BB e Bradesco criam cartão ''brasileiro''

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Empresa que administrará a nova bandeira, batizada de Elo, terá patrimônio estimado entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões

 

De olho na inserção de cada vez mais brasileiros no sistema financeiro, Banco do Brasil (BB) e Bradesco criaram uma bandeira de cartões de crédito e débito 100% nacional. A nova empresa, batizada de Elo, nasce com patrimônio estimado entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões e vai concorrer com as tradicionais Visa, Mastercard e American Express.

 

"Uma bandeira nacional acaba sendo um projeto de afirmação do Brasil neste momento em que precisamos nos adaptar ao perfil do novo consumidor brasileiro", afirmou ao Estado o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, horas antes de participar da entrevista coletiva em que o negócio foi detalhado.

 

Segundo o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, a expectativa é de que os primeiros cartões cheguem ao mercado em 6 meses. O objetivo dos dois bancos é que, em cinco anos, a Elo tenha 15% do mercado. No fim do ano passado, havia 565 milhões de cartões de crédito e débito no País, que movimentaram R$ 444 bilhões.

 

A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) é de que, neste ano, haja crescimento de 11%. BB e Bradesco têm uma fatia de mercado de aproximadamente 20% cada.

 

Ritmo forte. Trabuco e o vice-presidente do BB, Paulo Rogério Caffarelli, destacaram que o ritmo de expansão do mercado de cartões neste e nos próximos anos no Brasil será inferior apenas ao do crédito imobiliário.

 

No início, a Elo vai priorizar a expansão entre os não correntistas do BB e do Bradesco. Isso significa que vai investir em parcerias com empresas de outros segmentos da economia, sobretudo o varejo. A ideia, portanto, é ter como foco principal os cartões chamados de private label. Apesar disso, os executivos não quiseram citar nomes de companhias com as quais possa haver parcerias no futuro.

 

Tanto o BB quanto o Bradesco deixaram claro que a parceria envolverá apenas uma parte de seus negócios de cartões. Outra parte continuará funcionando como hoje. Isso significa que, para os clientes atuais, independentemente da bandeira (Visa, Mastercard ou American Express), nada mudará.

 

Controle. A Elo terá controle compartilhado entre os dois bancos, embora no papel o Bradesco tenha participação de 50,01% no capital e o BB, de 49,99%. "É apenas por uma questão jurídica", afirmou Caffarelli. Essa empresa será uma holding.

 

Embaixo da holding, haverá, a princípio, três divisões. A primeira delas, resumida como Negócios Bancários (Banco Elo), terá como foco os acordos com companhias para a emissão dos cartões private label.

 

A segunda, chamada de Administração e Serviços, cuidará da promoção da marca e abrigará a CBSS (antiga Visa Vale, empresa na qual BB e Bradesco também são sócios, com 45% cada um).

 

Por fim, haverá a divisão Participações, que terá sob o guarda-chuva a Cielo (ex-Visanet, que também tem BB e Bradesco como sócios principais, com participação de quase 29% cada um).

 

BB e Bradesco são, respectivamente, o primeiro e terceiro maiores bancos do País. Juntos, têm ativos totais que superam R$ 1,2 trilhão.

 

PARA LEMBRAR

 

Exclusividade acaba em julho

 

No dia 1.º de julho, acabará a exclusividade da Cielo (ex-Visanet) para processar as compras com cartões de crédito da bandeira Visa. Em 2009, a Redecard também deixou de ter exclusividade para processar os cartões da Mastercard. As medidas foram tomadas após pressão do governo e do Congresso para aumentar a concorrência no setor.

 

Criação de bandeira local era ''inevitável'', dizem especialistas

 

Apesar do crescimento médio de 20% ao ano na última década, setor ainda tem forte potencial de expansão

 

A criação de uma bandeira nacional de cartões de crédito, como a anunciada ontem por Bradesco e Banco do Brasil, era algo inevitável, avaliam especialistas do mercado de cartões de crédito. A razão é que o Brasil tem o mercado de cartões que mais cresce no mundo, a taxas anuais de mais de 20% há mais de 10 anos.

 

O Brasil tem ainda o maior potencial de expansão entre os países emergentes, por conta do crescimento do setor para o interior do País e para novos segmentos, como saúde e educação. O próprio governo já havia anunciado a intenção de estimular a criação de uma bandeira local de cartões.

 

Outro argumento em defesa de uma bandeira nacional é que os royalties gerados pelo mercado ficam aqui no Brasil. No caso das gigantes Visa e MasterCard, que são bandeiras americanas, as taxas cobradas por cada transação vão para a matriz dessas empresas nos Estados Unidos. O Brasil movimenta mais de R$ 500 bilhões por ano em transações com cartões de crédito, débito e loja.

 

Incentivo. O consultor Boanerges Ramos Freire, sócio da Boanerges & Cia., consultoria especializada em varejo financeiro, destaca que o próprio governo quer incentivar a criação de bandeiras nacionais, para competir com as duas maiores do mundo (exatamente a Visa e a MasterCard). Freire lembra que a Caixa Econômica Federal já chegou a anunciar intenção de criar uma bandeira. A TecBan, que administra a rede de caixas eletrônicos Banco24Horas, também é apontada como uma participante desse mercado, já que tem a bandeira de débito Cheque Eletrônico e pode reativar a marca.

 

Na avaliação de Reginaldo Zero, presidente da Fidelity, uma das maiores processadoras de cartões do mundo, o Brasil realmente tem espaço para uma bandeira nacional, seja de cartão de débito ou de crédito. O executivo participou ontem da Cards 2010, evento que reúne os especialistas do setor. "Não é um mercado para principiantes", disse Zero, destacando que a entrada no mundo dos cartões exige investimento e estratégia bem definida.

 

No final do ano passado, o Banco Central divulgou documento estabelecendo diretrizes para o setor de cartões. Uma delas é a criação de uma bandeira nacional. A outra é o compartilhamento de máquinas de leituras (chamadas de POS) e o fim da exclusividade no credenciamento de estabelecimentos comerciais.

 

Expansão

 

R$ 553 bi
devem ser movimentados este ano pelo mercado de cartões no Brasil, um crescimento de 22% sobre 2009, segundo o consultor Boanerges Ramos Freire

 

R$ 313 bi
desse total devem ser movimentados somente pelos cartões de crédito

 

605 milhões
de cartões é o número que deve ser atingido no País este ano

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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