Gomes da Costa quer ir além do atum e da sardinha em lata

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Depois de anos nadando na maré do extrativismo, a Gomes da Costa resolveu diversificar suas ondas. Líder nacional na produção e comercialização de pescados enlatados, a empresa planeja entrar no segmento de cultivo, iniciando a produção com as tilápias em lata. Comprada em 2004 pelo grupo espanhol Calvo, a companhia está prestes a bater seu recorde de faturamento já em 2013, atingindo a casa de R$ 1 bilhão.

O interesse na formação de uma cadeia produtiva completa, com a existência de um peixe alternativo ao atum e à sardinha, surgiu há sete anos. Entretanto, pesquisas para elaboração do produto começaram há três anos.

"A Gomes da Costa é uma empresa puramente extrativa. Temos como carro-chefe a sardinha, enquanto o atum representa outra parcela importante dos negócios. Ao analisar nosso portfólio, notamos as oportunidades que podem ser geradas com o cultivo de um peixe para reserva", explica o diretor industrial da Gomes da Costa, Adão Pereira de Sá.

Em entrevista ao DCI, o executivo ressaltou que a criação de peixes em tanques escavados reforça, do ponto de vista da sustentabilidade, a ideia de projeto verde e completa a cadeia produtiva mantida pela Gomes da Costa.

"Iremos criar, trazer para a indústria e processar. Neste caso, trabalharemos com a tilápia em conserva, utilizando também a polpa do peixe para elaboração de fishburgers e nuggets. Já os resíduos, serão misturados com algumas proteínas para retroalimentar os peixes", diz Pereira de Sá.

De acordo com o diretor, o conhecimento do mercado nacional na criação de tilápia e a boa taxa de conversão - quantidade de ração que você dá ao peixe versus a quantidade de carne que você tira - motivaram a decisão pela criação do pescado.

Até o momento, o centro de pesquisas da companhia, com sede na cidade de Itajaí (SC), já desenvolveu oito sabores. Para a fase de testes de recepção dos consumidores, foram escolhidos quatro sabores: tilápia ao natural; ao óleo de soja; ao molho de tomate e com alcaparras.

"Os testes de recepção seriam realizados no final deste ano, mas nos atrasamos bastante com uma série de exigências e requisitos legais. Agora, a ideia é iniciar os testes na quaresma de 2014, em um mercado grande como São Paulo", afirma Pereira de Sá.

Segundo o executivo, a pesquisa de mercado ajudará a companhia a tomar uma decisão final. No caso de boa recepção do público, o projeto será viabilizado.

Plataforma

Próxima ao começo da fase de testes, a companhia já iniciou sua busca por um espaço adequado para a construção de uma nova plataforma destinada ao cultivo de tilápias.

Segundo Pereira de Sá, ainda é cedo para apontar com precisão o local que receberá a nova unidade da empresa. Entretanto, já é possível afirmar que o espaço será erguido no Paraná.

"A criação de tilápia é muito desenvolvida no Brasil, principalmente no Estado do Paraná. Por isso, já estudamos a capacidade de produção em algumas cidades como Assis Chateaubriand, Maripá e Toledo. Além disso, essas cidades não estão tão afastadas da nossa unidade fabril em Itajaí", explica o diretor industrial da Gomes da Costa.

Segundo dados do Ministério da Pesca e Aquicultura, o município de Assis Chateaubriand produziu 3.600 toneladas de tilápia no ano passado, enquanto Maripá somou 2.500 toneladas e Toledo 2.200 toneladas. Para viabilizar o negócio, a Gomes da Costa precisa produzir 10 mil toneladas.

"A região noroeste do Paraná, sobretudo Toledo, está bastante avançada na criação de tilápias. Ainda não se tem os volumes necessários para viabilizarmos o empreendimento, mas, sabemos que todo aquele espaço ainda é pouco explorado", afirma.

Os aportes necessários para a viabilização do projeto também desafiam os planos da companhia. Segundo Pereira de Sá, o processo atual de cultivo da tilápia encarece o preço final do produto. "A tilápia ainda é um peixe que chega muito caro ao consumidor final, devido ao modo de trabalho, dado o volume de atravessadores e de indústrias de baixa eficiência."

Por isso, de acordo com o executivo, a companhia já estuda a maneira mais adequada de realizar o cultivo de forma sustentável e viável economicamente, preocupando-se também com as cooperativas que atuam na área.

"As conversas com a Prefeitura de Toledo já estão avançadas, mas seria precipitado afirmar que a construção da nova plataforma acontecerá lá. Vamos esperar a fase de testes, para avançar neste campo. A escolha também dependerá de incentivos fiscais".

Apesar da baixa produção, Toledo se destaca pela existência de mão de obra qualificada e por ser um grande polo de conhecimento na produção de tilápias. Além disso, existe o interesse local em abrigar uma grande indústria - a plataforma em Toledo seria capaz de empregar 200 funcionários. Enquanto aguarda o início dos testes, a empresa ressalta as projeções de crescimento este ano, que beiram os 10%, podendo chegar a faturar R$ 1 bilhão.



Veículo: DCI


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