Governo quer tabelar tarifas do cartão de crédito

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Ministério da Justiça e BC decidiram ontem regulamentar as taxas cobradas; abusos na telefonia celular também estão na mira

 

O governo vai regulamentar as tarifas cobradas nas operações com cartão de crédito no País. A ideia é adotar o mesmo modelo de tabelamento de preços dos serviços oferecidos aos correntistas dos bancos. A medida visa impedir abusos praticados pelas operadoras de cartão, campeãs em reclamações nos órgãos de defesa do consumidor.

 

A decisão de tabelar os serviços e manter uma fiscalização rígida no setor de cartões foi acertada ontem pelo Ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

 

Caberá ao BC propor ao Conselho Monetário Nacional (CMN) as mudanças na forma de cobrança das tarifas. O Ministério da Justiça ficará responsável pela elaboração de um projeto de lei que irá definir regras mais gerais para os emissores de cartões de crédito.

 

Segundo Barreto, o ministério já tem um esboço da proposta que será encaminhada ao Congresso. O projeto contém pontos duros como a proibição da cobrança da chamada taxa de inatividade e o veto às tarifas por adesão e por uso do programa de milhas. Além disso, a proposta vai proibir o envio de cartões sem solicitação formal do consumidor.

 

Estudo feito pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça identificou diversos abusos por parte dos bancos que oferecem cartões a seus clientes.

 

Uma das instituições analisadas, por exemplo, cobrava 31 tarifas dos correntistas e 41 dos usuários de cartão. "Há problemas que passam por cobranças que a gente não entende por que são cobradas", disse Barreto.

 

O Ministério da Justiça já vinha há tempos tentando convencer o Banco Central a participar do processo de regulação do setor de cartões.

 

Apesar de reconhecer que o BC poderia ter alguns impedimentos legais para definir regras gerais para esse setor, Barreto destacou que a experiência do Banco Central como fiscalizador do sistema financeiro poderia ser aplicada nas operações com cartões.

 

"O BC regulamentou muito bem a questão dos bancos, então, achamos que se tivéssemos nos cartões de crédito uma regulamentação parecida, em termos do que pode ser cobrado e o que não pode, teríamos um mercado mais justo, mais equilibrado", disse o ministro.

 

Pré-pago na mira. Além da ação contra a indústria de cartões, o Ministério da Justiça também está trabalhando para coibir os abusos no segmento de telefonia celular.

 

O governo quer acabar com o cancelamento de créditos não utilizados por clientes dos serviços de pré-pago.

 

Na avaliação de Barreto, a medida adotada pelas operadoras pode ser considerada uma "apropriação indevida de receita" por parte das empresas. "O mercado é gigantesco, as empresas ganham milhões e não precisam se apropriar dos créditos dos pré-pagos", disse o ministro.

 

As operadoras de telefonia já foram convidadas para discutir o assunto com o governo. "Se essa conversa não prosperar, já temos o projeto de lei prontinho para enviar ao Congresso proibindo a apropriação do crédito", afirmou o ministro. "Ou o serviço é pré-pago mesmo, e eu tenho direito de usar mes créditos no futuro, ou vamos partir para outro modelo."

 

Pior do mundo. Segundo Ricardo Morishita, diretor do DPDC, o cancelamento de créditos não utilizados na telefonia celular está transformado o serviço pré-pago em pós-pago. "Só que é o pior pós-pago do mundo porque tem a maior tarifa", disse. A tarifa cobrada por minuto no sistema pré-pago é mais cara.

 

"A falta de informação é brutal. Existe tecnologia hoje para o consumidor enxergar no visor quanto que lhe resta de saldo ou qual seria a validade dele e nem isso é garantido." Para o ministro da Justiça, é preciso deixar claro que o crédito é válido enquanto persistir a relação entre o cliente e a operadora.

 

PROIBIÇÃO A CAMINHO

 

Cartões de crédito
1. Remessa de cartão sem solicitação formal do consumidor
2. Cobrança por não uso do cartão (taxa de inatividade)
3. Pagamento de seguro-desemprego ao adquirir cartão de instituição financeira
4. Bi-tarifação
5. Taxa de adesão ao programa de milhas
6. Taxa de resgate do programa de milhas.

 

Pré-pago
1. Cancelamento de créditos não utilizados pelo cliente

 

Primeiras regras podem ser aprovadas em maio pelo CMN

 

As primeiras medidas para a regulamentação das tarifas de cartões de crédito deverão ser aprovadas já na reunião de maio do Conselho Monetário Nacional (CMN), segundo avalia o Ministério da Fazenda. Essas primeiras medidas, classificadas de "pontuais", visam principalmente dar mais transparência para o consumidor em relação ao custo das tarifas dos cartões, com uma padronização que permita comparação.

 

Na reunião de abril do CMN, marcada para amanhã, será apresentado o relatório final sobre a indústria dos cartões setor, preparado em conjunto pelo Banco Central e pelos ministérios da Fazenda e Justiça.

 

Transparência. De acordo com a secretária-adjunta de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Priscilla Santana, a expectativa é que, já na reunião de maio do CMN, seja possível aprovar algumas das medidas relacionadas à maior transparência nas relações entre os consumidores e as empresas de cartões, que não necessitam de mudança de lei.

 

O governo também vai enviar um projeto de lei garantindo ao CMN e ao Banco Central poderes para regulamentar a indústria de cartões."Temos dois conjuntos de ações. As medidas pontuais para dar mais transparência e o projeto de lei", explicou a secretária.

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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