Em meio à crise que abate o setor de carnes, o Grupo Marfrig se beneficia da apreciação cambial do real frente ao dólar e registra a expressiva alta de 510% no lucro líquido no segundo trimestre de 2009, para R$ 405 milhões. "Se tirarmos o efeito da variação cambial, o lucro líquido poderia ficar entre R$ 70 milhões a R$ 80 milhões", disse Ricardo Florence, diretor de Planejamento e Relações com Investidores da companhia, ressaltando que trata-se apenas de uma estimativa.
Alavancado pelo câmbio, a posição de caixa da empresa fica maior que o endividamento de curto prazo que, por sua vez, será reduzido com a contratação de um financiamento de R$ 200 milhões com o Banco do Brasil, anunciado essa semana, e a captação de um montante de até US$ 60 milhões no Uruguai, que está em fase final. Com o financiamento do BB, o endividamento de curto prazo passa a ser de R$ 1,06 bilhão e a participação cai para 23%. A conclusão de captação de recursos no Uruguai deve ser finalizada neste trimestre. A estratégia da companhia é manter a política de escalonamento, substituindo a dívida de curto prazo para as de prazos longos.
Indústria de alimentos
Além do crescimento financeiro, por meio da diversificação de seus mercados de atuação, o Marfrig se consolida como indústria de alimentos e diminui sua dependência do segmento de carne bovina. A venda líquida de bovinos do Brasil, Argentina e Uruguai, da empresa, subiu de R$ 823,7 milhões para R$ 1,2 bilhão. No entanto, a participação da divisão nas vendas totais do grupo recuou de 67,7% para 42,7% nos últimos 12 meses.
O segmento de aves e industrializados aumentou sua fatia e representa hoje 13,7% nas vendas do Marfrig em receita. Na comparação anual, a evolução na comercialização foi de 122,3%. O destaque fica por conta do desempenho nas unidades da Europa. O abate de aves na região cresceu 4,5% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior. O ritmo nas vendas no período foi ainda maior, 10,1%.
Na linha de industrializados, o segmento de food service no Brasil também apresentou significativa expansão. No trimestre encerrado em junho, as vendas dessa divisão aumentaram 47% na comparação com o mesmo período de 2008. "No primeiro semestre do ano tivemos 70 novos produtos lançados e vamos seguir investindo na linha de industrializados", garantiu Florence.
No mercado externo, a participação dos alimentos industrializados deve aumentar ainda mais ao longo do ano já que no último mês de julho teve início a venda de carne bovina cozida e fatiada através da Divisão Europa (Moy Park) que dará continuidade às sinergias na região.
Perspectivas
Para James Cruden, diretor de Bovinos e Food Service da Marfrig Alimentos, o segmento de bovinos terá uma lenta recuperação. "Não vejo ainda a plena retomada das vendas externas da carne bovina, mas já há indícios de recuperação", avaliou. Os números de abate do frigorífico ilustram o cenário. Segundo Cruden, a companhia iniciou o ano com o abate de 130 mil animais em janeiro. Em junho esse número já havia se elevado para 135 mil. "Parte desse crescimento se deu ocupando espaços deixados por concorrentes no mercado interno", disse. O executivo comentou que o Marfrig, de 2007 para 2008, chegou a operar com apenas 40% de sua capacidade, mas que esse cenário se inverteu e a capacidade ociosa agora é que está próxima dos 40%. O preço médio de exportação, em dólares, também apresenta uma leve recuperação na comparação com o primeiro trimestre do ano.
Em seu último relatório, a Moody's Investors Service avalia que as ainda que as vantagens do Brasil e o suporte do governo para o setor ofereçam vantagens para a indústria de carnes, ainda há riscos significativos associados à liquidez. "As empresas neste setor devem continuar administrando seu capital de giro e seus investimentos (capex) com atenção para preservar e gerar um fluxo de caixa mais saudável," disseSoummo Mukherjee, VP-Senior Analyst da Moody's, "isso é necessário para manter estruturas de capital suficientes para absorver a comum volatilidade dos resultados, inerentes a este setor."
Veículo: DCI