Arantes corta na própria carne

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Depois de fechar frigoríficos e suspender o abate de aves, o Grupo Arantes consegue um empréstimo bancário e retoma a produção num momento de grande desafio para o setor

 

Os irmãos aderbal Luiz Arantes Jr., 46 anos, e Danilo Arantes, 41 anos, se inspiraram na história de bem-sucedidos empresários rurais que conseguiram, em poucos anos, transformar negócios incipientes em potências nacionais. Em apenas três anos, eles ergueram um colosso composto por sete frigoríficos e duas grifes de destaque no segmento de embutidos: Hans e Eder, além da Frango Sertanejo. Esses ativos compõem o Grupo Arantes Alimentos, que fechou 2008 com receitas de R$ 1,6 bilhão. Só que a caminhada da dupla Aderbal-Danilo rumo ao topo foi interrompida de forma prematura no início deste ano, sob o peso de uma dívida de R$ 1,27 bilhão, contraída junto a 720 credores. O elevado passivo fez com que a dupla optasse pela recuperação judicial. Até meados de julho, os dois pretendem apresentar aos credores o plano de reestruturação que está sendo elaborado pela consultoria PriceWaterhouseCoopers. Agora, o grupo dá os primeiros sinais de que há uma perspectiva de recuperação. Graças a um aporte de R$ 20 milhões, feito por bancos, o grupo retomou, no início do mês, o abate de bois em dois frigoríficos que possui em Mato Grosso. O terceiro, situado no Maranhão, deverá ser reaberto em julho. As fábricas da Hans e da Eder, ambas em São Paulo, seguem operando normalmente. E a divisão de aves reduziu os abates de 200 mil unidades por dia para 115 mil unidades/dia. “A nova Arantes será menor, mas totalmente sustentável”, adianta Aderbal. A expectativa é fechar o exercício encerrado em maio de 2010 com um faturamento em torno de R$ 870 milhões.

 

Ele insiste em dizer que a companhia é viável. O mercado concorda em parte. “Do ponto de vista conceitual, eles agiram de forma correta. Agregaram ao portfólio marcas fortes no varejo e apostaram na diversificação”, opina o agrônomo Alcides Torres, dono da Scot Consultoria. “O problema foi a tentativa de dar um passo maior do que a perna”, completa. Para os analistas, a Arantes foi vítima de um estilo agressivo de gestão lastreada em empréstimos bancários. Com 60% da receita gerada por exportações, os irmãos Arantes tentaram se proteger de variações cambiais, entrando no modismo dos derivativos. Acabaram perdendo R$ 250 milhões no quarto trimestre de 2008, no auge da crise econômica global. “De um dia para o outro as encomendas foram canceladas e ficamos sem recursos para honrar os compromissos”, justifica Aderbal. Para sair dessa situação, a dupla optou por jogar duro com os bancos credores, cuja lista inclui Bradesco, Itaú- Unibanco e Santander Real. Primeiro os irmãos tentaram levar o processo de recuperação judicial para a comarca de Monte Verde, no norte de Mato Grosso, onde nem sequer existe um judiciário estruturado. Depois, ingressaram na Justiça cobrando R$ 120 milhões dos bancos a título de ressarcimento por operações malsucedidas. “Isso é coisa do passado”, assegura Aderbal, explicando que desistiu dos processos neste sentido.

 

Ele garante que, agora, seu objetivo é se acertar de forma amigável com todos os credores. Para isso, está disposto, inclusive, a trocar parte das dívidas por ações da companhia. “Temos pressa de equacionar o problema e por isso não descartamos abrir mão até mesmo do controle da empresa”, diz. O que pode ser dificultado em razão dos problemas vividos pelo setor (leia matéria à página 40). Isso porque, segundo Torres, da Scot Consultoria, o mercado está hostil para os donos de frigoríficos devido aos sucessivos calotes dados por empresas do setor.

 

“Para comprar matéria-prima, por exemplo, só pagando à vista”, avalia. A dupla Aderbal-Danilo sabe disso e não descarta recorrer ao rebanho da família, composto de 23 mil cabeças de gado, para suprir as necessidades imediatas. Mas do que nunca, o Grupo Arantes terá de cortar na própria carne.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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