País depende de investimento para crescer sem inflação

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O mercado financeiro espera um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a 6,99% neste ano, segundo relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC). De acordo com especialistas, apesar de ser uma expansão aparentemente otimista para a economia, o Brasil ainda não tem capacidade para crescer a 7% sem gerar pressão inflacionária. A solução encontrada para um crescimento sem alta da inflação seria a taxa de investimento do País ser de no mínimo 30% do Produto Interno Bruto (PIB).

 

"Conseguiríamos ter uma taxa de investimento maior se tivéssemos uma taxa de investimento superior aos atuais 18% do PIB", entende o economista e professor das Faculdades Integradas Rio Branco, Guilherme Antônio Costa. "É uma situação complicada. O governo gasta muito e gasta mal, é um grande consumidor e não poupa. Não investe em infraestrutura, promove ações sociais, como a bolsa-família, que não geram riquezas ao País, por isso não é possível crescer acima de 7% sem gerar inflação. A economia da China cresce a dois dígitos porque investe 40% do PIB".

 

Segundo ele, o jeito para aumentar os investimentos seria elevar o fluxo de investimentos estrangeiros diretos, "só que aumentaria a dívida externa". "Juntando isso [dívida externa] à dívida interna, a alta do consumo, baixa poupança interna, a solução seria que os investimentos [Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF] estivessem, no mínimo, a 25% do PIB", analisa. Com essa taxa de FBCF, Costa projeta uma expansão econômica entre 10% e 12%, sem necessidade do Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros (Selic) para reduzir a inflação.

 

Entretanto, o especialista não prevê que a economia cresça sem gerar pressão inflacionária pelo menos neste ano. Da mesma forma, enxerga o coordenador do curso de Gestão Financeira da Veris Faculdades em São Paulo, Estevão Garcia de Oliveira Alexandre. "A curto prazo é impossível termos um crescimento do PIB parecido com o chinês. Precisamos investir bastante em infraestrutura. Mas são reformas caras. Para tanto, a taxa de investimento deveria ser de no mínimo 30% do PIB nos próximos cinco anos", avalia. "A economia vai bem, mas, no médio e longo prazo, precisamos caprichar na nossa lição de casa", aconselha.

 

Segundo o relatório do BC, a previsão para o PIB teve a terceira alta consecutiva. O valor exposto na divulgação de ontem é 0,39 ponto percentual (6,60%) superior em comparação com a previsão anteriormente apresentada pelo documento. Para 2011, os economistas consultados mantiveram a projeção em 4,5%.

 

Inflação

 

Pela segunda semana consecutiva houve redução na previsão de inflação para o ano. A estimativa para o IPCA que era de 5,64% caiu para 5,61%, informou o documento do BC. Para o próximo ano, a perspectiva se mantém a 4,80% há nove semanas.

 

Para o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fabio Gallo Garcia, apesar das quedas na projeção, a inflação em 2010 deverá ficar acima do centro da meta estipulada (4,5%).

 

"Embora a atividade industrial tenha apresentado desaceleração no segundo trimestre, com a retirada dos benefícios tributários, como redução de IPI dos automóveis e linha branca, o aquecimento da economia no início do ano, estimulada por forte demanda, demorou a ser combatida, o que provocou algum descontrole dos preços. Os recentes aumentos da taxa Selic já vêm surtindo efeito no controle da inflação e na redução do ritmo da economia. A inflação deverá fechar dentro da meta, que é entre 2,5% a 6,5% ao ano, mas dificilmente terminará o ano abaixo dela", explica.

 

De acordo com o documento do BC, a projeção para o IGP-DI subiu de 8,76% para 9,12%, assim como a previsão para o IGP-M (de 8,84% para 9%). Já a expectativa para o IPC-Fipe apresentou queda de 5,40% para 5,34%. Sobre 2011, os entrevistados pela autoridade monetária não mudaram suas previsões: fechamento de 5% para o IGP-DI, 5% para o IGP-M e 4,5% para o IPC-Fipe.

 

Outras previsões

 

Em 2010, a estimativa para o taxa Selic permanece a 11,75% ao ano há sete semanas. Porém, no próximo ano, o mercado elevou seu prognóstico de 11,50% para 11,75% ao ano. Da mesma forma, subiu a perspectiva, para 2011, sobre o câmbio, que passou de R$ 1,85 para R$ 1,86. Neste ano, o fechamento poderá ser R$ 1,80.

 

Em 2010, a projeção para a produção industrial caiu de 11,34% para 11,32%.

 


Veículo: DCI


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