Hillary elogia carga tributária brasileira

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Secretária de Estado dos EUA diz que impostos altos levaram Brasil ao boom econômico e a [br]reduzir a desigualdade

 

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, elogiou ontem a alta carga tributária brasileira e deu a entender que o regime tributário do Brasil é um exemplo a ser seguido pelo resto da América Latina. No País, a carga tributária está em cerca de 38% do PIB e é alvo de críticas.

 

"Se você olhar para a arrecadação de impostos em relação ao PIB no Brasil, é uma das mais altas no mundo - então não é por acaso o Brasil estar vivendo um boom de crescimento e reduzindo a desigualdade", disse Hillary em discurso na Conferência das Américas, diante de ministros das relações exteriores e empresários da região. Segundo a secretária de Estado, "essa é uma política adotada há várias décadas (no Brasil), com grande comprometimento, e que está funcionando". Hillary disse ter conversado com vários chefes de Estado e de governo no hemisfério sobre a necessidade de aumentar as receitas dos governos - "uma outra maneira de dizer necessidade de aumentar impostos", ela esclareceu. "Para muitos outros países da região, a relação entre arrecadação de impostos e PIB é uma das mais baixas do mundo, isso é insustentável."

 

Empresários presentes acharam as observações da secretária de Estado inusitadas. "Estou perplexo. Como é que alguém elogia a alta carga de impostos do Brasil?", questionou um empresário brasileiro.

 

Declaração inesperada. Até o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, sentiu-se compelido a comentar as declarações "inesperadas" de Hillary. "A secretária Hillary Clinton afirmou que uma das vantagens do Brasil é ter uma alta arrecadação de impostos - isso não é necessariamente visto dessa maneira pelo público brasileiro", disse Patriota. "Muitos no Brasil acreditam ser necessário simplificar os impostos e esse será um desafio para o próximo presidente", disse.

 

O secretário-assistente de Estado para a região, Arturo Valenzuela, seguiu Hillary em sua receita para a região. "As sociedades da região precisam contribuir com seus próprios recursos, além de mais impostos, com um fortalecimento das instituições", disse ele. Nos EUA, onde o déficit de orçamento se aproxima de 11% do PIB, o governo não está discutindo nenhum aumento de impostos e o assunto é tabu.

 

Christopher Garman, diretor da área de América Latina do Eurasia Group, explica que, de fato, a maioria das economias da América Latina tem dificuldades para aumentar sua arrecadação de impostos, e muitos têm cargas tributárias de 10% a 15% do PIB, consideradas muito baixas para o governo conseguir cumprir funções básicas: "Nesse sentido, o Brasil não tem esse problema, porque consegue fazer uma arrecadação eficiente."

 

Empresários brasileiros reagem com irritação

 

No Brasil, empresários da indústria e do comércio rebateram que Hillary Clinton desconhece o sistema tributário local. "Achar que carga tributária alta é bom me parece uma visão fora da realidade", diz o economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, para quem o sistema brasileiro "é absolutamente irracional".

 

O diretor da Fiesp, Paulo Francini, tem "receio quando uma liderança internacional emite opinião sobre questões de outro país com natureza complexa, pois o risco de ser feita sem grau adequado de informação é grande".

 

Em sua opinião, o que deve ser analisado é quanto a sociedade é beneficiada. "Em diversos países, principalmente europeus, a carga é até superior à brasileira, mas a contrapartida são serviços de excelência em educação, saúde, transporte e segurança", diz. "Não podemos classificar esses serviços no Brasil como de excelência, ao contrário, são muito ruins." A Câmara Americana de Comércio (Amcham) não comentou o assunto. / CLEIDE SILVA

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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