R$ 3,5 bi para bancar as dívidas da Sadia

Leia em 5min 10s

A BRF - Brasil Foods, nova denominação da Perdigão, estima captar R$ 4,6 bilhões com a distribuição primária de 115.000.000 de ações ordinárias ao preço de R$ 40 por ação, sem considerar a emissão de lote suplementar de até 15% da oferta. Excluídas as comissões e as despesas da operação, a BRF prevê receber R$ 4,483 bilhões, dos quais R$ 3,521 bilhões ou 78,55% do total irão para pagamento de dívidas da Sadia.

 

Desse total, a maior parte, R$ 1,652 bilhão, será destinada à quitação de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC). Também deverão ser pagos R$ 983,02 milhões em Notas de Crédito à Exportação (NCE), R$ 387,49 milhões em Pré-Pagamento de Exportações (PPE) e R$ 368,59 milhões em Custeio. O restante dos R$ 3,521 bilhões vai para capital de giro, leasing e outras dívidas, inclusive junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 

Os outros R$ 961,61 milhões irão para o caixa da BRF sendo usados, segundo a empresa, para o equilíbrio da estrutura de capital consolidado. "Os recursos líquidos decorrentes da oferta global serão destinados à liquidação de dívidas da Sadia a qualquer momento, ainda que a associação não seja aprovada pelos órgãos competentes nos termos por nós pretendidos ", informou a empresa.

 

Em 31 de março, a dívida da Sadia com instituições financeiras era de R$ 8 bilhões, com vencimentos que variam de um a 132 meses e taxas de juros de 5% a 12,5% ao ano. Segundo a BRF, os recursos captados com a operação poderão ser transferidos para a Sadia por meio de adiantamento para futuro aumento de capital ou concessão de empréstimo, com ou sem emissão de títulos.

 

De acordo com a BRF, caso a associação com a Sadia não seja concretizada, não há outra finalidade especificada para a utilização dos recursos. "Se a associação não for consumada, poderemos, por exemplo, usar os recursos líquidos para adquirir ou investir em outro negócio ou linhas de produtos ou refinanciar dívidas", explicou a empresa no prospecto. A preço de R$ 40 por ação, a oferta pode alcançar R$ 5,290 bilhões com a colocação do lote suplementar, o que aumentará os recursos líquidos para R$ 5,164 bilhões.

 

Previ. Após a oferta, a Previ - maior acionista individual da companhia - poderá, caso não adquira novas ações, reduzir sua participação no capital social da BRF para 8,15%, ante fatia de 11,98%. A Petros passaria de 10,19% para 6,93%. As ações em livre circulação poderão aumentar de 62,71% para 74,64%, podendo chegar a 75,80% com o lote suplementar.

 

A BRF destinará 10% da oferta inicial ao varejo, cujo período de reserva será de 17 de julho a 20 de julho. A empresa também destinará 10% para oferta prioritária a investidores da Sadia residentes no Brasil, que têm até 14 de julho para fazer seus pedidos de reserva. A operação também será ofertada no exterior sob a forma de American Depositary Shares (ADS), sendo que cada ADS representará duas ações. O preço por ação será fixado em 21 de julho.

 

No prospecto preliminar, a BRF citou os riscos da operação, principalmente os que envolvem a associação com a Sadia, citando a alavancagem da empresa e disse que, se for incapaz de refinanciar parte significativa da dívida após a associação, estará sujeita ao riscos de um maior nível de endividamento. "A Sadia possui valor substancial em dívidas a vencer nos próximos anos, incluindo R$ 1,125 bilhão a vencer até 2010, R$ 938,7 milhões em 2011 e R$ 663,7 milhões em 2012", considerou a empresa.

 

Além disso, 59,8% da dívida da Sadia são em moeda estrangeira, o que pode aumentar a exposição da BRF ao risco de flutuações na taxa de câmbio. A BRF também informou que a Sadia tinha no final do ano passado R$ 780,8 milhões de capital circulante líquido negativo e garantias fora do balanço patrimonial no montante total de R$ 649,9 milhões. A BRF citou, ainda, as perdas da Sadia com derivativos, cujo valor das posições em aberto representavam perdas de US$ 69,7 milhões em 31 de maio deste ano.

 

"A atual crise financeira também poderá afetar negativamente os instrumentos financeiros derivativos da Sadia, ao enfraquecer a credibilidade e a capacidade de existência das instituições financeiras que atuam como contrapartes em suas operações com derivativos. O risco de inadimplemento da contraparte é atualmente alto, em vista da atual situação do mercado de capitais e da economia", afirmou a BRF em prospecto.

 

Com relação às estratégias, a BRF reafirmou a intenção de explorar oportunidades de crescimento a longo prazo, diversificando vendas e reduzindo custos. "Continuaremos buscando crescimento e consolidação de forma equilibrada, tanto entre os segmentos de atuação quanto na relação de mercado interno e mercado externo, e buscando também oportunidades de crescimento via processamento de produtos no exterior", afirmou a empresa.

 

Planos de expansão. A empresa citou itens que fazem parte dessa estratégia, como a expansão dos negócios por meio de investimento em capacidade de produção adicional; a diversificação das linhas de produtos - em especial de alimentos processados de valor agregado - e expansão da base de clientes, sobretudo nos mercados de exportação, com foco na Europa e Oriente Médio e com a possibilidade de processamento de produtos no exterior.

 

A BRF produz e vende produtos e derivados de aves, suínos, cortes de carne bovina, leite, produtos lácteos e alimentos processados. A empresa produz mais de 2,5 mil itens distribuídos em mais de 110 países. No Brasil, a empresa opera principalmente sob as marcas Perdigão, Chester, Elegê, Batavo, Becel (joint venture com a Univelever) e Turma da Mônica (licenciada). A empresa tem 25 unidades de processamento de carnes, 13 fábricas de rações de animais e 15 unidades de processamento de lácteos e sobremesas.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


Veja também

Um passo em falso na área das carnes

Parece temerário o rumo tomado pela Câmara dos Deputados ao aprovar, com forte apoio da "bancada ruralista"...

Veja mais
Pecuária do Pará assina acordo de conduta

Objetivo é terminar com embargo à carne do Estado, vetada por suspeitas envolvendo desmate ilegal   ...

Veja mais
Sadia e Perdigão assinam no Cade acordo de reversibilidade

Apesar de terem de manter estruturas independentes, acerto permite a reestruturação financeira da Sadia &...

Veja mais
Japonesa Nissui prestes a se associar à Netuno

A japonesa Nissui, que fatura mais de US$ 5 bilhões por ano com a exploração, industrializaç...

Veja mais
Mercado futuro de boi gordo encolhe para US$ 725 milhões

A indefinição no mercado de carnes derrubou o volume financeiro dos contratos futuros do boi gordo na BM&a...

Veja mais
JBS-Friboi contrata 3 mil no Mato Grosso

A JBS-Friboi, maior frigorífico da América Latina, confirmou que está incorporando cinco unidades d...

Veja mais
Friboi assume cinco unidades do Quatro Marcos

Plantas em Mato Grosso estavam desativadas desde que o Quatro Marcos pediu recuperação judicial   O...

Veja mais
Grupo JBS-Friboi arrenda cinco frigoríficos em Mato Grosso

Estimativa é que 3.000 empregos diretos serão criados e capacidade de abate cresça 25%   O g...

Veja mais
Setor da carne troca acusações sobre desmate

As denúncias do Ministério Público Federal no Pará contra empresas suspeitas de comercializa...

Veja mais