Para garantir as compras no Natal, comerciantes já preparam programa que prevê o parcelamento de dívidas antigas em até 18 meses, e sem juros
Já de olho no Natal, que é a melhor data do ano para o setor, o comércio prepara uma campanha de refinanciamento para o consumidor com dívidas atrasadas. "Será uma campanha de recuperação maciça de crédito, uma prévia para aquecer as vendas de Natal", disse o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior. "Outubro é o momento apropriado para limpar o nome no SPC."
Será como um "Refis dos trabalhadores", diz, referindo-se ao programa do governo de refinanciamento de impostos para as empresas.
Parcelamento. As propostas, ainda estão em discussão com as entidades estaduais porque, conforme explicou Pellizzaro, cada região tem suas características específicas, que precisam ser atendidas. Entre as sugestões debatidas estão a não cobrança de juros da dívida, que passaria a ser atualizada apenas por meio de correção monetária, e o reparcelamento do débito em até 18 meses.
O refinanciamento dos consumidores já foi aplicado isoladamente em alguns Estados no passado, e, como deu certo, a CNDL quer implementar o projeto em todo o País. "Foi um sucesso, sem dúvida, com 100% de aprovação."
O que o comércio quer é que o cidadão tenha "ficha limpa" para iniciar uma nova fase de compras, no momento mais aquecido do ano. Até porque os dados de inadimplência estão em trajetória de queda desde o início de 2010. Para se ter uma ideia, o número de registros no SPC Brasil caiu 3,93% em abril ante o mesmo mês do ano passado. Em relação a março, o recuo foi de 7,87%.
Tradição. "Tradicionalmente, a inadimplência cresce nos primeiros meses do ano porque o consumidor, já endividado com as compras natalinas, tem o orçamento ainda mais comprometido por um acúmulo de despesas, como impostos e matrículas escolares", comentou Pellizzaro Junior. Mas nem isso ocorreu em 2010, já que no acumulado do ano até abril, a queda de registros está em 3,18% ante o mesmo quadrimestre de 2009. As mulheres são responsáveis pela maior taxa de inadimplência (57,59%).
Em relação à faixa etária, 27,43% dos que não honraram seus pagamentos estão entre 30 e 39 anos. "O brasileiro é bom pagador. Não paga quando não tem renda", afirmou.
Cancelamentos. Ele também comemorou o aumento de 4,92% de cancelamentos de registros no SPC Brasil em abril ante abril do ano passado.
Esse cancelamento mostra o porcentual de pessoas que pagaram suas contas em atraso.
No mês passado, a queda da inadimplência foi de 7,87% em comparação a abril de 2009. Apesar de haver o registro de queda de 3,61% em abril nos cancelamentos na comparação com março, no ano até o mês passado, a taxa está positiva em 6,68%.
Para o presidente da CNDL, o comportamento negativo de um mês para o outro reflete apenas a sazonalidade do período.
Varejo deve crescer mais de 10% este ano
Só em abril, o número de consultas ao SPC subiu 8,67% na comparação com abril de 2009
O comércio não tem do que reclamar: as vendas estão em alta e a inadimplência está caindo. E com a perspectiva de aumento do emprego, as estimativas são ainda mais positivas para o fim do ano. As vendas do Dia das Mães já surpreenderam os lojistas e esse é só um sinal do que ainda está por vir. Isso porque o segundo semestre, historicamente, tem mostrado resultados melhores do que os da primeira metade do ano. Além disso, este ano tem um ingrediente que costuma movimentar o comércio: a Copa do Mundo. Por tudo isso, a expectativa é que as vendas cresçam mais de 10% em 2010 em relação ao ano passado. "O quadro está muito bom e tende a melhorar", resumiu o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior.
Consultas. Só em abril, o número de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apresentou alta de 8,67% na comparação com o mesmo mês do ano passado. O levantamento funciona como um termômetro das vendas e é utilizado para compras a prazo e pagamentos em cheque, em 800 mil pontos de venda no País. Em relação a março, houve queda de 8,95%, mas isso não preocupou Pellizzaro que atribuiu a redução a fatores sazonais.
Março é tradicionalmente um mês de negócios mais aquecidos por conta das liquidações de queima de estoques para o lançamento da nova coleção. Além disso, houve o feriado da Semana Santa em abril, o que interfere no número de dias úteis e nos gastos com viagens.
Tanto é que nos quatro primeiros meses do ano, o saldo das consultas ainda é positivo em 7,75%, comparando-se ao quadrimestre de 2009. A pujança dos números é atribuída pelo presidente da CNDL ao aquecimento do mercado de trabalho. Ele lembrou que, só no mês de março o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, registrou a criação de 266 mil vagas com carteira assinada. "O brasileiro vem tendo confiança de que não vai perder o emprego, então toma crédito", disse. / C.F.
Veículo: O Estado de São Paulo
Veículo: O Estado de São Paulo