Sem mercado para vender a produção, armadores deixam barcos parados no Rio Itajaí-Açu
ITAJAÍ - Os dois primeiros meses de safra da sardinha registraram captura acima do esperado e apreensão no setor pesqueiro. O aumento nas importações do pescado congelado por parte das indústrias, aliado à chegada de sardinha já enlatada de outros países, tem obrigado os armadores a diminuir o esforço de pesca. Barcos parados ao longo do Rio Itajaí-Açu, em Itajaí, em plena safra, sinalizam que o impasse ainda está longe de ser resolvido.
– A perspectiva é de uma captura bem abaixo de 2012, com redução de cerca de 30% em função da menor demanda – diz Wilson Santos, consultor na área da pesca.
A importação da sardinha in natura foi liberada pelo governo há cerca de 10 anos, quando houve queda brusca na produção. Na época, foram instituídos períodos de defeso para proteger a espécie, e as empresas enlatadoras ganharam o direito de importar com baixa alíquota para se manterem no mercado.
A queixa dos armadores é que, apesar da retomada da produção – que chegou a 97 mil toneladas em 2012 –, as importações continuam ocorrendo, mesmo em períodos de safra. O peixe congelado importado chega ao Brasil com cota de 2%, que o torna vantajoso em relação ao pescado congelado nacional.
Desde o início da safra, a compra de sardinha pelas indústrias foi interrompida duas vezes, segundo o presidente do Sindicato dos Armadores e da Indústria da Pesca (Sindipi), Giovani Monteiro. A redução afeta diretamente Itajaí e Navegantes, que respondem pelo maior polo pesqueiro de sardinha no país, com 70 embarcações no Sul e Sudeste.
Prejuízo que vem em lata
Jorge Seiff, armador especializado na captura de sardinhas, diz que a indústria não respeita um acordo firmado em 2004 que previa importação nos períodos de escassez.
– Nos sacrificamos em defesos, e a indústria não tem cumprido sua parte no pacto. O produto está entrando de maneira desordenada e covarde no país, acabando com o setor produtivo – afirma o armador.
Se a compra do pescado importado preocupa os armadores, as indústrias, por outro lado, têm assistido à chegada de sardinha enlatada proveniente de países como Tailândia, Equador e Peru. As importações cresceram 168% nos três primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período no ano passado – de 10 milhões para 27 milhões de latas.
Segundo o consultor Wilson Santos, o aumento na importação ocorre especialmente devido à liberação do Ministério da Agricultura para entrada de duas espécies que, antes, não eram rotuladas como sardinha.
Veículo: Jornal de Santa Catarina