Na primeira visita ao exterior do chanceler Antônio Patriota, que foi recebido em Buenos Aires por sete ministros do gabinete argentino, o governo brasileiro conseguiu esquivar-se das pressões pelo crescente desequilíbrio comercial entre os dois principais sócios do Mercosul.
Após reunião com a presidente Cristina Kirchner, na Casa Rosada, Patriota destacou que o superávit da Argentina com o resto do mundo é "muito significativo" e chamou a atenção para outro desequilíbrio: o do turismo - já que o fluxo de brasileiros no país vizinho supera o de argentinos no Brasil. "Uma das formas de contribuir para o intercâmbio é o turismo. Neste ano, pela primeira vez, houve mais turistas brasileiros na Argentina do que argentinos no Brasil. E queremos que continue aumentando o número de turistas por aqui", disse Patriota.
No ano passado, a Argentina teve déficit de US$ 4,1 bilhões na balança comercial com o Brasil, um aumento de 172% sobre o saldo desfavorável que registrou em 2009. Para este ano, a previsão de analistas é que a diferença no comércio chegue a US$ 5,5 bilhões, superando o recorde histórico verificado em 2008.
Em tom bastante amistoso, marcado pelas boas relações pessoais entre os dois - ambos tiveram a embaixada em Washington de seus respectivos países como último posto no exterior antes de se tornarem ministros -, Patriota e o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, driblaram as desavenças na área comercial e anunciaram a criação de um grupo para estudar missões conjuntas de promoção, em terceiros mercados, de produtos brasileiros e argentinos de "valor agregado". Também se comprometeram a ter uma reunião bilateral a cada 90 dias.
"Consideramos que a solução para as dificuldades que possam surgir é mais integração, mais comércio, mais contatos entre nossos setores privados", disse o chanceler brasileiro. "Temos que olhar o quadro grande e não nos deteremos em casos pontuais."
Timerman reforçou o interesse da Argentina em ter um acordo, no âmbito do Mercosul, para dar às empresas argentinas o mesmo tratamento das brasileiras nas licitações públicas. Ele ressaltou que a intenção é participar da construção de arenas esportivas e obras de infraestrutura que atendam à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíada de 2016. "Falamos sobre a importância de que mais empresas argentinas possam participar das compras governamentais."
Patriota também levantou, sem tom de cobrança, um tema de enorme interesse das companhias aéreas brasileiras: a ampliação do acordo bilateral que limita, em 133 frequências semanais, a quantidade de voos comerciais que as empresas de um país podem fazer ao outro país. Do lado brasileiro, a cota já foi inteiramente preenchida. Como a Aerolíneas Argentinas, sob comando estatal há pouco mais de dois anos, faz apenas cerca de metade dos voos a que tem direito, o governo argentino tem se recusado a mexer no acordo, como forma de transferir a demanda para sua companhia.
Patriota e Timerman acertaram detalhes da visita que a presidente Dilma Rousseff fará à Argentina, dia 31. De Buenos Aires, ela seguirá para o Uruguai, onde jantará com o presidente José "Pepe" Mujica.
Veículo: Valor Econômico