País pode suspender novamente compra do produto brasileiro.
Quando se trata da relação entre Brasil e Rússia um assunto que está sempre presente nas discussões é a questão do embargo à carne brasileira pelo lado russo. Na avaliação dos produtores, mais que uma questão sanitária, a suspenção às importações implica mais em motivações econômicas.
O fluxo comercial entre os dois países é favorável ao lado brasileiro. No ano passado, o volume de exportações do Brasil para o mercado russo somou US$ 3,1 bilhões, contra US$ 2,7 bilhões em importações.
"O argumento sanitário para os embargos não faz nenhum sentido", afirma o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), José Milton Dallari. "Eles criam alguma dificuldade, deixam de comprar por um tempo, e depois de esclarecimentos voltam a comprar", explica.
Para Dallari, a estratégia de atribuir focos de febre aftosa como justificativa não é válida, porque muitas vezes os casos são localizados em estados que sequer exportam carne para a Rússia, como o Acre, por exemplo. "Além disso, o Brasil já tem mecanismos para cercar o problema", afirma.
Os produtores que exportam para a Rússia estão concentrados predominantemente nos estados da região Sudeste, além do Mato Grosso. Quando os russos suspendem importações, o impacto afeta todos os produtores de carne do país.
"Quando acontece um problema desses, a carne vem para o mercado brasileiro e o distorce totalmente. Acaba prejudicando o produtor na ponta", conclui Dallari, explicando que na maioria das vezes, não há tempo hábil para fazer novas negociações e a carne já destinada aos russos só encontram espaço no mercado doméstico.
Cuidados - De acordo com informações do jornal "Gazeta Russa", a Rússia, além da Ucrânia, entre outros países, pode proibir a importação de carne suína brasileira por conta da adição de um estimulante de crescimento muscular, a ractopamina, presente na produção de algumas empresas brasileiras. A carne bovina também está correndo riscos de ser proibida por estes países.
"Se as avaliações das novas inspeções de produtores de carne suína brasileira não mudarem, a importação desse produto poderá ser proibida", alertou Serguêi Dankvert, presidente do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária, em entrevista recente ao jornal.
Na visão dos especialistas russos, os fabricantes brasileiros não tomaram medidas para corrigir as falhas no processo industrial. "Há uma série de defeitos sistemáticos no funcionamento da agência veterinária brasileira, em múltiplas situações", afirmou um dos responsáveis pela Vigilância Veterinária e Fitossanitária.
"Como a legislação brasileira permite o uso da substância, os estabelecimentos que exportam carne bovina e suína devem observar e cumprir as normas de países que compram seus produtos para que não sofram sanções comerciais", alerta Ruy Nathan Lopes, assessor científico e veterinário da Gênese Diagnósticos.
Para que as importações de carne suína brasileira não sejam cortadas, o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia exige comprovantes de ausência desta substância que está proibida em 159 países.
Para evitar que esses produtos sejam exportados com residual da substância, o médico veterinário recomenda a utilização de kits específicos para detecção de Ractopamina pela metodologia Elisa, que servem como triagem para detecção desse resíduo. Segundo ele, esse método é bem sensível e pode ser realizado no laboratório do próprio frigorífico, evitando que o mesmo tenha que enviar todas as amostras ao laboratório para serem realizados exames de HPLC. O médico veterinário salienta que esses kits podem ser encontrados em distribuidoras brasileiras.
Veículo: Diário do Comércio - MG