Inflação deixa de pressionar os juros

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Ao divulgar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada, o Banco Central (BC) deu indícios de que a inflação em 2010 pode convergir para o centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. E de fato, essa convergência parece cada vez mais próxima. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem que a inflação observada nos últimos 12 meses passou para 4,49%, abaixo do acumulado até o mês de julho, que foi de 4,60%.

 

De acordo com a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada, que manteve a taxa básica de juros (Selic) a 10,75% ao ano, os diretores do BC reconhecem a existência de riscos de elevação da inflação no curto prazo. Porém, o Copom considera que a convergência da inflação para o valor central da meta tende a se materializar. "Para tanto, ampara-se na consideração pertinente de que a política monetária atua com defasagem sobre a atividade e sobre a inflação, e de que os efeitos do processo de ajuste da taxa básica de juros iniciado em abril de 2010 ainda não se fizeram sentir integralmente", diz o texto.

 

O Banco Central entende que as perspectivas para a evolução da atividade econômica doméstica continuam favoráveis, principalmente por conta do "vigor do mercado de trabalho, pelos efeitos remanescentes dos estímulos fiscais e das políticas dos bancos oficiais e, em escala menor do que a esperada anteriormente, pela atividade global". No entanto, a atividade interna apresenta ritmo menos intenso do que o observado no início deste ano, como revelam, entre outros, dados sobre comércio, estoques e produção industrial.

 

Segundo a ata, desde o último encontro, os integrantes do Copom também acreditam que o menor risco à concretização de um cenário inflacionário benigno se deve ao fato de que se elevou a probabilidade de desaceleração, e até mesmo de reversão, do que chama de lento "processo de recuperação em que se encontram as economias do G-3 [estados Unidos, Europa e Japão]".

 

Para os economistas da Rosenberg Consultores Associados, a tônica da ata revela que além do aperto iniciado em abril, "que ainda não se fez sentir por completo", as incertezas quanto ao cenário internacional são fatores que mostram convergência para o centro da meta em 2011 e primeiro semestre de 2012. Por isso, o Copom decidiu adotar uma postura cautelosa. Desta forma, a consultoria sustenta a perspectiva de que a taxa Selic deve ficar em 10,75% até o final de 2010.

 

Para o analista da WinTrade, José Góes, a manutenção da taxa de juros em 10,75% se deve basicamente às economias desaquecidas de países como Estados Unidos, da Europa e até da China. "Como o BC havia sinalizado, o cenário internacional contribuiu para sua decisão. Por outro lado, como a ata aponta, ainda há incertezas e se for necessário a política monetária atuará para controlar a inflação. Isto é, caso ocorra uma retomada mundial e uma maior pressão nas commodities será preciso elevar a taxa Selic. Do contrário, entendo ser possível que a taxa permaneça a mesma até 2011", analisa.

 

José Góes observa ainda que apesar de a economia doméstica continuar aquecida, e a tendência é um aumento natural do IPCA nos próximos meses, por ser final de ano, a inflação fique próxima do centro da meta.

 

Inflação

 

A inflação registrada no período de 12 meses, que representa a menor variação desde dezembro de 2009 (4,31%), segundo observou a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, foi resultado de uma leve aceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto de 0,04%, muito próximo à taxa de julho (0,01%). Com esse resultado, o acumulado do ano está em 3,14%, acima dos 2,97% referentes a igual período de 2009.

 

Os economistas da Rosenberg Consultores Associados avaliam que a ligeira alta do IPCA no mês passado foi provocada, sobretudo, pelo recuo menos intenso dos alimentos e pelas retomadas dos preços de educação e vestuário. Os alimentos, com retração de 0,24%, continuaram em queda, mas menos intensa do que em julho (cujo registro foi de recuo de 0,76%). "Os alimentos têm tido influência muito expressiva na inflação deste ano", disse Eulina, ao acrescentar que há sinais de arrefecimento na queda dos preços dos alimentos, mas "será preciso esperar os resultados dos próximos meses para avaliar a extensão desse arrefecimento".

 

Veículo: DCI

 


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