Queda de insumos neutraliza alta do dólar

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O dólar voltou a subir com força nos últimos dias, mas a trajetória da moeda não deve ter impacto relevante sobre a inflação. Segundo analistas, o ponto é que a alta da divisa americana ocorre simultaneamente à queda dos preços das commodities. Nesse quadro, o recuo das cotações de insumos e matérias-primas tende a neutralizar o avanço do dólar em relação ao real. Além disso, a expectativa dominante é de que o câmbio deverá oscilar mais daqui para frente, mas não se espera uma desvalorização significativa ao longo do ano.

 

A economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores Associados, não pensa em alterar as suas projeções de inflação em função da alta recente da moeda americana. "O dólar sobe por um lado, mas as commodities caem do outro." Basiliki destaca que, convertido em reais, o índice CRB Spot (composto por 18 commodities metálicas e agrícolas) tem ficado relativamente estável nos últimos dias, "até mostrando uma pequena queda na ponta".

 

A analista de inflação do Itaú Unibanco, Laura Haralyi, vai na mesma linha, ressaltando que o que importa para os preços são as cotações das commodities em reais. Como Basiliki, Laura diz que a recente desvalorização do câmbio não deve fazê-la mudar as suas projeções para a inflação. Para ela, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai encerrar o ano em 5,5%, acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%. Esse IPCA mais alto se deve basicamente à pressão exercida pelos preços de alimentos, de bens industrializados e dos serviços (como aluguel, cabeleireiro e conserto de automóveis).

 

O economista Bernardo Wjuniski, da Tendencias Consultoria , destaca que o movimento atual do câmbio se deve a uma piora no cenário externo, que tem como outro de seus efeitos a queda dos preços de commodities. A aversão ao risco e as incertezas quanto ao crescimento global jogam o dólar para cima no mercado internacional e derrubam as cotações dos insumos e matérias-primas. Segundo ele, desta vez não deverá se repetir o roteiro que vitimou o Brasil algumas vezes no passado, quando fatores domésticos provocavam a depreciação do câmbio e o forte aquecimento mundial fazia as commodities subirem. Era o pior dos mundos em termos inflacionários, pois o dólar subia ao mesmo tempo em que as commodities avançavam.

 

Wjuniski deve revisar para cima a sua projeção para o IPCA neste ano de 4,9% para a casa de 5,5%, por conta da força da demanda doméstica, e não da alta do dólar. A consultoria, que esperava um crescimento de 6% neste ano, agora aposta em 6,6%, em decorrência do desempenho robusto da economia no primeiro trimestre.

 

Os três analistas também não acreditam que o dólar mudará significativamente de patamar nos próximos meses. Para Wjuniski, as incertezas quanto à economia europeia anteciparam uma volatilidade ao câmbio que ele esperava fosse ocorrer apenas mais perto das eleições, e que pode levar o dólar para R$ 1,90 ou R$ 1,95 em algum momento. "Mas não acredito que o câmbio vá se estabilizar nesse nível. A tendência é que ele feche o ano em R$ 1,82, quando estiver mais claro o cenário para a economia global e o vencedor da eleição presidencial indicar que não haverá mudanças estruturais na política econômica."

 

Basiliki também não vê desvalorização expressiva do câmbio daqui para frente. Na verdade, a MCM até reduziu em abril a sua projeção para o câmbio no fim do ano, de R$ 2 para R$ 1,80, por acreditar que os fluxos de capitais para o Brasil continuarão bastante expressivos - entre outros motivos, porque os juros por aqui estão em alta, enquanto as taxas lá fora devem permanecer muito baixas. Segundo ela, o câmbio mais desvalorizado pode influenciar alguns preços de componentes eletrônicos no atacado, mas para isso é necessário que as cotações fiquem depreciadas por mais tempo.

 

Basiliki prevê para 2010 um IPCA de 5,6% e Índices Gerais de Preços (IGPs) de 9,2%, embutindo, nesse caso, uma alta de 70% a 80% no minério de ferro no segundo trimestre. Como o produto será reajustado trimestralmente a partir deste ano, fica a incógnita do que vai ocorrer no resto do ano. A expectativa hoje é de que possa haver nova alta, mas não se pode descartar um recuo nos preços, se houver uma desaceleração global.
 

 

Veículo: Valor Econômico
 


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