Sadia decide enxugar corpo administrativo e anuncia 350 cortes

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A Sadia, que deve fechar o balanço de 2008 com o primeiro prejuízo em 64 anos, decidiu fazer um enxugamento em sua estrutura administrativa e vai demitir 350 pessoas, o que deve gerar à empresa uma economia anual de R$ 44 milhões em salários. Em entrevista exclusiva ao Valor , o presidente da empresa Gilberto Tomazoni e o presidente do conselho de administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, negaram cortes no chamado "chão de fábrica". "Não há nenhuma intenção de incluir pessoal de operação", disse Furlan. "Não espere nenhuma notícia de demissão relevante, que não vai acontecer", reforçou mais tarde, durante a entrevista. Circularam nos últimos dias no mercado rumores de que a empresa poderia demitir "milhares de pessoas. 

 

A companhia, que em setembro passado admitiu perdas de R$ 760 milhões em operações com derivativos atrelados ao dólar, tem um total de 60 mil funcionários em 17 unidades no país. As demissões em curso atingem cargos de gerência (incluindo gerentes de fábrica), supervisores e diretores em todas as plantas. A maior parte dos afetados está em São Paulo e Curitiba. 

 

De acordo com Tomazoni, com a medida a Sadia espera "ganhar velocidade e agilidade nas decisões para fazer frente às incertezas que o mercado está nos colocando". Uma das mudanças previstas é a extinção do cargo de diretor vice-presidente, criado em meados do ano passado. 

 

A Sadia tinha três diretores vice-presidentes: de operações, de mercado externo e de mercado interno. Agora haverá diretorias dessas áreas. Valmor Savoldi, que era vice-presidente de operações, se aposentou e será substituído por Hélio Rubens, atual diretor de TI. Gilberto Xandó, que era vice-presidente de mercado externo, deixou a Sadia por razões pessoais, segundo Furlan. Nessa diretoria, assume Guillermo Anderson, que era diretor de operações internacionais. Sérgio Fonseca, que era diretor vice-presidente de mercado interno, segue como diretor nessa área. 

 

Com as mudanças também haverá uma redução no número de diretorias, de 29 para 22. Isso ocorrerá porque algumas diretorias serão extintas e reagrupadas dentro de outras. Na nova estrutura, haverá, como disse Tomazoni, um "enriquecimento do escopo dos cargos" e ainda a simplificação de alguns processos "para permitir que gestores possam ter controle sobre um maior número de atividades." 

 

A reestruturação está literalmente derrubando paredes dentro da Sadia. A partir de agora, Tomazoni dividirá uma grande sala com vários diretores que se reportam à presidência, como o financeiro, de mercados interno e externo, área de suprimentos, RH, vendas e de negócios. "Vamos trabalhar num salão único para garantir sintonia e agilidade na tomada de decisões", afirmou Tomazoni. 

 

Conforme Furlan, as funções das pessoas que foram demitidas estão sendo redistribuídas ou acumuladas com a promoção de quadros já existentes dentro da empresa. Ele disse que nos últimos dois anos a empresa contratou 14 mil funcionários, num esforço para atender a demanda, principalmente externa, e um programa "forte" de investimentos. 

 

Diante do novo cenário na economia mundial, porém, a estrutura da Sadia, considerada pesada e lenta por analistas, teve que ser ajustada. "O cenário mudou completamente. Ao lado dos efeitos que já são possíveis de medir, existe ainda uma grande volatilidade com uma imprevisibilidade de como vai ser o cenário no segundo semestre do ano", observou Furlan. 

 

Questionado sobre o peso das perdas com derivativos na decisão de enxugar a estrutura de gestão da empresa, Furlan, que voltou à presidência do conselho de administração após o episódio, disse que a reestruturação "tem pouca coisa a ver com derivativos". Segundo ele, "essa é uma situação de mudança radical de cenário, que com ou sem derivativos aconteceu", não só para a Sadia. Mas a reestruturação seria tão profunda, não houvesse a perda com os derivativos? "Difícil responder, mas a empresa precisaria necessariamente se adaptar a uma nova conjuntura", disse Furlan. 

 

Por conta da crise, a Sadia também vai ajustar a "velocidade de operação de novos projetos" de acordo com a demanda. A inauguração da fábrica de Vitória de Santo Antão (PE) deve ocorrer no primeiro semestre deste ano, como previsto. Mas a expansão para a segunda fase em Lucas do Rio Verde (MT) e um novo turno de operações vão depender da demanda, segundo Furlan. Também estão em compasso de espera os projetos de Mafra (SC), Campo (MT) e no Oriente Médio. 

 

A reestruturação também atingirá a operação da Sadia em Kaliningrado, na Rússia, um dos países mais afetados pela crise financeira internacional. Segundo Furlan, a empresa e seus sócios russos estão trabalhando na adaptação do plano operacional para este ano. Também deve haver cortes, mas o número é "irrelevante", disse. A produção na unidade também terá ajustes. 

 

Apesar do quadro ainda nebuloso na economia mundial, que levou a Sadia a fazer paradas técnicas em unidades e a rever parcerias, Furlan disse que não deve haver "grande queda de demanda no mundo". E citou números da própria Sadia para justificar o ainda que tímido otimismo. Em dezembro, a Sadia exportou perto de US$ 250 milhões e suas vendas no mercado interno tiveram recorde, tanto em volume quanto em valor. A quantidade cresceu 4,5%, disse Furlan, que não divulgou o percentual referente à receita. 

 

Segundo ele, a expectativa para este ano é de crescimento nas vendas. "Nossas vendas neste ano vão ter crescimento físico, portanto não haverá redução do produção. Se não houver redução da produção, tem de ter gente para produzir", disse Furlan. 

 

Os executivos evitaram o tema derivativos. A exposição líquida da Sadia, de US$ 678 milhões em dezembro, era ontem de US$ 487 milhões, o equivalente a dois meses de exportação, segundo a empresa. "No momento em que baixou de US$ 500 milhões, entrou na normalidade. E como os derivativos já sofreram os gatilhos que tinham de sofrer, não há por que ficar elocubrando em cima de algo que voltou à normalidade", afirmou Furlan. 

 

Sobre a possível venda de uma "fatia" da Sadia, Furlan disse que "não há nada concreto". E acrescentou: "No momento em que as ações têm perda que tiveram, fica difícil fazer qualquer discussão nesse sentido", justificou. 

 

Veículo: Valor Econômico


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