Crédito ao consumo supera o empresarial

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É a 1ª vez que os empréstimos bancários sem subsídio para pessoas físicas ultrapassam os dirigidos às empresas

 

Segundo dados do BC, crédito às famílias aumentou 30% em 18 meses, ante 5% das linhas para empresas

 

Pela primeira vez na história, os empréstimos bancários com recursos livres (sem subsídio) para pessoas físicas superaram os financiamentos às empresas.
Segundo dados do Banco Central, a parcela desse crédito em poder das famílias alcançou a marca inédita de R$ 502 bilhões, aumento de 30% nos últimos 18 meses.
Esse valor representa um terço do crédito total do país. Não entram nessa conta os empréstimos habitacionais subsidiados com dinheiro do FGTS e da poupança, que somam mais R$ 100 bilhões.

 

Já os desembolsos para as empresas avançaram menos de 5% nesse período e somam hoje R$ 499 bilhões.
Isso significa que a maior parte desses recursos está sendo usada para financiar o consumo, em vez de investimentos e capital de giro.

 

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Quase dois terços do aumento nos empréstimos para pessoas físicas com recursos livres nesse período se referem a operações de crédito com desconto em folha (consignado) ou a financiamento de veículos.

 

Ou seja, duas linhas ligadas às medidas de aumento do emprego e redução do IPI para automóveis que vigoraram até março.

 

O crescimento diferenciado entre o crédito dos bancos para empresas e consumidores vem sendo observado desde a crise de 2008, quando secaram as fontes de recursos para empresas.

 

Para compensar, o governo aumentou a quantidade de dinheiro subsidiado para empresas por meio do BNDES, que responde hoje por quase 40% dos empréstimos a pessoas jurídicas.

 

O economista Roberto Padovani, do Banco WestLB, diz que a redução do crédito livre para empresas preocupa, já que o governo não tem como bancar toda a necessidade de crédito para investimentos sem aumentar mais seu endividamento.
"Parte desse avanço das pessoas físicas se deve ao recuo das empresas, que estão migrando para o crédito direcionado. Mas há limites para o governo, pois manter aportes contínuos no BNDES seria péssimo para as contas públicas", afirmou.

 

Para o economista Alexandre Andrade, da consultoria Tendências, o fato de o BNDES dispor de recursos com taxas menores atrasa essa recuperação do crédito de bancos comerciais.
Os empréstimos do banco estatal têm como base a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, 6% ao ano), enquanto o crédito livre para a pessoa jurídica tem hoje um custo de 27% ao ano.

 

Andrade afirma, no entanto, que a recuperação do crédito dos bancos às empresas vai ocorrer, mesmo em um cenário de juros mais altos, pois os recursos do banco estatal não são suficientes para bancar toda a necessidade de crédito para investimentos.
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC, além da escassez de crédito, as empresas ainda enfrentam dificuldades com o encurtamento dos prazos.

 

O crédito livre para as empresas, segundo ele, deve se recuperar apenas a partir do próximo ano, quando as taxas de juros pararem de subir e os prazos de financiamentos voltarem a se alongar.
"Há uma demanda de crédito por parte das empresas pequenas e médias. Mas nem todas têm acesso ao BNDES."
"Quando os juros voltarem a cair e os prazos aumentarem, o acesso ao crédito livre para essas empresas menores voltará a ficar mais fácil."

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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