Os preços da carne no varejo têm oscilado semana a semana, em um cenário de readequação da oferta por parte da indústria e queda no consumo, resultado dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
Para o ano, os preços não devem apresentar grandes saltos, principalmente diante da perspectiva de perda de renda, prevê o banco holandês Rabobank, especializado no setor de alimentos e agronegócio.
Em um horizonte de impactos reduzidos da covid-19 entre os produtores e queda nas cotações da ração nos próximos meses principalmente do milho, com a colheita da safrinha não é esperado um forte aumento de preços da carne nos supermercados.
O consumo estará bem limitado neste ano. O nível de desemprego está aumentando e a tendência é que a demanda doméstica acabe reduzida, pelo menor poder de compra da população, afirma Wagner Yanaguizawa, analista econômico do Rabobank Brasil.
Segundo o especialista, a maior parcela da produção de carnes no país é destinada ao mercado doméstico, embora o Brasil seja um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo. Neste sentido, a formação de preços é balizada, em maior escala, pelo consumo interno.
Desde o início do ano, os preços da carne já vinham em trajetória de queda, uma vez que o Ano Novo Chinês derruba o consumo global até meados de março e, consequentemente, influencia a cotação interna.
Com a pandemia do coronavírus, o movimento esperado de recuperação dos preços não aconteceu, exceto na carne bovina, que sofre hoje influência da alta da arroba do boi gordo.
Os preços do frango estão em queda desde o início do ano, impactados pela redução do consumo. No entanto, os cortes congelados têm mostrado mais sustentação do que os resfriados.
Um dos pontos de mudança no padrão de consumo na quarentena é a preferência do consumidor por cortes congelados, que possuem vida de prateleira maior. A frequência de idas ao supermercado tem diminuído, diz Yanaguizawa. Com isso, a sustentação nas cotações deve se manter em congelados.
A carne suína também segue em trajetória de retração, mesmo diante da disparada momentânea dos preços nos Estados Unidos, após o fechamento de unidades de produção por surto de coronavírus.
Em tempos de crise, historicamente o consumidor migra para proteínas mais baratas. Segundo o Rabobank, em alguns momentos dessa pandemia o consumo de ovos superou a oferta, levando a um aumento momentâneo dos preços.
A Katayama Alimentos, que fornece ovos para distribuidores e grandes redes varejistas, projeta um aumento de 40% da produção neste ano, para um bilhão de unidades. Segundo Gilson Katayama, diretor comercial do grupo, o negócio de ovos se beneficia muito em tempos de crise.
As pessoas estão comprando mais para comer em casa e, diante da queda da renda, a demanda por ovos aumentou, diz.
Reequilíbrio
Embora alguns frigoríficos tenham sido fechados no país devido ao risco de contaminação generalizada por covid-19, o Rabobank não vê, por ora, risco de desabastecimento de carne no mercado interno. Com a diminuição da demanda interna, os produtores estão desestimulados, uma vez que as margens estão reduzidas, explica Yanaguizawa.
Diante disso, a expectativa é que a indústria ajuste a oferta ao consumo, reequilibrando os preços daqui para frente.
Isso aconteceu no início de maio, quando foi registrado um ligeiro reajuste no varejo, devido a uma combinação de fatores: elevação do consumo pelo Dia das Mães e começo de mês, quando o recebimento dos salários irriga a economia.
Isso mostra também que os níveis de oferta e demanda já estão mais próximos do equilíbrio, com menor acúmulo de estoques, diz Yanaguizawa. Em algumas regiões, os grandes volumes exportados dos últimos meses também têm corroborado com esse cenário.
Food service
A demanda dos restaurantes, segmento conhecido como food service, recuou brutalmente desde o início da pandemia, ao contrário do varejo. De 1° de março até a primeira semana de maio, houve um aumento de 17% do consumo de carnes em supermercados e correlatos.
Por outro lado, a demanda no food service recuou 56% no período. De 03 a 05 maio, a retração chegou a 71% no segmento. Isso sinaliza que os produtores devem continuar direcionando boa parte da produção para o varejo.
Segundo Yanaguizawa, as lições das crises do passado estão surtindo efeito no planejamento do setor. Neste ano, não vimos grandes acúmulos de estoques nem do lado da indústria nem do varejo. As empresas estão tomando as medidas necessárias para evitar desequilíbrios.
Fonte: Exame