Maior produtora de carne suína do país, a BRF anuncia hoje uma parceira com a organização internacional World Animal Protection por meio da qual se compromete a adotar o sistema de gestação coletiva na produção de matrizes suínas, em substituição às gaiolas individuais, prática muito criticada por entidades de defesa do bem-estar animal.
A parceria é vista como um marco pelo diretor-executivo da World Animal Protection para a América Latina, Alfredo Botti. "É a primeira empresa desse porte a firmar uma parceria. Nessa temática, é a mais importante mundialmente", diz o diretor da entidade, que também tem acordos na área de bem-estar animal com gigantes como a Nestlé.
De acordo com o diretor de qualidade e inovação da BRF, Ralf Piper, o novo sistema de produção será totalmente adotado em um período de 12 anos. Esse prazo é necessário para que os produtores integrados da empresa façam as alterações no sistema, justifica ele.
Na prática, os investimentos necessários para atender à nova exigência de bem-estar animal da BRF serão desembolsados pelos integrados da companhia. À BRF, caberá "intermediar" e indicar as linhas de crédito mais baratas. "Como existe uma verticalização muito grande na cadeia, temos um poder maior frente aos órgãos financiadores para conseguir taxas menores", afirma Piper. Ele descarta, porém, atuar como garantidor dos integrados nesses financiamentos.
A BRF ainda não tem os cálculos do investimento total que os integrados terão de fazer para realizar as adaptações no sistema de produção, mas Piper admite que os investimentos podem ser grandes. "É uma mudança muito importante dentro do contexto do que nós vínhamos [fazendo]. Investimentos grandes foram realizados [no passado] e agora precisam ser feitos novos investimentos", diz ele, ressaltando que as mudanças no padrão de bem-estar animal são constantes.
Segundo Piper, a World Animal Protection auxiliará a BRF na definição das medidas e dos investimentos que cada integrado terá de adotar e isso depende do tamanho das granjas dos produtores. Hoje, o plantel de matrizes suínas nas granjas dos integrados da BRF é de 300 mil. "Temos vários modelos de criação de fêmeas, desde pequenas até grandes propriedades", explica.
Na avaliação do executivo, a utilização de gaiolas individuais em todo o período de gestação não é mais o "ideal". No passado, afirma ele, esse sistema facilitava o controle individual do animal de modo a evitar que matrizes suínas brigassem devido às alterações hormonais comuns na gestação. Agora, diz, há tecnologia disponível para realizar o controle individual da dieta, ainda que a questão comportamental ainda seja um desafio para a companhia.
Nesse contexto, a BRF vem fazendo uma espécie de "projeto piloto": há dois anos, as novas granjas de integrados já não usam as gaiolas individuais em toda a gestação.
Veículo: Valor Econômico