Tarde - SP