Cortes bovinos in natura passaram a ser a preferência dos emergentes
A Farsul divulgou nesta terça-feira o mapeamento das exportações brasileiras de carne bovina entre 2006 e 2016. O estudo traça um panorama do mercado mundial de carne e das mudanças pelas quais o setor passou durante o período no Brasil. Segundo o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, entender o movimento da última década é fundamental em um momento de mudanças geopolíticas, em função das primeiras ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Vivemos um momento em que existe a abertura de um espaço para um posicionamento do Brasil em relação às exportações de carne. Com o recuo dos Estados Unidos em participar do Acordo de Associação Transpacífico, existe um recuo na ameaça que o país representava para a inserção do Brasil no mercado asiático. Esse é um momento de buscar um posicionamento com o setor para aproveitar as janelas de oportunidades que se abrem", afirma Sperotto.
É justamente no continente asiático que está o maior potencial para a carne brasileira, em um movimento que vem sendo consolidado nos últimos 10 anos. Segundo economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, os chineses já são os maiores compradores de carne brasileira e devem se tornar os maiores importadores de carne do mundo, até 2018. No período analisado pelo estudo, houve um crescimento de 778% no valor de carne bovina exportada pelo país para o continente asiático. O volume cresceu 299%.
O Oriente Médio desponta como outra região em crescimento. O valor de carne brasileira exportada para a região cresceu 101% em 10 anos, com uma valorização de 78% no preço do produto comercializado. Na América Latina e o Caribe o valor aumentado cresceu 337% enquanto o volume teve aumento de 136%. "O estudo nos mostra que precisamos estar mais abertos ao mercado mundial, principalmente aos mercados emergentes. Passamos muito tempo com o foco exclusivo na União Europeia e no Leste Europeu, e o que o estudo revela é que essas regiões não concentram o melhor potencial no momento", avalia o economista.
Segundo o mapeamento, apresentado por Renan dos Santos, analista de relações internacionais, o valor das exportações para a União Europeia caiu 51%, apesar do aumento de 79% no preço. O Leste Europeu também apresentou desaquecimento, com queda de 47% no valor e 59% no volume de carne exportada. O movimento está em sintonia com um decréscimo mundial da participação da União Europeia na importação de carne, que caiu pela metade desde 2006.
Nos mercados emergentes, um dos aspectos que chama a atenção é a mudança no perfil do produto, que passou a priorizar carne in natura em detrimento de miúdos e carne industrializada. A expectativa é que haja um contínuo crescimento de comércio com a Ásia, já que, apesar do aumento observado nos últimos 10 anos, o consumo de carne per capita no continente ainda é baixo em relação à média mundial. Na China, o consumo é de 3,5 kg de carne bovina por habitante, em contraste com os 45 kg de consumo per capita no Rio Grande do Sul. No entanto, da Luz ressalta que para aproveitar essas oportunidades, é importante que o Brasil tenha um papel mais ativo na política de aproximação desses mercados. "Temos que ter uma posição mais firme em diversas áreas."
Fonte: Diário do Comércio - Porto Alegre