O setor de grãos tem dois desafios pela frente. Um deles é a dependência de fatores macroeconômicos mundiais. Apesar da ligeira recuperação norte-americana, a economia patina na zona do euro e no Japão.
O ritmo econômico chinês diminui, e a Rússia, dependente do petróleo, não tem bom cenário para 2015. O outro desafio é atravessar o ano com preços e margens de ganho menores. As supersafras de soja e de milho elevam os estoques e depreciam os preços. É dentro de um cenário desse que os analistas do Rabobank, um banco especializado no agronegócio, fizeram uma avaliação dos diversos setores dos quais o Brasil é participante importante.
Mas, se o setor de grãos tem desafios, o de proteínas volta a viver um período de vacas gordas, principalmente devido à demanda externa. No caso dos grãos, a alta da safra de soja deverá fazer com que os preços médios da oleaginosa declinem para valores inferiores a US$ 9 por bushel em Chicago. Em Mato Grosso, a saca fica próxima de R$ 50; no Paraná, de R$ 55.
O milho, devido ao aumento dos estoques pelo segundo ano consecutivo, tem queda de preços em Chicago. Deve ficar entre US$ 3,25 e US$ 3,50 por bushel. Segundo projeções do Rabobank, devido à queda nos preços no mercado internacional, esperam-se margens brutas negativas --receita menos custo variável-- na safra 2015 nos Estados de Mato Grosso e do Paraná, os principais produtores nacionais.
EM ALTA
A perspectiva de um segundo ano consecutivo de deficit no mercado mundial de café permitirá a manutenção dos preços elevados. Seca e o ciclo de baixa na produção brasileira vão manter a safra nacional entre 42 milhões e 47 milhões de sacas. Líder mundial na produção, e sem outro país para substituí-lo, o Brasil deverá colaborar para um deficit de 5,1 milhões de sacas na safra 2014/15.
Outro setor que vem vivendo um período delicado no país, o sucroenergético, voltará a ter problemas em 2015, apesar da alta de preços. A moagem de cana fica entre 550 milhões e 580 milhões de toneladas, segundo o Rabobank. A produtividade da cana será prejudicada tanto pela seca do ano passado como pela baixa renovação dos canaviais.
Já os preços do açúcar deverão ter uma recuperação neste ano, quando a oferta do produto será menor do que o consumo mundial. Mas os analistas do Rabobank acreditam que o cenário de preços será melhor para o etanol. Este será sustentado pela alta da demanda, devido ao aumento da frota brasileira e à mistura maior de álcool anidro à gasolina. A alta do açúcar e do etanol vai permitir preços melhores para o produtor de cana.
BOVINOS
A demanda internacional se manterá aquecida, o que fará com que os preços das proteínas fiquem firmes no mercado nacional. No caso da carne bovina, os produtores de bezerro vão continuar a desfrutar de boas margens, impulsionadas pelo preço do boi gordo.
O mercado externo se mantém favorável também para as exportações de frango, cujos custos de produção serão menores devido à maior oferta de grãos. O Rabobank prevê cenário positivo também para a carne suína, devido à oferta restrita no primeiro semestre.
Veículo: Folha de S. Paulo