Alimento tem maior preço em 28 meses

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Puxado pelo açúcar e pelas oleaginosas, indicador de preços da ONU volta para os patamares de 2007 e 2008 e desperta preocupação

 

Os preços de matérias primas agrícolas básicas, como açúcar, cereais e oleaginosas, dispararam no mercado internacional no mês passado e voltaram para níveis muito próximos dos registrados em 2007 e 2008, quando o mundo estava às voltas com a crise dos alimentos, aponta a FAO, órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

 

Puxado pelo açúcar e pelas oleaginosas, o índice de preços dos alimentos elaborado pelo organismo internacional atingiu em novembro 205,4 pontos, o maior nível em 28 meses. O indicador acompanha as cotações de uma cesta de commodities agropecuárias, entre as quais estão trigo, milho, arroz, carnes, laticínios e oleaginosas. De acordo com os dados divulgados ontem pela FAO, o preço do açúcar em dólares subiu 7,3% no mês passado e os óleos vegetais 10,6% na comparação com outubro.

 

Um estudo feito pelo coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, com os preços em reais no mercado atacadista brasileiro revela que, em alguns produtos agrícolas, as cotações registradas nos dez primeiros dias de novembro superaram de longe os preços atingidos no terceiro trimestre de 2008, quando a crise financeira internacional não tinha afetado a economia brasileira e a preocupação ainda era a crise alimentar.

 

Em novembro deste ano, o preços do açúcar no atacado superior em 123,57% a cotação do terceiro trimestre de 2008, aponta o estudo da FGV. Comportamento semelhante ocorreu com os preços no atacado da laranja (87,53%), do algodão em caroço (69,46%) e da cana de açúcar (54,5%), nas mesmas bases de comparação. Quadros ressalta que esses quatro produtos agrícolas estão entre as cinco maiores altas de preços no atacado registradas em novembro deste ano até o dia 10 em relação ao terceiro trimestre de 2008.

 

"Este ano está sendo atípico para os alimentos", afirma o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (IPC-Fipe), Antonio Comune. Uma análise feita pelo economista revela que neste ano, exceto nos meses de junho, julho e agosto, os preços médios da alimentação subiram mais que a média da cotação da comida entre 2006 e 2009. Só em outubro deste ano, por exemplo, os preços dos alimentos ao consumidor subiram 2,84%, enquanto a elevação média dos quatro anos anteriores foi de 0,51%.

 

Ao que tudo indica, a pressão do alimentos na inflação deve continuar pesando no bolso do consumidor. Martinho Paiva Moreira, diretor de economia da Associação Paulista de Supermercados (Apas), diz que óleo de soja no varejo está 20% mais caro este mês e a perspectiva é de que o preço do produto aumente mais 10% em janeiro.

 

O preço da carne bovina, tida como a grande vilã da inflação de novembro e que respondeu por mais de um terço da alta do IPC-Fipe) de 0,77% na terceira quadrissemana do mês, deve arrefecer até a metade deste mês, na opinião de Moreira. Mas a alta de preços, segundo ele, deve voltar com força a partir da segunda metade do mês em razão das comemorações de fim de ano, quando o consumidor com mais dinheiro no bolso amplia as compras de alimentos, especialmente de carne bovina.

 

Industrializados. O impacto da alta dos preços das commodities agropecuárias nos preços dos alimentos industrializados não deve, no entanto, ocorrer neste ano, exceto no caso da margarina, maionese e dos óleos vegetais, diz Moreira. Ele explica que, como as indústrias trabalham com metas de vendas para fechar o mês e também o ano, para alcançar o objetivo traçado muitas empresas adiam aumentos de preços e absorvem os aumentos de custos, reduzindo as margens de ganho.

 

Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), lembra que, ao contrário dos período de inflação galopante, hoje a concorrência é muito forte tanto entre as grandes fabricantes de alimentos industrializados como entre as redes de supermercados. "Hoje não conseguimos repassar os aumentos de preços. Esse repasse automático se reflete na queda do consumo", diz.

 

No caso da carne bovina, diz Moreira, da Apas, as quantidades vendidas caíram 5% entre setembro e novembro.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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