Com câmbio favorável e forte demanda interna, compras do exterior superam ritmo de exportações e derrubam saldo comercial
Mesmo com recorde de exportações para o mês, resultado da balança comercial ficou 65,3% abaixo do de abril de 2009
O dólar barato e o ritmo veloz de crescimento da demanda dos consumidores brasileiros impulsionaram a alta das importações no primeiro quadrimestre de 2010. De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, as compras de mercadorias no exterior até o mês passado superaram em 41,8% (pela média diária) o desempenho no mesmo período de 2009.
Considerando apenas os meses de abril, essa diferença chegou a 60,8%, com o volume de importações subindo de US$ 8,629 bilhões em 2009 para US$ 13,878 bilhões neste ano, recorde histórico para o mês.
A necessidade de atender o consumo acelerado das famílias e ao mesmo tempo concorrer com mercadorias importadas a preços mais competitivos têm levado o setor produtivo nacional a ampliar as encomendas de matérias-primas e bens intermediários importados, que também ficam mais baratos graças ao câmbio.
"Os dados dos últimos meses mostram que indústria de bens finais está retomando o crescimento, mas com conteúdo importado muito elevado. Paradoxalmente, esse movimento preocupa os setores nacionais que fabricam esses bens intermediários, que acabam preteridos", avalia Daniela Prates, pesquisadora do Centro de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp.
Desde janeiro, o aumento das compras de matérias-primas, peças e componentes do exterior já chega a 46,6%, na comparação com o primeiro quadrimestre de 2009. Já as importações de bens acabados, prontos para serem vendidos nas lojas, subiram 45,5%.
"A indústria está importando mais para concorrer justamente com produtos importados. E, para fugir dessa armadilha, o Brasil precisa de uma taxa de câmbio mais competitiva", completa Daniela.
Para o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, apesar da base de comparação deprimida -uma vez que a crise financeira estancou boa parte do fluxo de comércio mundial no início do ano passado-, o crescimento das compras em 2010 é considerável.
"Ainda assim, essas importações são importantes para conter as pressões inflacionárias", disse Barral.
Ele, porém, ressalta: "Mas esse aumento grande tem forte impacto para a redução do saldo comercial".
Mesmo com os melhores resultados da história para abril tanto para exportações (US$ 15,161 bilhões) como para importações, a diferença entre as compras e as vendas ao exterior fechou o mês com superavit de apenas US$ 1,283 bilhão, 65,3% abaixo do alcançado no mesmo mês de 2009.
"O produto brasileiro não é competitivo no exterior por causa da burocracia, dos tributos e do câmbio. Os exportadores perdem mercados e escala na produção", disse Barral.
Para tentar contornar essa distorção, o governo promete há mais de cinco meses o lançamento de um pacote de ajuda à exportação pelas vias tributárias e de financiamento.
Veículo: Folha de São Paulo