Venda da Seara à JBS gera desconforto na BRF

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É flagrante o desconforto da BRF com a venda da Seara Brasil da Marfrig Alimentos para a JBS. Não pela concorrência em si, ainda que muitos analistas identifiquem na JBS um rival com mais fôlego para a difícil disputa com as marcas da BRF no varejo.

O que a dona de Sadia, Perdigão, Batavo e Elegê quer saber mesmo é se o acordo que selou a transferência do controle da Seara Brasil respeita integralmente ou não os termos do contrato de troca de ativos que teve que firmar em 2011 com a Marfrig para que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) desse o sinal verde para a sua própria criação. Essa transferência de ativos, que envolveu unidades de produção e marcas, fortaleceu a Seara Brasil e a tornou um negócio com maior potencial de crescimento, o que certamente atiçou o interesse da JBS.

Durante a inauguração do novo centro de inovação da BRF em Jundiaí (SP), fruto de aportes de R$ 58 milhões, o Valor apurou que a BRF acredita que dificilmente o negócio fechado entre JBS e Marfrig neste mês não arranha de alguma maneira o contrato de transferência de ativos, por mais que a Marfrig tenha garantido que todas as condições impostas antes estejam sendo respeitadas agora. Mas, como os detalhes da transação entre Marfrig e JBS ainda não foram revelados - o que só acontecerá após a aprovação do Cade -, a BRF prefere ver para crer. Até agora, o que é líquido e certo é que a JBS pagará R$ 5,85 bilhões à Marfrig pela Seara Brasil, por meio da assunção de dívidas bancárias.

Entre outros pontos, executivos da companhia lembram que, na negociação de 2011 com a Marfrig, ficou definido que, além da troca de ativos, a empresa de Marcos Molina teria de pagar R$ 350 milhões à BRF. Um montante de R$ 100 milhões já foi quitado entre junho e outubro do ano passado, e os R$ 250 milhões restantes seriam divididos em 72 parcelas mensais. A BRF não descarta mudanças nesse prazo, a depender dos termos acertados entre JBS e Marfrig.

O acordo entre BRF e Marfrig também previa que esta última não poderia vender as marcas adquiridas por um período de cinco anos. No entanto, essas marcas foram para a JBS, já que estavam sob o guarda-chuva da Seara Brasil.

Durante o evento em Jundiaí, o presidente da BRF, José Antônio do Prado Fay, preferiu não alimentar polêmicas. Disse que, "no fim do dia, quem concorre são as marcas", que o respeito pela concorrência é o mesmo e que é preciso esperar e estudar as estratégias da JBS nos mercados em que ambas concorrerão, já que isso praticamente não acontecia até agora já que os focos de ambas eram diferentes.

Originalmente uma empresa de carne bovina, a JBS ingressou no mercado brasileiro de carne de frango apenas no ano passado, com o arrendamento dos ativos da Doux Frangosul. A JBS já atuava nesse segmento nos EUA com a Pilgrim's Pride, segunda maior processadora de carne de frango do mundo.

Na área de carne bovina, a concorrência entre JBS e BRF praticamente não existia, uma vez que a BRF mantém uma operação pequena de carne bovina apenas para produzir alguns alimentos processados como hambúrguer, um mercado de marca em que a JBS não atuava. Com a Seara, que tem hambúrguer em seu portfólio, isso também pode mudar.

Ao mesmo tempo em que espera por essas definições no front interno, a BRF continua a tocar sua expansão internacional. Na Argentina, a ordem é acelerar a integração das operações, originárias de quatro empresas distintas, e já começar a pensar em novos investimentos. Segundo Fay, o mercado doméstico do país vizinho é interessante e justifica o que na empresa foi batizado como "Plano Argentina 2017".

Na China, conforme o executivo, é tempo de definições. No segundo semestre, a empresa deverá bater o martelo sobre localização, tamanho e investimentos da fábrica de processados que deverá construir no país. Já a unidade da companhia no Oriente Médio deverá ser concluída nos próximos 12 meses.



Veículo: Valor Econômico


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