O mar está para camarão em 2009. Depois de viver um boom no início da década com uma produção de até 90 mil toneladas e de sofrer um revés com a ação antiduping promovida pelos Estados Unidos em 2004, a carcinicultura brasileira voltou-se para o mercado interno e, segundo alguns produtores, já não dá conta da demanda nacional. Entre 2005 e 2007, a produção ficou na média de 65 mil toneladas e, a partir do ano passado, quando chegou a 70 mil toneladas e a um faturamento de R$ 300 milhões, ensaia uma recuperação que pode ser alavancada pelas exportações, especialmente para a Europa.
"Com o dólar a R$ 2,62 vamos retornar ao mercado internacional", diz o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha. Como os Estados Unidos mantêm as sobretaxas o antiduping, os criadoes de camarão brasileiros miram a Europa que aceita o camarão pequeno e médio produzido no País. O termômetro do desempenho do mercado será a Feira de Bruxelas, o maior evento mundial de frutos do mar que acontece no final de abril. Segundo Rocha, o evento dará uma visão mais clara do que o ano promete para os produtores nacionais.
A expectativa da ABCC é de que haverá um aumento de 15% na produção deste ano, enquanto o diretor de Desenvolvimento da Aqüicultura da Secretaria Nacional de Pesca, Felipe Matias, projeta um crescimento de até 30% em 2009.
Na cearense Aquacrusta, instalada em Acaraú, distante 230 quilômetros de Fortaleza, a retomada já é uma realidade. A empresa, que produz camarão para o mercado interno e já exporta para a Rússia, a Suíça, Portugal, Espanha e França, planeja aumentar sua produção de 1,4 milhão de toneladas, em 2008, para 1,6 milhão de toneladas este ano, considerando também uma ampliação das exportações.
"No ano passado, exportamos 30% da produção mas, este ano, as vendas externas devem levar metade do que vamos produzir - 2009 é um ano de promessas?, declara o gerente de produção da Aquacrusta, Clélio Fonseca.
Reposição de estoques
O momento não poderia ser mais promissor. Segundo Fonseca, as exportações começam em março, quando a Europa precisa repor os estoques adquiridos até novembro do ano passado, pagando um preço superior ao de 2008. "Já vamos começar vendendo o quilo do camarão inteiro, por US$ 3,60 ou US$ 3,70. No ano passado vendemos a US$ 3,30". O gerente da Aquacrusta calcula um aumento médio de 10% na receita da empresa, o que, para ele, é um bom motivo de comemoração.
A Aquacrusta, que emprega 140 trabalhadores, divididos entre o laboratório de pós-larva e a fazenda, exporta camarões pré-cozidos, beneficiados por outras empresas terceirizadas, no mesmo município de Acaraú, intensificando a empregabilidade da região com a formação de postos indiretos de trabalho.
A contratação intensa de mão de obra no Nordeste é uma das vertentes da carcinicultura destacadas pelo presidente da ABCC. A região responde por 98% da produção nacional. O Rio Grande do Norte, com 42% e o Ceará, com 33%, concentram 75% da produção total. Mas a retomada gradativa da lucratividade das empresas que começa a ser vislumbrada por Clélio Fonseca, na opinião de Itamar Rocha, ainda carece de apoio oficial, mais precisamente de crédito. "Nossa dificuldade no Brasil é com capital de giro. O Governo diz que temos recursos mas na verdade não temos. Se considerar o que o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) emprestou para a carcinicultura em 2008, é muito, muito pouco diante do que precisamos", reclama.
Cliente do BNB, a Aquacrusta é uma das empresas que conseguem manter uma linha de crédito para capital de giro porque tem os licenciamentos exigidos para a liberação dos financiamentos, mas realiza com capital próprio todos os seus investimentos.
Veículo: Gazeta Mercantil