O aumento mais forte dos preços administrados vai tornar mais difícil a tarefa do Banco Central (BC) de trazer a inflação da casa de 6,5% neste ano para 4,5% já no ano que vem. Com a alta significativa dos Índices Gerais de Preços (IGPs), levados em conta para o reajuste de tarifas públicas e outros contratos, o grupo de administrados deve subir entre 5% a 6% em 2009, mais que os 3,5% a 4% projetados para 2008.
Os preços livres, cuja variação é determinada pelo mercado, terão que sofrer uma forte desaceleração para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) volte no ano que vem para os 4,5% do centro da meta. O cumprimento dessa tarefa pode exigir que os juros fiquem em níveis elevados por mais tempo, resultando em um crescimento mais fraco da atividade.
A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria, espera que os administrados, com peso de quase 30% no IPCA, subam 4% em 2008 e 5,3% em 2009. Nesta previsão, os preços livres terão que cair dos esperados 7,8% neste ano para 4,1% no ano que vem para que o IPCA fique em 4,5%. Marcela, contudo, prevê uma alta de 5% para a inflação em 2009, com os preços livres subindo 4,9%. Neste ano, ela vê o IPCA em 6,7%.
Marcela diz que o tombo dos preços livres terá que ser forte para o IPCA ficar em 4,5% em 2009. Ela ressalta, porém, que os preços das commodities pode tornar a tarefa do BC menos árdua. Se o cenário de recuo desses produtos se concretizar, os alimentos deverão ter um comportamento mais benigno, ajudando a atenuar o aumento dos preços livres. Marcela acredita que os juros, hoje em 13% ao ano, vão atingir 15% em janeiro de 2009, fechando o ano em 14,5%. Ela projeta um crescimento do PIB de 4,1% no ano que vem, mas poderá reduzir a previsão, pois passou a prever uma trajetória mais conservadora para os juros depois da última reunião do Copom.
O avanço mais forte esperado para os preços administrados nos próximos meses se deve basicamente à disparada dos IGPs, diz o economista Adriano Lopes, do Unibanco. Pressionados pela alta das commodities agrícolas e industriais, as cotações no atacado, que têm peso de 60% nesses indicadores, fizeram os IGPs acumularem variações na casa de 15% em 12 meses. A primeira prévia do IGP-M de agosto, porém, mostrou um quadro favorável para o indicador, ao registrar deflação de 0,01%. Se esse comportamento se mostrar uma tendência, as estimativas para os IGPs podem ceder.
"Houve alguma desindexação de tarifas públicas nos últimos anos, mas os IGPs ainda têm bastante influência na hora de determinar os reajustes de serviços como energia elétrica e telefonia", afirma Lopes. Projetando alta de 11,4% para os IGPs neste ano, ele acredita que os preços administrados no IPCA vão subir 3,7% em 2008 e 6% em 2009.
Lopes nota que, se a sua premissa para os preços administrados estiver certa, será muito difícil para o BC trazer a inflação para o centro da meta, pois os preços livres poderão subir apenas 3,85% em 2009, muito abaixo dos 7,3% esperados para este ano. "Isso implicaria um sacrifício muito grande do crescimento", afirma ele, que acredita en alta de 4,3% para os livres em 2009.
O cenário do Unibanco já prevê uma forte desaceleração da economia, com o Produto Interno Bruto (PIB) passando de uma expansão de 4,8% em 2008 para 3% em 2009. A perda de força da economia virá da política monetária apertada. Para Lopes, os juros terminam 2008 em 14,75% e sobem em janeiro para 15,25%, nível em que ficam até dezembro de 2009.
Mesmo com essa trajetória bastante conservadora para os juros, o IPCA passaria de 6,2% neste ano para 4,8% no ano que vem - ainda acima do centro da meta. "Para trazer a inflação para 4,5%, seria necessário um aperto monetário adicional", afirma ele. Um IPCA de 4,8%, além de colado no centro da meta, já indicaria o compromisso do BC com a redução da inflação e o controle das expectativas.
O economista Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg & Associados, é mais otimista quanto à possibilidade de o BC trazer a inflação para 4,5% em 2009. Por enquanto, ele projeta uma alta de 5% para o IPCA, que seria fruto da combinação de um aumento de 5% dos preços administrados e também dos preços livres. Para Azevedo, a firmeza do BC na condução da política monetária ajuda na convergência da inflação para o centro da meta. Como Marcela, ele também ressalta que um comportamento mais favorável das commodities pode levar à concretização de um cenário mais benigno para os preços dos alimentos, o que reduziria a pressão sobre os preços livres.
Azevedo estima que os juros vão terminar 2008 em 14,75% e 2009 em 15,75%. Para ele, mesmo com uma política monetária tão restritiva como essa, é possível que o PIB tenha um crescimento de 3,6% no ano que vem.
Veículo: Valor Econômico