Isenção de ICMS sobre o produto deve favorecer consumidor, segundo setor de supermercados
O preço da carne ao consumidor deve recuar 7% até o final da próxima semana. A projeção da Associação Paulista de Supermercados (Apas) leva em conta a decisão do governo estadual de isentar, a partir de terça-feira, a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incide na produção e na venda de carnes.
“A medida vai gerar ganhos para toda a cadeia produtiva. Os supermercados vão exigir que a indústria faça a sua parte e repasse a queda no preço do produto ao varejo”, afirma o vice-presidente da Apas, Martinho Paiva Moreira. Segundo ele, os preços da carne, que já estão em queda no ano, vão baixar mais 10%, em outubro, por conta do fim da entressafra no começo de setembro.
Demanda
No entanto, Alex dos Santos Lopes da Silva, analista da Scot Consultoria, acredita que uma eventual redução dos preços vai depender da procura pelo produto. “Afinal, o termômetro do varejo é o consumo”, afirma.
Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), vai além. Para ele, a isenção na cobrança do ICMS não afeta o varejo e por isso não há nada que justifique a queda nos preços ao consumidor final.
O governo estadual alega que a a desoneração tem como objetivo reduzir a burocracia para as empresas, favorecer os consumidores, além de desestimular a guerra fiscal entre os Estados.
Competição
Salazar, porém, avalia que a mudança no regime de tributação irá diminuir a competitividade da indústria de outros Estados, que respondem, atualmente, por cerca de 90% da carne comercializada em São Paulo. Na sua opinião, os varejistas terão preferência pela indústria local, que poderá oferecer os menores preços em razão do fim da cobrança do ICMS sobre a produção e venda de carne. “Desta forma, o comprador vai exigir um desconto dos frigoríficos que fizerem a opção de vender para o mercado paulista sob o argumento de que a carne precisa estar no mesmo valor praticado no Estado de São Paulo”, justifica Péricles Salazar.
Os frigoríficos paulistas, por sua vez, não serão prejudicados pela medida. “ São Paulo é o maior mercado consumidor do País e não vende carne para outras regiões. Os demais Estados é que têm estoque e precisam vender o excedente”, acrescenta o presidente da Abrafrigo.
No decreto, o governo estadual diz que a medida abrange a distribuição dos produtos comestíveis frescos, resfriados, congelados, salgados, secos ou temperados, resultantes do abate de aves, coelhos e lebres e animais dos rebanhos bovino, bufalino, caprino, ovino e suíno.
Pernil está 18,1% mais barato
O preço da carne suína caiu neste ano mais do que o da bovina, de acordo com o Índice de Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estudos Socieconômicos (Dieese). O pernil, por exemplo, acumulou até o mês de julho um recuo de 18,1%.Entre os bovinos, a maior queda é a da picanha. O produto está 11,2% mais barato em 2009.
Por trás dos baixos preços, está a crise financeira mundial que freou o consumo externo e afetou as exportações de carne brasileira para a Europa e a Ásia. “Isso aumentou a oferta no mercado interno e garantiu a queda nos preços. A desvalorização do dólar também contribuiu”, afirma Alex dos Santos Lopes da Silva, analista da Scot Consultoria.
Na contramão do demais, está o frango. O preço da asa subiu 6,7% nos sete primeiros meses do ano, enquanto o peito de frango teve alta de 5,94% no mesmo período. O analista, contudo, prevê uma reviravolta. “A expectativa de crescimento do consumo deste produto não foi atendida. A oferta foi maior do que a procura, o que deve puxar em breve os preços para baixo.”
Veículo: Jornal da Tarde - SP