Aposta em alta do juro encarece crédito

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Expectativa de elevação da taxa Selic pelo Banco Central provocou uma virada na tendência de queda dos juros para pessoas físicas


 
Antes mesmo de o Banco Central elevar os juros na quarta-feira, consumidores e empresas já enfrentavam aumento de taxas nos empréstimos bancários. Dados divulgados ontem mostram que o crédito para pessoas físicas e jurídicas ficou mais caro nas primeiras semanas do mês, apenas com a expectativa de alta da taxa básica de juros, a Selic. Nos próximos meses, o custo dos financiamentos deve se manter em alta.

 

Assim, foi interrompida uma trajetória de queda que levou os juros para as pessoas físicas a bater recorde de baixa em março. No mês passado, a taxa estava em 41% ao ano, a menor já registrada na série do Banco Central, iniciada em 1994. Em abril, porém, o custo anual já havia subido para 42,2%.

 

Empresas. Nos financiamentos para empresas, o aumento foi de 26,3% para 26,7% anuais. Na média, a taxa dos financiamentos subiu de 34,2% no fim de março - o menor nível desde dezembro de 1997 - para 35% ao ano em 15 de abril.

 

Apesar do movimento e da perspectiva de novas altas da taxa Selic, o chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, diz que ainda não é possível dizer que os juros continuarão a subir.

 

"É preciso esperar mais dados para afirmar que há mudança de tendência." Ele afirmou que o encarecimento do crédito no início de abril é reflexo do movimento do mercado de juros futuros, segmento que acompanha as previsões para a Selic.

 

Mas há outro fator que explica a alta dos juros. Nos primeiros 15 dias de abril, instituições financeiras aumentaram a margem cobrada nos empréstimos, o chamado spread bancário.

 

Esse movimento tem sido mais relevante: na quinzena, o juro médio subiu 0,8 ponto porcentual, sendo 0,6 ponto pelo aumento do spread e 0,2 ponto pelo maior custo de captação.

 

Calote menor. Normalmente, essa margem cobrada pelos bancos aumenta quando há piora da inadimplência. O calote, porém, tem diminuído: em março, a parcela de empréstimos com atraso superior a 90 dias recuou de 5,3% para 5,2%, o nível mais baixo em 12 meses.

 

"A alta do spread chama a atenção porque não há aumento da inadimplência. Isso pode indicar que bancos estão pessimistas quanto à capacidade futura de pagamento dos clientes nesse novo período de aumento do juro", diz o professor do Insper, Ricardo José de Almeida.

 

Almeida alerta para a hipótese de que bancos decidiram aumentar os spreads para fazer reserva com o objetivo de cobrir eventual prejuízo com calotes. Isso poderia acontecer, segundo ele, porque juros maiores fazem com que endividados passem a rolar dívidas em operações mais caras.

 

Um exemplo é o consumidor que usa eventualmente o crédito rotativo do cartão de crédito para pagar em dia o financiamento da casa. Com a taxa do cartão é maior, a troca eleva o juro pago mensalmente, o que pode gerar uma bola de neve e o consequente descontrole do orçamento.

 

"Como estamos em um período de alta do juro, é preciso ter cautela porque o consumidor pode ter de pagar mais para continuar rolando suas dívidas", diz o professor de finanças. Para ele, é ainda mais importante que o consumidor evite operações caras como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial em períodos de aperto monetário.

 

Para os economistas Alexandre Andrade e Mariana Oliveira, da consultoria Tendências, o spread deve subir este ano, por causa de alta de juros pelo BC.

 

PARA ENTENDER

 

1.O que é taxa de captação? É o custo que os bancos têm para captar os recursos que serão emprestados para os seus clientes. É, normalmente, a taxa paga em operações como a remuneração dos Certificados de Depósito Bancário (CDB).

 

2.O que é spread bancário?

É a margem cobrada pelos bancos nos empréstimos realizada pelos seus clientes, que é a diferença entre a taxa de captação e o juro ao cliente. Além do lucro, estão os impostos e a reserva para cobrir prejuízos por calote.

 

Um dos efeitos pode ser menor prazo dos financiamentos

 

Cenário: Paula Pacheco - O Estado de S.Paulo

 

O efeito da alta da taxa básica de juros (Selic), como decidiu na última quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom), poderá não ter o impacto imaginado na rotina das empresas e dos consumidores que dependem de empréstimos. Mas isso apenas no que diz respeito à taxa cobrada dos clientes.

 

A avaliação é do ex-diretor do Banco Central e chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. Segundo o economista, só será possível saber o que vem por aí na próxima semana, na divulgação da ata da última reunião do Copom.

 

"Se a ata do Copom der algum sinal de que o aumento da Selic será sucessivo, para um cenário de longo prazo, isso sim poderá influenciar no comportamento dos juros de mercado", explica.

 

No entanto, é possível imaginar pelos mais recentes acontecimentos que os juros cobrados pelos bancos não sofram uma forte pressão da alta da Selic.

 

O que pode acontecer, na opinião de Freitas, é uma redução do prazo de financiamento, que aumentou sucessivamente nos últimos tempos a medida que o governo vinha derrubando os juros.

 

"Como os bancos praticam taxas altas, de imediato eles não precisam reduzi-las. Por ora eles não devem fazer nada nas taxas cobradas, apenas podem surfar em porcentuais que já estão mais altos", diz.

 

No caso dos financiamentos para veículos, os contratos hoje chegam a 72 meses. Os prazos também têm sido alongados no empréstimo pessoal pré-aprovado.

 

Os financiamentos chegam a quatro anos. O Santander, por exemplo, está oferecendo aos clientes interessados no Crédito Direto ao Consumidor, o CDC, o prazo de 48 meses.

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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