Mesmo com recuo da inflação juros básicos devem ter alta

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A inflação medida tanto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), quanto pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) desaceleraram no mês de março. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA apresentou variação de 0,52% e ficou abaixo da taxa de 0,78% registrada no mês de fevereiro. Levando em conta, no entanto, o resultado nos últimos 12 meses, o índice situou-se em 5,17%, acima do cento da meta que é de 4,5% para este ano.

 

Segundo o Instituto, a redução no IPCA pode ser explicada pela ausência do efeito sazonal do grupo Educação, que concentrou alta de 4,53% em fevereiro. Por outro lado, os preços dos alimentos continuaram subindo e resultaram em 3,69% neste primeiro trimestre do ano. Com a significativa taxa de 1,55% em março, bem acima dos 0,96% de fevereiro, o grupo Alimentação e Bebidas ficou com a fatia de 0,35 ponto percentual do índice e foi responsável por 67% do resultado.

 

Já a inflação medida pelo IGP-DI avançou 0,63% em março, após subir 1,09% em fevereiro, conforme divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A taxa mensal do IGP-DI ficou abaixo das estimativas de analistas do mercado financeiro, que esperavam uma elevação entre 0,70% e 0,90%, com mediana das expectativas em 0,77%.

 

O presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Frank Storfer, afirma que a provável alta da taxa básica de juros (Selic), que deve acontecer na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) neste mês, não deve resolver a elevação dos preços dos alimentos. "O problema é que, neste primeiro momento, como o emprego e renda estão estáveis, estes influenciam em itens preponderantes à inflação como serviços, fica difícil controlar a inflação", explica. Storfer acredita que, mesmo assim, a inflação não deve ultrapassar os 5%.

 

O especialista comenta também que, apesar da desaceleração do IPCA em março, "é inevitável que o Copom decida elevar a taxa Selic na reunião de abril".

 

Da mesma forma, pensa o professor de finanças do Insper, Alexandre Chaia. "As desacelerações dos índices já estavam no radar do Banco Central quando divulgou a ata da última reunião".

 

Ele comenta que a alteração da Selic pode apresentar reflexos somente em 2011, e por isso, os preços dos alimentos, assim como a pressão do consumo deste ano, continuarão fortes à inflação. "Mas a inflação deve ficar próxima 4,5% chegando a 5%", acrescenta Chaia.

 

Controlada

 

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, "a inflação está sob controle no País". Ele considerou que a variação de preços do primeiro trimestre refletiu "choque de oferta". Mantega também descartou que haja inflação de demanda. "A inflação que tivemos até agora não é de demanda, na minha opinião, é de choque de oferta tecnicamente", resumiu, durante entrevista na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), após apresentar palestra a cerca de 200 empresários e dirigentes.

 

Ele explicou que as chuvas reduziram a oferta de alimentos e pressionaram seus preços no trimestre. Eles, por sua vez, puxaram a inflação. Mantega considerou que este efeito já está sendo atenuado, citando o IPCA de março como exemplo.

 

O ministro acrescentou que, do lado da oferta de mercadorias, há disponibilidade suficiente e a indústria tem capacidade de responder à demanda. Onde pode haver um pouco de elevação de preços é em Serviços, que não podem ser importados, disse ele.

 

Segundo o analista da Tendências Consultoria, Gian Barbosa, o resultado do IPCA de março mostrou-se um pouco acima da projeção da empresa (0,45%), mas dentro das expectativas de mercado (entre 0,45% e 0,57%). "A inflação elevada no indicador reflete a pressão do grupo alimentação por conta do desempenho pressionado dos leites e derivados e de alguns alimentos in natura. Sem a influência do grupo, a inflação ficaria em 0,22%. Assim como tem ocorrido com os combustíveis, a maior parte desta pressão dos alimentos in natura deve ser devolvida, propiciando grande pressão baixista sobre o indicador", entende. "A nosso ver, não há fundamentos para um patamar tão elevado destes preços. A normalização da oferta com o fim dos problemas climáticos deve permitir que tais preços exerçam expressiva pressão baixista nos próximos meses. Por esta razão, não alteramos a nossa projeção para o IPCA do ano [4,5%]", complementa o analista.
                                                      


Veículo: DCI


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