A Sadia está trabalhando para rodar rapidamente o projeto de venda de ativos fora de seu foco estratégico para levantar recursos e melhorar sua situação financeira, afetada pelos prejuízos com derivativos alavancados. Esse processo deve trazer cerca de R$ 1 bilhão à empresa. A companhia negocia ainda uma capitalização, com a entrada de um novo sócio, da ordem de R$ 1 bilhão.
Segundo o Valor apurou, na lista de ativos fora do foco, estão a a corretora Concórdia e o recém criado banco, que poderão ganhar um sócio. De acordo com fonte próxima à empresa, já houve a contratação de um assessor financeiro para essa negociação, embora ainda não haja nenhuma transação avançada. A Sadia não descarta ceder o controle, mas quer permanecer na sociedade.
Em duas semanas, a companhia também deve fechar uma parceria na área de incorporação imobiliária para o terreno na Vila Anastácio, de 75 mil metros quadrados. Também estuda um projeto na área logística, já que a empresa possui a maior frota de caminhões refrigerados do país.
Na sexta-feira, a Sadia chamou analistas para uma reunião fora de temporada, para orientá-los sobre a situação financeira do negócio. Normalmente, as empresas fazem esses encontros depois de divulgar o balanço - o que ainda não ocorreu - para falar de expectativas.
Juliana Rozenbaum, analista do Unibanco Research, escreveu em relatório estar mais confortável após o encontro, apesar de ainda haver o desafio de dívidas de curto prazo de R$ 4 bilhões para um caixa de R$ 1 bilhão, consumido pelos derivativos. Ela destacou que a empresa vem conseguindo rolar alguns compromissos, embora o custo financeiro tenha subido de 85% do CDI para 120%.
Na reunião, além de admitir a possibilidade de uma capitalização, a empresa reforçou a existência do plano de venda de ativos fora do foco da atividade principal.
A percepção do mercado sobre a reunião foi positiva. Entre os comentários que animaram os analistas estava a declaração da empresa, após questionamento, de que avaliaria uma migração para o Novo Mercado. Consultada, porém, a companhia negou. "A Sadia não cogita neste momento a entrada no Novo Mercado. Atualmente não existe nenhum plano nesse sentido", respondeu ao Valor.
As ações preferenciais subiram 2,10% ontem, dia em que o Ibovespa caiu 1,61%. É o quarto pregão consecutivo de alta do papel. Boa parte dos ganhos tinha como pano de fundo as apostas de eventual migração para o Novo Mercado, embora os analistas ainda não considerassem eventuais riscos de diluição dos preferencialistas na conversão para ordinárias. Para Denise Messer, da Brascan Corretora, que destacou o assunto em relatório, seria positiva a listagem no espaço especial da bolsa para reduzir o desconto histórico da empresa frente à Perdigão, que aderiu ao segmento em 2006.
O mercado apostou a ficha nesse cenário, apesar de o comentário da companhia ter sido vago. Isso porque a migração para o Novo Mercado faria sentido com eventual entrada do BNDES, que costuma pedir tal contrapartida. Seria ainda uma resposta ao problema de governança evidenciado pela crise dos derivativos.
Veículo: Valor Econômico