Alta de 12,3% em fevereiro ante igual mês de 2009 reforça a expectativa de aumento da taxa Selic na reunião do Copom no fim de abril
As vendas do comércio varejista surpreenderam em fevereiro e retornaram ao ritmo de crescimento pré-crise, confirmando o cenário de forte aquecimento da demanda doméstica. Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve aumento de 1,6% em relação a janeiro, a segunda alta consecutiva ante o mês anterior. Para economistas, os dados reforçam a expectativa de elevação da taxa básica de juros (Selic) neste mês.
Na comparação com fevereiro de 2009, as vendas subiram 12,3%, na maior variação ante igual mês de ano anterior apurada desde julho de 2008, antes do início dos efeitos da turbulência internacional sobre a economia brasileira. Analistas econômicos esperavam, em média, crescimento de 0,65% nas vendas em fevereiro ante janeiro.
O técnico da Coordenação de Comércio e Serviços do IBGE, Reinaldo Pereira, avalia que o aquecimento da economia está levando a um crescimento mais consistente do varejo, que acumulou expansão de 11,3% no primeiro bimestre. "Os resultados refletem o aquecimento da economia, mas também uma base de comparação deprimida em fevereiro de 2009", disse.
Ele lembrou que, mesmo com a crise de 2009, o varejo continuou com aumento nas vendas, ainda que em ritmo menor do que em 2008. Agora, segundo ele, "a crise parece ter sido mesmo deixada para trás pelo setor".
Para analistas, a perspectiva é de continuidade de expansão das vendas do varejo. Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria, acredita que "nos próximos meses as vendas no varejo devem manter a atual trajetória de aceleração".
Ele explicou que as principais condicionantes da demanda interna, que são a confiança do consumidor, o crédito e a massa salarial, devem evoluir e mantém projeção de aumento acumulado de 8,3% para o setor este ano.
Segundo Andrade, os dados "robustos de fevereiro refletem a melhora continuada dos indicadores de mercado de trabalho e das condições de crédito às pessoas físicas" e sugerem que um novo ciclo de alta da Selic terá início na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), nos dias 27 e 28.
Antecipação. O estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani, também acredita que o resultado da pesquisa de comércio é mais um ingrediente importante para as intensas discussões dos analistas do mercado sobre o tamanho do ajuste que o BC tende a fazer na taxa básica de juros.
Apesar de concordar que os dados vieram acima do esperado, ele acredita que retratam "mais uma antecipação do que uma aceleração de consumo". Por isso, mantém a estimativa de elevação de meio ponto para a Selic, ainda que a quantidade de consultorias e bancos projetando alta de 0,75 ponto tende a crescer.
É o caso da economista Luiza Rodrigues, do Grupo Santander Brasil, que também considera que o resultado do varejo em fevereiro torna mais provável um aumento na Selic, possivelmente de 0,75 ponto. Ela observou que o crescimento das vendas do comércio varejista foi impulsionado especialmente pelo segmento supermercadista.
As vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que têm maior peso na pesquisa mensal de comércio do IBGE, subiram 3% em fevereiro, ante janeiro, na maior expansão ante mês anterior desde setembro de 2007, segundo destacou Pereira. / COLABOROU FLÁVIO LEONEL
Veículo: O Estado de São Paulo