Fala de Meirelles eleva previsão de juro

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Antes dividido entre alta de 0,50 ponto ou de 0,75 ponto, mercado agora aposta numa elevação mais forte, que deixaria a taxa Selic em 9,5% ao ano

 

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado modificou suas apostas, concentrando-as numa elevação mais forte da taxa básica de juros (Selic). Antes divididos entre uma alta de 0,50 ponto ou 0,75 ponto, na segunda-feira, 26, os operadores convergiram para a elevação maior, o que levaria a taxa para 9,50% ao ano.

 

Alguns até arriscavam que o aumento poderá chegar a 1 ponto porcentual, o que ajudaria a poupar o Banco Central (BC) de elevar a taxa no período eleitoral. A mudança na expectativa foi acompanhada pela elevação dos juros no mercado futuro.

 

Sexta-feira, os contratos futuros negociados na BM&F apontavam probabilidade de 60% para uma elevação de 0,75 ponto e 40% para alta de 0,50 ponto. Na segunda-feira, essa proporção mudou para 80% e 20%, respectivamente.

 

A movimentação foi provocada por declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Suas palavras agitaram os negócios desde cedo. "A mensagem que eu daria aos players (agentes) é de que não tentem ler nas entrelinhas o que o BC disse nas atas ou no Relatório de Inflação (e tentem encontrar) um sinal dado por um membro ou por outro. Não há sinais", disse ele em entrevista à agência Dow Jones.

 

Meirelles explicou que os textos do BC, como o Relatório de Inflação e as atas do Copom, não dão "nenhum sinal sobre se há um número versus outro". Em outra entrevista, à Reuters, ele passou mais um recado. "O BC vai adotar medidas fortes para garantir que a inflação atinja a meta no horizonte relevante."

 

O tom é bem diferente do ouvido na semana passada. A mudança de discurso de Meirelles foi percebida após conversa reservada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira. O encontro, que não estava na agenda do Palácio do Planalto, ocorreu antes da viagem do presidente do BC aos EUA.

 

Para alguns analistas, Lula pode ter dado o "sinal verde" para Meirelles agir com força e segurar a inflação. O presidente tem dito nos bastidores que quer entregar o cargo com a inflação "nos trilhos" ao sucessor.

 

Diante das afirmações, começaram a ser ouvidas avaliações de alguns analistas de que uma alta do juro mais forte concentrada nas próximas reuniões também teria como efeito a derrubada das projeções de inflação, o que diminuiria a necessidade de aumentos expressivos da Selic perto das eleições.

 

"O BC está avisando que o comportamento mudou e não está mais disposto a ficar atrás do mercado, atrasado", diz um economista de banco em São Paulo que pede anonimato. Essa mesma leitura foi ouvida em boa parte das instituições financeiras.

 

Focus

 

Na pesquisa semanal realizada pelo BC, o mercado aumentou a previsão para o nível da Selic no fim do ano de 11,50% para 11,75%, o que sinaliza aposta em uma subida de 3 pontos até dezembro. A pesquisa também teve a 14.ª elevação consecutiva das previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2010, que passou de 5,32% para 5,41%. A meta é de 4,50%.

COLABOROU LEANDRO MODÉ

 

Inflação será maior este ano, diz Mantega

 

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a inflação tem aumentado nos últimos meses e "fatalmente" será maior este ano do que no ano passado. Segundo ele, essa inflação é causada por fatores temporários, por choques de oferta - como o da alta do petróleo e outras matérias-primas - e que os preços tendem a se acomodar mais nos próximos meses.

 

Mantega deu entrevista após falar, ontem, a uma plateia de cerca de 300 investidores em Nova York, Segundo ele, a inflação no Brasil deve ficar ao redor de 5,3% este ano, 4,8% em 2011 e 4,5% nos três anos seguintes. "A tendência é que a inflação volte a um patamar razoável nos próximos 12 meses." Segundo ele, o Brasil pode crescer 5,5% sem pressionar a inflação.

 

"De qualquer maneira, o Brasil não vai permitir que a inflação volte, e estaremos tomando as medidas necessárias para que ela continue sob controle", acrescentou. De acordo com Mantega, a parte do governo está sendo feita. "Estamos reduzindo todos os estímulos fiscais implementados durante a crise", afirmou.

 

O ministro disse ainda que, ao contrário de outros países, nos quais o déficit nominal tem crescido, no Brasil a tendência é de que continue diminuindo e "tende a zero". Ele disse que o governo vai continuar mantendo sua política fiscal sólida.

 

Mantega disse ainda não acredita em "previsões exageradas" para a inflação este ano ou mesmo para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Ele se referiu às projeções do banco Morgan Stanley, que revisou estimativa para o crescimento do PIB este ano de 5,8% para 6,8%, na segunda revisão deste ano.

 

Red hot. Para a inflação, o banco elevou a projeção de 5% para 5,8%, o que forçaria o Banco Central a subir a Selic em 4 pontos porcentuais de 2010 a 2011. De acordo com o Morgan Stanley, o Brasil está "red hot", ou seja, com a economia bem aquecida.

 

"Não acredito em projeções exageradas de inflação de 5,8%", disse. "Até porque algumas previsões que foram feitas no passado sempre deram certo, não é?", ironizou, sem se referir diretamente ao Morgan Stanley, que chegou a prever queda do PIB de 4,5% para o ano de 2009.

 

A projeção do Ministério da Fazenda é de que o crescimento do PIB este ano ficará ao redor de 5,5% e a inflação, em 5,3% este ano e 4,8% em 2011. Mantega disse que o Brasil conseguiu sair fortalecido da crise e foi beneficiado pelo desempenho das empresas estatais, mas isso não significa que exista um processo de estatização da economia.

 

"Nem mesmo na crise o Brasil perdeu dinheiro com as estatais. Aliás, o setor público nos ajudou a sair da crise", disse Mantega. "Realmente o papel do Estado durante a crise foi mais forte, mas não deem ouvidos aos que falam de estatização da economia. Isso é argumento de ano eleitoral", disse o ministro durante o 2010 Brazil Summit, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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