Crédito cresce em ritmo mais forte que a economia

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O volume de recursos de crédito avançou 17,6% nos últimos 12 meses encerrados em abril, para R$ 1,468 trilhão. Os dados são do relatório de Operações de Crédito no Sistema Financeiro divulgado pelo Banco Central (BC) ontem, em Brasília. E mesmo com a aceleração da economia no primeiro trimestre, a relação entre crédito e PIB voltou a subir, e passou de 45%, relação que se mantinha desde o final de 2009, para 45,2% em abril.

 

"Esse aumento é positivo, esperamos um crescimento entre 20% e 25% em 2010 com o bom ritmo da economia", estimou o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. "Os bancos se sentem motivados a emprestar e as empresas continuam a buscar dinheiro para aproveitar o cenário positivo do mercado interno", avaliou.

 

A concessão de crédito a pessoas jurídicas avançou menos que o segmento para pessoa física. "Isso já era previsto, o crescimento da massa salarial em pleno emprego colabora para que pessoas físicas tenham mais acesso a crédito", explicou Oliveira, da Anefac.

 

O estudo apontou de que o financiamento para pessoas jurídicas vindo de recursos livres (de bancos e instituições financeiras) atingiu R$ 488,6 bilhões, com alta mensal de 0,6%, e de 5,8% anualizada. Desse montante, 89,54% (R$ 437,5 bilhões) vieram de recursos domésticos, e cerca de 10,46% (R$ 51 bilhões), de recursos externos.

 

Questionado sobre a renovação das linhas externas no segundo semestre do ano, o vice-presidente da Anefac foi cauteloso. "Há movimentos do Banco Central Europeu de resolver os problemas de confiança do sistema bancário (...) Há uma desconfiança em relação aos bancos europeus, pois há riscos, mas os riscos já são menores", ponderou.

 

"As autoridades europeias já estão tomando decisões positivas, e os Estados Unidos e a China já estão atentos para a crise não se espalhe para os demais continentes", avaliou Oliveira.

 

O economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, tem opinião semelhante: "A crise europeia não deve afetar a liquidez no mercado brasileiro".

 

"O volume de crédito deve continuar avançando, impulsionado pelo aumento do consumo e pela queda da inadimplência", avaliou Alcides Leite.

 

Entre as modalidades destinadas a pessoas jurídicas, os empréstimos de capital de giro, saldo de R$ 226,3 bilhões, registraram crescimento mensal de 1,1%, acumulando expansão de 24,9% em 12 meses. Em sentido inverso, os adiantamentos sobre contratos de câmbio (ACC), cujo saldo situou-se em R$ 29 bilhões, registraram quedas de 1,5% no mês e de 34,7% em 12 meses.

 

O saldo de crédito direcionado para empresas fechou abril em R$ 307 bilhões, de um total geral de R$ 795,7 bilhões, o que representa 54,2% de todo o volume concedido a empresas .

 

De acordo com o relatório do BC, a concessão de crédito por bancos públicos cresceu 29,5% nesse período, acima dos 14,9% dos bancos privados nacionais. "Vai-se observar uma ação mais forte dos bancos privados nacionais e estrangeiros, o que deve dinamizar o crédito livre", previu o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, ao comentar um possível reação dos bancos privados nacionais na concessão de empréstimos.

 

Segundo o estudo, os empréstimos direcionados somaram R$ 487 bilhões, registrando um avanço de 31,6% em doze meses, e de 1,6% em abril.

 

Entre os empréstimos direcionados, as operações efetuadas pelo BNDES somaram R$ 295,6 bilhões, com alta de 1,3% em relação a março, e a carteira de crédito habitacional cresceu 3,3% em abril para R$ 104,1 bilhões. A maior parte desta carteira é composta por crédito concedido pela Caixa Econômica Federal com recursos da poupança e do FGTS.

 

"Os prazos devem continuar a aumentar. Hoje os bancos já atuam com crédito habitacional para 30 anos. Antes isso não acontecia", afirmou Oliveira.

 

O único ponto que o vice-presidente da Anefac considerou negativo no período foi a elevação dos juros. "As taxas subiram em abril pela expectativa do aumento da taxa básica de juros, a Selic."

 

"Os bancos se anteciparam à decisão do BC, mas o spread caiu, pois as taxas não subiram na mesma proporção da Selic."

 

Veículo: DCI


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