Pecuária requer manejos sustentáveis à produção

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Animais de produção cumprem a missão de alimentar milhares de pessoas e necessitam de bem-estar nos currais

São Paulo. O conhecimento do comportamento animal e o uso de estratégias de manejo racional podem assegurar o bem-estar animal e gerar ganhos diretos e indiretos na produtividade e na qualidade do produto final. Por outro lado, o manejo inadequado, além de causar estresse e sofrimento desnecessário, afeta diretamente a qualidade da carne em fatores como: cor, pH, consistência e tempo de prateleira, além de reduzir significativamente o rendimento de carcaça.

Há alguns dias comentei que a nossa pecuária cresceu muito nas últimas três décadas e isso nos mostra que estamos evoluindo nesta atividade, mas ainda temos muito a aprender e praticar. No entanto, recentemente identificamos, via mídia, uma verdadeira calamidade em alguns abatedouros do País. Problemas graves de sanidade, sem fiscalização, maus tratos aos animais, pessoas sem treinamento algum: um caos!

Quem paga o preço desta imagem? Onde está a fiscalização? Uns dizem que a fiscalização federal é eficiente, outros dizem que não! Nosso problema está no Estado ou até mesmo no município. Vejam amigos: nestas horas, a isenção é a melhor opção.

A custa disso: vândalos maltratam e colocam a nossa imagem ao alento! Isso tudo por vontade própria ou por que acreditam que no Brasil a impunidade é prevalente?

Eles não sabem o esforço que os produtores brasileiros fazem para ter a rentabilidade esperada dentro da porteira. Repito: quem paga o preço por isso?

Nós, produtores, estamos buscando aumentar nossa pífia média de natalidade (nascimentos/ano) que gira em torno de 60%, ou seja, para cada 100 matrizes, nascem 60 bezerros, isto é, 40 matrizes estão comendo e bebendo sem nenhum retorno para o pecuarista.

Na sanidade animal ainda identificamos problemas: compra de vacinas, mas por falta de interesse em aplicar, as descartam. Quem paga o preço por isso? Todos nós sofremos quando são registradas notícias que afetam o setor.

Será que não está na hora de tratarmos nossa pecuária como um grande negócio? Queremos aumentar nossa produção e nossos índices. No entanto, para isso, precisamos investir em formação de pastagens - o maior bem de uma fazenda de bovinos. Também é necessário aplicar recursos na análise de solo, correção de solo, cuidados com sanidade animal, controle do rebanho, investimento em genética, consórcio de diferentes vertentes da pecuária, cria, recria e engorda. Esses são alguns itens que nós pecuaristas precisaremos melhorar.

Há exemplos bons: produtores buscando inovações, melhorando a capacidade de gerenciamento de suas fazendas através de treinamentos, buscando intensamente o bem-estar dos animais com investimentos pesados em currais, por exemplo, pois estamos lidando com seres vivos que tem a missão de alimentar milhares de pessoas. Será que não está na hora de termos uma fiscalização exemplar a estes seres que prejudicam a imagem da pecuária brasileira? E, definitivamente, dizer que não há lugar para amadores aqui?!

A sociedade, em geral, está nos cobrando cada vez mais melhorias nas condições e tratos com animais, como chamamos de "bem-estar animal". Certamente muitos dizem: "mas é simplesmente um animal: não pensa, não raciocina, não tem amor!". Será mesmo verdade? Podemos estar errados, mas analisando a vida dos animais, deveríamos ter certeza que eles têm características parecidas com seres humanos: tem amor por seus filhos, os educam da forma que lhes convém, defendem-se muito bem, entendem sobre hierarquia, admiram seu líder e sabem muito bem obedecer às ordens. Será que deveríamos ter dúvidas se eles devem ser bem tratados? Existem sim algumas diferenças: não falam português ou inglês ou outras línguas distintas, não escrevem, seu raciocínio é mais lento em alguns casos. E por todas essas características, nós, seres humanos, nos credenciamos a sermos mais organizados. Diante desta premissa: de sermos mais organizados, não temos o direito de tratar estes seres de forma brutal, pois apesar de sua missão ser ajudar a sobreviver e alimentar milhares de pessoas, precisamos tratá-los como seres vivos e não como qualquer coisa.

Vocês devem estar pensando se somos defensores de animais? Na realidade, somos defensores de direitos e conceitos que podem ajudar a melhorar praticas antes brutais, por práticas modernas. Temos casos de sucesso: alguns frigoríficos já buscam melhorias em suas práticas para que os animais não sintam dor.

A Medicina Veterinária busca alternativas para que o estresse destes seres seja menor. Tanto dentro da porteira como fora da porteira tem buscado melhorias nos processos que visam o bem- estar animal.

E quem busca este caminho tem obtido melhores resultados econômicos e sociais para suas atividades sejam no campo ou industriais. Não vislumbramos o sucesso no futuro para aqueles que insistem em manter métodos antigos e ultrapassados.

Amigos, todos nós sofremos quando acontecem notícias que afetam o setor. Será que não está na hora de tratarmos a nossa pecuária como um grande negócio, mas por todos? O bem-estar animal é um fator que deve ser seguido e exercitado por todos os elos da cadeia. A tecnologia está disponível para todos, basta ter coragem de implantá-la.

Os caminhos são espinhosos, há um sentimento de que não teremos mudanças, o discurso é reativo e não pró-ativo. Mas, a esperança é a última que morre - velho ditado ainda muito usado.

Vamos acreditar que algo será feito, pois tudo isso quem paga é o setor que vê seu ganho escorrer entre os dedos como água. Algo precisa ser feito urgente: por nós, produtores, e pelos animais, o bem-estar animal é um pré-requisito para o futuro da pecuária no Brasil! Simplesmente, é o mínimo que uma sociedade cada vez mais exigente cobra. Pensem nisso!



Veículo: Diário do Nordeste


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