Trava da UE à carne gera perda de US$ 586 mi

Leia em 4min

Um ano depois de a União Europeia ter restringido as importações brasileiras de carne bovina in natura, o Ministério da Agricultura faz as contas do prejuízo que o embargo causou ao país em 2008. Estudo da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura estima que a restrição da UE gerou uma perda de US$ 586 milhões em exportações do produto.

 

O cálculo é o seguinte: em 2007, o Brasil havia exportado 195,240 mil toneladas de carne bovina in natura para a UE . Em 2008 conseguiu embarcar apenas 36,218 mil toneladas ao bloco. Isto é, o país perdeu 159,022 mil toneladas em exportações de um ano para outro. Enquanto o preço médio nas exportações para a UE, que compra principalmente cortes nobres, foi de US$ 7.471 por tonelada este ano, para os demais destinos ficou em US$ 3.786 por tonelada, uma diferença de US$ 3.685 por tonelada. Para chegar aos quase US$ 600 milhões, a secretaria multiplicou o que o Brasil deixou de exportar pelo diferencial de preço. 

 

A forte queda nos volumes embarcados à UE em 2008 foi provocada, sobretudo, pela decisão do bloco de exigir do Brasil uma lista com fazendas certificadas para fornecer animais para abate e venda aos países-membros. O Brasil havia preparado uma lista com 2.681 fazendas mas, no fim de janeiro do ano passado, a UE informou que não aceitaria tal listagem, alegando falhas no sistema de rastreabilidade do gado (Sisbov) no país. À época, havia indicações de que a UE só aceitaria 300 fazendas, o que não se confirmou. 

 

De fevereiro de 2008 até hoje, o número de fazendas certificadas soma 814 estabelecimentos no país. Mas o crescimento é lento. Por isso os embarques de carne in natura à UE recuaram. 

 

"Não vejo possibilidade de recuperação este ano [nas vendas para a UE]. O fato é que perdemos nosso principal cliente", afirma Pedro de Camargo Neto, pecuarista e presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína (Abipecs). 

 

O secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Inácio Kroetz, afirma que a "mudança no cenário econômico acabou pressionando as exportações" de carne para a UE. Com a demanda menor, exportadores reduziram ou mesmo deixaram de pagar prêmios pela arroba dos animais das fazendas certificadas. Isso desestimulou pecuaristas a aderirem ao Sisbov. 

 

A expectativa de Kroetz é de que a lista de fazendas cresça, uma vez que os europeus têm reconhecido a melhoria no sistema de certificação do gado, segundo ele. Conforme comunicado do ministério, a missão da UE que encerrou visita ontem ao país considerou "amplamente satisfatória" a situação dos frigoríficos, "assim como para a certificação da carne bovina in natura". Também considerou que melhoras significativas foram adotadas em relação à supervisão e auditoria nas propriedades aprovadas para a UE. Kroetz avalia que isso abre caminho para flexibilização das exigências pelo bloco. 

 

Otávio Cançado, novo diretor-executivo da Abiec (reúne exportadores de carne bovina), diz que com a possível flexibilização, o Brasil terá capacidade para fornecer carne à UE e, "no médio prazo" pode recuperar parte do que exportava ao bloco. 

 

Ontem, na Fiesp, o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, disse que o segmento já enfrenta preços baixos no mercado internacional e oferta restrita de bovinos. Além disso, "há notícias de que os frigoríficos não querem remunerar o produtor pelo animal rastreado", disse. Se o rastreamento for desestimulado, afirmou, os embarques de carne bovina para a UE podem cair ainda mais. 

 

Fonte de frigorífico diz, porém, que as empresas já voltaram a pagar prêmio, de até R$ 10,00 no caso de São Paulo, onde a arroba está a R$ 78,00. A preocupação dessa fonte é que a crise aumente o protecionismo da UE, "que não confia no sistema de rastreabilidade do Brasil". 

 

Kroetz, mais otimista, acha que o país vai retomar os patamares exportados para a UE, mas não arrisca quando. "Pode demorar um pouco, mais ou menos", diz, observando que ninguém consegue prever o fim da atual crise. 

 

Como a turbulência afeta também os emergentes - válvula de escape para os exportadores em 2008, mas que compra cortes mais baratos -, o setor tem mais uma preocupação este ano. Em 2008, a Rússia foi o principal mercado para a carne in natura brasileira, com exportações de US$ 1,430 bilhão, ou 35,7% do total de US$ 4,006 bilhões.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Independência fecha planta em Campo Grande

O frigorífico Independência S.A. comunicou ontem o fechamento, por tempo indeterminado, a partir do dia 1&o...

Veja mais
Independência fecha unidade e Minerva posterga investimentos

Com exportações em queda pelo terceiro mês seguido, o setor processador de carne bovina continua faz...

Veja mais
Aurora tem prejuízo, apesar da receita maior

A Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral Aurora), de Chapecó (SC), fechou 2008 com receita operacio...

Veja mais
Ibama proíbe pesca no rio Paraíba do Sul até fim de maio

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) determinou  a proibi&cced...

Veja mais
Mato Grosso receberá mais um frigorífico

Sorriso ganhará um frigorífico com capacidade inicial para abater mil suínos por dia. A instala&cce...

Veja mais
Sadia poderá buscar capital após divulgação de resultado

O presidente do conselho de administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, declarou que a empresa poder&aac...

Veja mais
UE quer bem-estar animal nas regras da OMC

A União Europeia está propondo a um grupo restrito de países, entre os quais figura o Brasil, a ins...

Veja mais
Sadia lidera alta e acumula 32% de valorização

Rumores de que está próximo de a Sadia conseguir resolver como se capitalizará para estancar seus p...

Veja mais
Endividamento dos frigoríficos causa desconfiança no mercado

No dia 8 de janeiro, a agência de risco Fitch divulgou nota alertando o mercado sobre o atraso do frigorífi...

Veja mais