Pânico cresce, derruba Bolsa e dispara o dólar

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O pânico que tomou conta dos investidores fez com que a Bolsa regredisse mais de um ano, e fechasse o pregão de ontem abaixo dos 46 mil pontos pela primeira vez desde 2 de abril do ano passado. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 6,74%, aos 45.908 pontos. Do começo do ano até ontem, o índice acumula desvalorização de 28,14%. Por outro lado, o dólar continua sua escalada, e fechou a R$ 1,868, com alta de 2,64%. Durante o dia, a moeda norte-americana chegou perto de bater o R$ 1,90, mas cedeu um pouco no fim da sessão.

 

A Rússia anunciou que vai injetar dinheiro para evitar quebras em seu sistema financeiro, o que pode ter provocado ainda mais cautela em relação aos mercados emergentes. Neste mês, a Bovespa registra, até o dia 12, uma saída de R$ 484,3 milhões. No acumulado do ano, os investidores internacionais tiraram R$ 17 bilhões da bolsa.

 

Em relação ao dólar, o Banco Central registrou superávit de US$ 4,329 bilhões no fluxo cambial do mês até o dia 12. No período, a moeda norte-americana subiu 9%, e o Banco Central deixou de comprar dólares no mercado.

 

Para alguns especialistas, o resultado de ontem foi reflexo da queda que não veio nos negócios do dia anterior. "O estresse do dia anterior foi repassado para os negócios de hoje [ontem]", justificou Igor Puertas de Freitas e Silva, do Banco Geração Futuro. Outros avaliam que as incertezas quanto ao futuro deixam os investidores apreensivos. "O mercado está mais preocupado com problemas em outras instituições. O caso da seguradora AIG foi solucionado, mas o Lehman Brothers, por exemplo, deve de divulgar um rombo de US$ 60 bilhões com as hipotecas. O mercado se pergunta quantas outras instituições não estarão passando pelo mesmo problema", explicou Fausto Gouveia, analista da Wintrade. Segundo o analista, suporte psicológico de 45 mil pontos do índice, já atingido, aponta para outro, o dos 42 mil pontos.

 

Alternativas

 

O mercado em queda pode ser utilizado como momento estratégico para os investidores diminuírem suas perdas fazendo operações de proteção, conhecidas como hedge, e até lucrar. Entre as alternativas disponíveis estão a venda de opções de ações e o aluguel dos papéis. Segundo Jamil Farah, diretor da TOV Corretora, desde que a crise financeira internacional se agravou, nos últimos meses, saltou para 25% a proporção de investidores da corretora que, preocupados com o movimento, optam por alternativas, com o lançamento de opções ou a realocação dos ativos. "Essa é uma proporção considerada grande. Antigamente, era muito difícil essa abertura por parte do próprio investidor. Com esse momento, renasce o papel do advisor, do conselheiro", explicou o executivo. Com o home broker lançado há dois meses completos ontem, a casa já conta com três mil clientes cadastrados. "O movimento do mercado é cíclico. Por isso, aconselhamos nossos clientes a não se desfazerem de suas posições", ponderou Farah.

 

Em palestra realizada ontem na Expo Money, em São Paulo, Jorge Guerra, do Oinvestidor.com, garantiu que lançar opções de venda no mercado é uma forma de, ao menos, minimizar as perdas em momentos de queda. "Apenas com a venda das opções, o investidor consegue, em média, um prêmio de 3% a 3,5% por mês", informou, adicionando que o mercado conta com cerca de 20 mil negócios diários. "Existe muita liquidez. A pessoa vende a opção quando acha que vai haver uma desvalorização da ação. Quando a cotação da ação cai, a da opção cai mais ainda. Então, ela compra essa opção e destrava o seu portfólio de ações", completou. "Para ganhar na Bolsa, a pessoa não precisa ter muito dinheiro. Precisa ter estratégia", concluiu o especialista.

 

Gerente de Marketing do Banifinvest, Bruno di Giorgio informou que, nos últimos meses, a prática do aluguel de ações cresceu a uma média de 20% no home broker da corretora. "Nosso clientes também utilizam em momentos de volatilidade as ordens de stop [programação que vende o papel quando ele atinge certa cotação". "Por nossos investidores serem focados no longo prazo, com aplicações em fundos de investimentos, vimos nos últimos tempos uma redução em seus aportes. Eles estão aguardando o mercado melhorar para aumentar suas aplicações", adicionou Silva, do Geração Futuro. A instituição administra cerca de R$ 6 bilhões em ativos.

 

As injeções bilionárias de dólares do Tesouro americano no mercado financeiro para evitar novas quebras continuam, mas a cada anúncio de aporte aumenta o pânico dos investidores. No Brasil, a Bolsa de Valores despencou 6,74% ontem, caindo para seu menor nível desde abril. O dólar continuou sua escalada e fechou em alta de 2,64%, a R$ 1,868.

 

A crise chegou ontem ao banco central americano (o Fed), que, de tanto colocar recursos em companhias em dificuldades, teve de, também ele, pedir dinheiro ao Tesouro - que prometeu ajudar com o lançamento de US$ 40 bilhões em bônus para dar oxigênio ao Fed. Nem mesmo esta notícia, somada à decisão do dia anterior de dar empréstimo-ponte de US$ 85 bilhões à seguradora AIG, acalmou o mercado. O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, recuou 4,05%. O Morgan Stanley anunciou que estava à procura de parceiros e à noite o Wachovia e o chinês Citic se disseram disposto a fechar um acordo.

 

No Reino Unido, o Lloyds comprou o rival HBOS e vai criar uma instituição de US$ 50 bilhões.

 

Na Rússia, as duas principais bolsas ficaram fechadas durante boa parte do dia de ontem por caírem abaixo do nível mínimo.

 

Tanta turbulência provocou uma corrida dos investidores para títulos do Tesouro americano (as T-notes), que, com a disparada da demanda, puderam ofertar ontem sua menor taxa de remuneração em 54 anos.

 

No Brasil, o ambiente é menos conturbado. O presidente da Federação dos Bancos, Fábio Barbosa, reconheceu que a crise vai provocar encurtamento dos prazos dos empréstimos, mas garantiu que o sistema financeiro brasileiro é sólido.

 

Na mesma linha, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu: "Se sentirmos que a escassez de recursos vai se prolongar, vamos estimular o crédito para investimento". A maior âncora contra a turbulência será o BNDES, que recebeu aporte de R$ 15 bilhões do Tesouro Nacional para fazer empréstimos.
 


Veículo: DCI


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