Os critérios socioambientais para novos financiamentos a frigoríficos, anunciados ontem pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), podem representar uma maior abertura para a carne bovina brasileira no mercado europeu. A avaliação é do diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Otávio Cançado, que considerou positivas as novas diretrizes do banco.
“Pela primeira vez sinto que é algo que pode funcionar. De uma única vez, essas medidas resolveram o problema de dois ministérios e podem ser a porta para a reentrada da carne brasileira na Europa”, disse o executivo. Ele lembra que desde que a União Europeia passou a cobrar a rastreabilidade do Brasil, o Ministério da Agricultura não conseguiu implementar o Sisbov (Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos) de forma efetiva. Além disso, mesmo com legislação e cobranças socioambientais, o Ministério do Meio Ambiente nunca conseguiu propor um plano de ação razoável, levando em conta as limitações e dificuldades da cadeia da carne bovina.
“É a primeira vez que vemos alguém falar que vai exigir e dizer que irá fazer o que estiver ao alcance para ajudar”, disse Cançado. Para os frigoríficos, outro ponto positivo das regras do BNDES são os prazos determinados pelo banco. A previsão é de que todos os animais abatidos deverão ter uma rastreabilidade mínima de seis meses a partir de janeiro de 2012. Além disso, a partir de 2016, todos os animais deverão ser rastreados do nascimento até o abate.
Hoje, a União Europeia exige o rastreamento de pelo menos 90 dias dos animais que são abatidos para atender a demanda do bloco. “O banco foi realista em relação aos prazos. Além disso, essas metas poderão ser revisadas, caso seja comprovado tecnicamente o que foi chamado de externalidade”, afirma Cançado. Essas “externalidades” são eventos que estão fora do controle dos frigoríficos, como redução acentuada do rebanho, estratégia de pecuaristas em não fazer a rastreabilidade, entre outros. Para Cançado, o fato de as novas exigências do BNDES para liberação de financiamentos não serem retroativas aos contratos já existentes não é um problema.
Veículo: Correio Braziliense