Conjuntura: Resultado de abril, a ser divulgado amanhã, deve mostrar queda da produção em relação a março
Depois do forte crescimento dos três primeiros meses do ano, a produção industrial de abril, a ser divulgada amanhã, deve mostrar recuo em relação a março, confirmando a desaceleração da economia no segundo trimestre. Indicadores como a fabricação de automóveis, o fluxo de veículos pesados e as vendas de papelão ondulado caíram em abril na comparação com o mês anterior, levando os analistas a projetar quedas da indústria que variam de 0,3% a 1,8%, feito o ajuste sazonal. O provável resultado negativo, porém, não compromete as perspectivas positivas para a produção industrial e o Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.
O Santander estima para abril contração de 1,5% da indústria sobre o mês anterior, mas mantém a projeção de alta de 13,6% para o ano. Depois da expansão acelerada no primeiro trimestre - em especial em março, quando subiu 2,8% sobre fevereiro -, um recuo do produto industrial era esperado. Em relatório, a economista Luiza Rodrigues, do Santander, observa que, mesmo se confirmada a queda de 1,5% sobre o mês anterior, haverá alta significativa ante abril de 2009, de 15,9% (em março, a expansão foi ainda mais forte, de 19,7% nessa base de comparação).
Em abril, a produção de veículos recuou 5,8% em relação ao mês anterior, segundo o ajuste sazonal da LCA Consultores. A questão é que a indústria automobilística funcionou a todo vapor em março, último mês de vigência da alíquota reduzida do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros flex. Com isso, formaram-se estoques elevados, que levaram a uma fabricação menor no mês seguinte.
"A contração estimada para a indústria em abril é, em grande parte, resultado do impacto da retração na produção de veículos no mês", diz o economista-chefe do Safra Banco de Investimento, Cristiano Oliveira, que espera um recuo de 1,8%. Segundo ele, também pesa o fato de que abril teve 20 dias úteis, três a menos em relação a março.
O economista Fernando Rocha, da JGP Gestão de Recursos, ressalta que, além da produção de automóveis, outros indicadores importantes "vieram fracos", como o fluxo de veículos pesados e as vendas de papelão ondulado. Ele estima recuo da indústria de 1% em relação a março, considerando possível nova queda em maio, com base no recuo do licenciamento de veículos na primeira quinzena do mês e nas informações de retração nas vendas de eletrodomésticos.
A desaceleração no segundo trimestre é esperada pela maior parte dos analistas, mesmo pelos que projetam um crescimento do PIB, em 2010, de 7% ou mais. As vendas no varejo também devem perder fôlego, depois de terem crescido muito de janeiro a março, em parte por causa da antecipação de consumo provocada pelo IPI reduzido para bens duráveis.
Há estimativas, como a do Itaú Unibanco, de que o PIB do primeiro trimestre cresceu 3% sobre o trimestre anterior, o que equivale a mais de 12% em termos anualizados. Para o PIB fechar 2010 em 7,5%, como projeta o banco, o crescimento trimestral terá que cair para a casa de 1%. Além da antecipação do consumo, a alta dos juros e a retirada dos estímulos fiscais tendem a segurar a atividade, que pode ser prejudicada em alguma medida pela crise na Europa. Mas o mercado de trabalho aquecido e a recuperação do investimento jogam a favor da continuidade de um ritmo forte da economia.
Veículo: Valor Econômico