Apenas seis meses depois de ter assumido como CEO da Bertin S.A, o executivo João Pinheiro Nogueira Batista deixou a companhia, que a partir de agora terá como diretor-presidente Fernando Antônio Bertin, um dos fundadores e que tinha assento no conselho de administração da empresa. O próprio Batista, cujo desligamento prematuro surpreendeu o setor, justificou as razões da mudança num momento em que as empresas que atuam em carne bovina no país enfrentam dificuldades.
Reconhecendo que sua passagem foi rápida e não escondendo alguma frustração, ele disse ontem que houve uma "percepção da família" de que Fernando Bertin deveria "tocar o negócio como executivo", o que foi aprovado pelo conselho de administração.
Apesar da passagem relâmpago, Batista disse que conseguiu, no período em que esteve à frente da Bertin consolidar a estruturação do modelo de gestão, com a formação do conselho de administração e implementação do sistema de governança. Isso "culminou com a aprovação do planejamento estratégico" para os próximos cinco anos, afirmou ele.
O executivo, que antes da Bertin esteve na Suzano Petroquímica e Petrobras, afirmou que a mudança na direção da empresa "não tem diretamente a ver com a crise" [financeira internacional], mas admitiu que com a alteração do cenário econômico a "abertura de capital [da Bertin] não é tão premente" . Quando assumiu o cargo, em julho passado, Batista disse em entrevista ao Valor que sua tarefa era "fazer o processo de abertura de capital acontecer efetivamente".
A saída de Batista acontece num momento em que o setor de carne bovina vive dificuldades com escassez de animais para abate e queda nas exportações. Momento também em que há rumores de que a Bertin teria registrado perdas com derivativos.
Batista negou problemas com tais instrumentos financeiros e disse que a Bertin tem posições em derivativos, mas com cobertura cambial de exportações, dentro da política de risco definida pelo conselho de administração da empresa. Ele não disse o valor das posições em derivativos.
A escassez de gado para abate e a menor demanda externa levaram a Bertin a desativar, em dezembro passado, uma unidade de bovinos em Araguaína (TO). A empresa também reduziu sua capacidade de produção de couro no país por conta da demanda internacional menor. Em agosto passado, o grupo Bertin - que controla a Bertin S.A - também havia decidido postergar o plano de entrar no setor financeiro e ter um banco.
O ex-presidente da Bertin reconheceu a "frustração de ter de passar o bastão para o Fernando [Bertin], e não poder compartilhar esse processo daqui para frente". Apesar de enfatizar que sua saída é "supernormal", Batista afirmou que a empresa "não estava pronta para o passo que deu há seis meses", quando colocou um executivo na presidência. Movimento semelhante ocorreu recentemente na cervejaria Schincariol.
Um das maiores exportadores de carne bovina do Brasil, a Bertin S.A. também atua em lácteos - em 2007 comprou a Vigor e fez oferta pública para fechar o capital do empresa. Atua ainda em pet, couros e higiene e limpeza. A Bertin S.A, na qual o BNDES tem participação de 21,46%, foi criada no início de 2008 dentro de um processo de reestruturação societária no grupo Bertin.
Veículo: Valor Econômico