Juro deve pesar no bolso até o final do ano

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Aumentos da Selic em 2010 vão encarecer de forma considerável o crédito ao consumidor e a empresas, dizem especialistas

 

Pesquisar as condições oferecidas pelos bancos é a solução para conseguir empréstimos mais baratos, dizem os especialistas

 

A elevação de 0,75 ponto percentual da taxa Selic, que serve de parâmetro para todas as operações de crédito no país, não deve ter grande impacto sobre os juros pagos pelo consumidor e pelas empresas, no momento. Mas essa é apenas a primeira de uma série de altas que se estenderia ao menos até dezembro para terminar 2010 em três pontos percentuais, pelas projeções dos analistas- e, quando chegar o final do ano, tal aumento realmente pesará no bolso do brasileiro.

 

Se as expectativas se confirmarem e a Selic subir até 11,75% nos próximos meses, os juros mensais para os consumidores ficariam, em média, em 7% -maior nível desde novembro de 2009-, ante os atuais 6,77% ao mês, segundo cálculos feitos pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) a pedido da Folha. Os juros cobrados no cheque especial, por exemplo, passariam de 7,34% ao mês para 7,57%, e os do crédito para aquisição de veículos saltariam de 2,33% mensais para 2,56%. Dessa forma, quem comprar, no fim de 2010, um carro de R$ 25 mil parcelado em 60 vezes, vai desembolsar aproximadamente R$ 2.528 a mais.

 

Para as empresas, os financiamentos também encareceriam bastante. Um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil pagaria R$ 5.131 de juros nessas circunstâncias, contra os R$ 4.763 de agora.

 

O objetivo do BC ao subir a Selic é justamente desestimular o consumo e esfriar um pouco a economia, que julga agora superaquecida, para impedir o crescimento da inflação. "Não existe muito efeito sobre as operações de crédito pequenas, como a compra de uma geladeira, cuja prestação tem alta de apenas R$ 2 com essa elevação de juros. No caso de uma aquisição maior, entretanto, o consumidor pensa duas vezes se os valores avançam", diz Miguel Ribeiro de Oliveira, responsável pela área de pesquisa da Anefac. As empresas, por sua vez, deixam de investir e de contratar novos funcionários, o que segura a renda da população.

 

Os bancos levam de uma semana a 15 dias para repassar os aumentos da Selic aos seus produtos, e demora cerca de seis meses até que os efeitos da decisão de elevar os juros sejam completamente sentidos. Mas um efeito psicológico faz com que os resultados da utilização desse instrumento de política monetária sejam acelerados, explica Haroldo Vale Mota, professor da Fundação Dom Cabral. "As pessoas estão mais informadas. Sabendo que as condições para compras pioraram de forma geral, preferem deixar de gastar", afirma.

 

Contra os juros, pesquisa

 

Depois de alcançarem picos durante o momento de maior pânico com a crise econômica internacional, as taxas de juros começaram a cair no início de 2009 e, em janeiro deste ano, tornaram a subir com a expectativa de aumento da Selic. No mês passado, entretanto, recuaram. E essa queda se deve, na avaliação dos especialistas, a um componente novo no mercado de crédito brasileiro: a concorrência entre as instituições bancárias.

 

Embora o setor seja bastante concentrado, alguns bancos, os públicos destacadamente, tornaram-se um pouco mais ousados na concessão de financiamentos nos últimos meses a fim de recuperar os lucros perdidos com as turbulências de 2008/2009 por terem deixado de emprestar. Por isso, têm reduzido os seus juros e devem continuar fazendo-o, forçando outros a serem comedidos na hora de elevar as suas taxas.

 

"Há uma verdadeira briga pelo cliente. Então, mesmo com esse aumento considerável durante 2010, o consumidor e as empresas podem conseguir crédito mais barato se pesquisarem entre as instituições. Só precisam evitar os financiamentos com prazo muito longo, que acabam ficando pesados, e não devem comprometer uma parcela muito grande do seu orçamento com dívidas", ensina Oliveira.

 

Veículo: Folha de São Paulo


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