Estiagem nos EUA, que fez milho encarecer, deixa iguarias, como o peru, servidas na ceia de fim de ano até 15% mais caras
A estiagem que atingiu a safra americana e fez a cotação do milho e da soja disparar mundialmente está refletindo nos carros chefes da ceia de Natal brasileira. O tradicional peru deve chegar às gôndolas até 15% mais caro, segundo cálculos do setor produtivo. O reajuste salgado é mais do dobro da inflação oficial prevista pelo mercado para esse ano, de 5,4%, e vai atingir ainda as aves festivas como os chesters e os chamados frangões, de porte mais avantajado que o frango comum e bem apreciados na festa do brasileiro. O pernil, o leitão e o lombinho, também estrelas da noite devem encarecer pelo menos 10% até o fim do ano, estimulados pelo crescimento da demanda no mercado interno e pelo aquecimento das exportações.
Para quem tem espaço no freezer, o momento é propício para as compras antecipadas. Os produtores de bovinos estimam valorização da carne de mais 6% até dezembro. Como os insumos encareceram, a opção do produtor foi fugir o confinamento, o volume caiu 9% no país. No pasto, o boi leva mais tempo para chegar ao abate, o que reduz a oferta no fim do ano, pressionando o preço do filé.
Segundo a União Brasileira de Avicultura (Ubabef) para sustentar a alta de 40% do preço dos insumos acumulados nos últimos cinco meses, os reajustes estão sendo repassados ao consumidor e os abates também foram reduzidos em 5%. Com a menor oferta os preços dão mostras de seguir em alta até dezembro, época que tradicionalmente cresce a demanda.
No acumulado do ano, o custo de vida apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta alta de 10,6% no preço do frango para o consumidor da Grande BH. Em setembro, a alta foi de 1,47% e, no país, acelerou 4,6%. “Para recompor o custo da produção, os preços ainda precisam avançar 15%”, diz Francisco Turra, presidente-executivo da Ubabef. Ele explica que o freio no abate atingiu também as aves festivas. O objetivo é fazer frente a alta do milho e da soja, obtendo valores mais altos pelos animais. “Como há também uma recuperação da exportações não há cenário para excesso de oferta no país. Esse ano, o peru e o chester vão ter o mesmo reajuste experimentado pelas aves comuns.”
Tradição
Há 40 anos à frente do tradicional Rei da Feijoada no Mercado Central, João Dias conta que sua família é também proprietária do Frigorífico Imperatriz, especializado em suínos. Segundo ele, o prato preferido do mineiro na ceia do Natal é o pernil, o leitão e o lombo, nessa ordem. “No fim do ano as vendas aumentam cerca de 25% e os preços dos produtos costumam encarecer entre 15% e 20%”, diz ele. José Arnaldo Penna, coordenador da Comissão de Suinocultura da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), diz que em outubro os preços do suíno começaram a recuperar as perdas de abril quando o custo da produção estava acima do valor de venda do animal vivo. A valorização entre setembro e outubro foi de aproximadamente 30%. “Como as exportações em setembro foram recordes , até o fim do ano o valor do suíno ainda pode crescer entre 8% e 10%.”
A dentista e dona de casa Flávia Moysés desembolsa cerca de R$ 300 a cada 25 dias com a compra do açougue. Ela comenta que todas as carnes encareceram. “Foram altas sucessivas ao longo do ano.” Flávia trocou o filé pela carne de porco e diz que o frango já foi barato. Ela está prevendo preços mais altos para dezembro, mas não pretende modificar o cardápio da ceia. “Natal sem peru não dá.”
José Geraldo Sá, presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Corte da Faemg, afirma que para fugir da ração em alta, o gado foi para o pasto. “O produto continuará sendo ofertado, mas ao invés de chegar ao mercado em outubro e novembro levará quatro ou cinco meses mais.”
Carlos Gonçalves, vendedor no Mercado Central, informa que os preços não desviam o consumidor do prato preferido. “Em dezembro, as vendas de leitão crescem 90%. No mês vendemos mais de 3 mil unidades.”
Veículo: Estado de Minas