BC eleva a taxa básica de juros a 9,5% e assusta a produção

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Conforme previa parte dos especialistas, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) a 0,75 ponto percentual, para 9,5%, a maior taxa real de juros do mundo. É a primeira vez em nove meses que o Copom altera a taxa de juros. Desde 23 de julho do ano passado, a taxa de juros vinha sendo mantida em 8,75% ao ano, após sucessivas  quedas anteriores, devido à crise financeira.

 

Na opinião do professor de economia da Business School São Paulo (BSP), Pedro Raffy Vartanian, a  elevação de “apenas” 0,50 ponto percentual “era considerada remota”. “O BC terá um desafio de controlar a inflação de 2010, que combinará pressões de oferta [recuperação dos preços de commodities] e de demanda [decorrente do aumento da renda, recuperação do crédito e forte crescimento econômico].”

 

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, criticou fortemente a decisão do Comitê. “O Copom erra de novo ao insistir no remédio tradicional de subir os juros cada vez que a taxa de crescimento começa a acelerar. Vai na contramão do que o mundo inteiro tem feito”, disse.

 

Para a Federação paulista de Indústrias (Fiesp), a competência e a autonomia do BC  correm o risco de ser colocadas em dúvida, pois, atendem a  interesses de poucos em detrimento de muitos. “Não havia necessidade de subir a taxa de juros, pois existe capacidade instalada na indústria para atender à demanda sem que aconteça pressão sobre os preços”, ressaltou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

 

Segundo o presidente da Abdib, Paulo Godoy, a decisão do Comitê de aumentar a taxa Selic é uma contradição em comparação ao cenário mundial. “O caso brasileiro mostra um paradoxo. Enquanto alguns países importantes da Europa passam por uma onda de descrédito e outras nações desenvolvidas lutam para encontrar instrumentos que tragam estabilidade e crescimento econômico, o Brasil, que vive uma fase de expansão da economia, decide adotar medidas de contenção dessa expansão com aumento dos juros como forma de conter o crescimento e assim controlar a inflação”, disse.

 

“O País precisa equilibrar a retomada do consumo doméstico com o aumento de investimentos produtivos. A política monetária conservadora tende a ser um forte obstáculo a este objetivo, além de encarecer o crédito, que permitiu ao mercado interno passar pela turbulência internacional sem grandes percalços”, analisou o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), Abram Szajman.

 

“A decisão superestima a alta da inflação, que permanece dentro da meta, e pode ter efeitos negativos mais permanentes sobre  a  produção”,  alertou  o  presidente  da  Confederação  Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. “A elevação dos juros não surtirá efeito na inflação,  porque  os  aumentos dos  preços dos alimentos se devem a fatores externos e a indústria não contribui para as pressões inflacionárias.”

 

Por meio de nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), entende que o controle da inflação é fundamental para o processo de desenvolvimento do País. Porém, “a política econômica atual caracteriza-se pelo peso excessivo dado à taxa de juros básica na manutenção da inflação baixa”. “Para o Sistema Firjan, é fundamental maior alinhamento das políticas fiscal e monetária, o que reduzirá os custos da produção e do emprego.”

 

Já para o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos(Febraban), Rubens Sardenberg, como a decisão do Copom já era esperada pelo mercado e se refletia nas curvas de juros futuros, o BC reafirma seu compromisso com estabilidade de preços numa perspectiva de longo prazo. “A decisão parece adequada para assegurar que a trajetória da inflação volte a convergir para o centro da meta, de 4,50%, fixado pelo governo”, comenta.

 

Para as próximas reuniões são esperados aumentos entre 0,75 e 0,25 pontos percentuais. O próximo encontro do Copom será nos dias 8 e 9 de junho.

 

Juro futuro

 

Com aposta da elevação da Selic em 0,75 ponto percentual, o mercado de juros elevou os prêmios nos contratos futuros de depósito interfinanceiro (DI) de curto prazo e alívio nos vencimentos longos, antes mesmo da divulgação da decisão do Copom.

 

Ao término da negociação normal na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o volume de contratos negociados era forte, liderado pelo vencimento de DI de junho de 2010.  Com 1.268.445 contratos negociados, este vencimento projetava taxa de 9,285% ao ano, de 9,24% no ajuste de ontem. O DI com vencimento em julho de 2010 (604.010 contratos negociados) avançava a 9,563% ao ano, de 9,50% de terça-feira. O DI de janeiro de 2011 (393.665 contratos negociados) previa taxa de 10,91% ao ano, ante 10,85% e a projeção do DI com vencimento em janeiro de 2012 (139.420 contratos negociados) subia de 12,19% ao ano para 12,21%.

 

Veículo: DCI

 


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