Investimento externo na indústria mostra desaceleração no 1º tri

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O volume de investimentos estrangeiros destinados a atividades produtivas decepcionou um pouco no primeiro trimestre de 2010, indicando ser improvável que o país receba um fluxo líquido de US$ 45 bilhões neste ano, como projeta o Banco Central. Os ingressos minguaram especialmente na indústria. De janeiro a março, o setor obteve US$ 1,6 bilhão para participação no capital, um pouco mais da metade dos US$ 3,4 bilhões do mesmo período do ano passado. O segmento de serviços ficou com quase US$ 3 bilhões, alta de 14,6% sobre os primeiros três meses de 2009.

 

O cenário externo mais adverso do que se esperava na virada do ano, com a crise em países europeus como Grécia, Portugal e Espanha, é um dos pontos que ajudam a explicar o desempenho frustrante dos investimentos diretos até o momento, segundo analistas (ver ao lado). Há quem acredite que as filiais no Brasil estão reinvestindo uma parcela maior dos lucros no país, como o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros. Isso diminui a necessidade de trazer dinheiro de fora para financiar projetos.
 
 

No primeiro trimestre, o fluxo líquido de investimentos diretos totalizou US$ 5,656 bilhões. Para que os US$ 45 bilhões projetados pelo BC se concretizem, é necessário que o volume mensal entre abril e dezembro seja de US$ 4,4 bilhões. "Essa estimativa parece muito otimista", diz o economista Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados (Edap), que prevê um saldo líquido de US$ 28 bilhões em 2010, acima dos US$ 25,9 bilhões do ano passado. O volume atual não é desprezível, mas não confirma a avalanche em que se apostava no começo do ano.

 

Para o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, o investimento para a indústria tem sido menos intenso porque o processo decisório no setor é mais lento do que no de serviços. "A definição de um projeto na indústria é mais demorada, requer mais sinais do mercado." Ele acredita ainda que há alguma defasagem entre o que se passa na economia e a reação sobre o fluxo de investimentos diretos. Do mesmo modo que o agravamento da crise em setembro de 2008 demorou a diminuir a entrada desses recursos em 2009, leva-se um tempo para que a recuperação econômica se reflita numa retomada mais forte das inversões produtivas, diz Almeida. Ele também considera a crise europeia como um dos motivos para o fluxo menor que o esperado até o momento.

 

No caso dos empréstimos intercompanhias (realizados entre a matriz no exterior e a filial no Brasil), o fluxo de investimentos para a indústria neste ano não apresentou a queda observada no caso da participação no capital: os ingressos ficaram em US$ 2,47 bilhões no primeiro trimestre, quase o mesmo patamar dos US$ 2,49 bilhões de igual período de 2009.

 

Barros acredita que mais filiais de indústrias estrangeiras têm reinvestido no país uma parcela maior de seus ganhos. Segundo ele, as remessas de lucros e dividendos tiveram desaceleração no primeiro trimestre, sugerindo que mais recursos foram aplicados por aqui. As empresas continuariam a investir no Brasil, mas com dinheiro gerado no próprio país. Para ele, também é possível que, em alguma medida, parte dos investimentos diretos esteja sendo "canibalizada" por financiamentos do BNDES. "Em momentos de dificuldades de algumas matrizes, que não estão com a bola cheia, algumas empresas aproveitam a oferta de crédito feita pelo BNDES."

 

Barros estima hoje um fluxo líquido de US$ 30 bilhões de investimentos diretos em 2010. Até o fim de fevereiro, projetava US$ 45 bilhões. Mesmo com essa previsão mais modesta, ele diz que o interesse pelo Brasil segue alto, por conta das perspectivas positivas para os próximos anos. "Seria um erro ver nos números do primeiro trimestre desinteresse pelo país."

 

Para Pereira, a percepção crescente de que o problema na Europa é grave e poderá se estender por vários anos impede uma alta mais forte do investimento direto. Ele diz que há de fato uma expectativa positiva para o Brasil em 2010 e também 2011, mas ainda existem muitas incertezas para prazos mais longos. Como o país não está descolado do resto do mundo, a incógnita quanto aos rumos da economia global nos próximos anos afeta investimentos para períodos mais dilatados, ainda que hoje o Brasil tenha uma economia mais forte, acredita Pereira.

 

Como ocorreu no ano passado, o país atrai mais recursos para setores voltados ao mercado interno - caso dos serviços e segmentos da indústria como alimentos - e os ligados a commodities, como derivados de petróleo e metalurgia.

 

Veículo: Valor Econômico


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