Inflação de 5,9% é a maior em 6 anos e afeta mais os pobres

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Cenário global de demanda em alta e forte especulação com commodities tornam contenção de preços mais difícil em 2011

 

Preços de alimentos voltam ao nível de 2008, quando mundo teve protestos em países pobres contra inflação

 

O índice oficial de inflação no Brasil ultrapassou o centro da meta estipulada pelo Banco Central para 2010 e fechou o ano passado com a maior alta em seis anos.
Para 2011, a expectativa permanece sombria. Há um cenário de aceleração dos preços de commodities agrícolas e minerais, além do petróleo, em todo o mundo.

 

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 5,91% no ano passado. A meta do BC era de 4,5%, com intervalo de dois pontos para mais ou para menos.
Os mais pobres perderam mais. O INPC, que abrange famílias com renda entre 1 e 6 salários mínimos, subiu 6,47% (0,56 ponto a mais).

 

O vilão da inflação de 2010 foi a alimentação, em que os mais pobres comprometem a maior parte da sua renda.
Nesse grupo, os preços subiram quase o dobro da média geral: 10,4%.
Mas a aceleração de 2010 foi bastante pontual, concentrada no último trimestre e em poucos produtos, como carnes e feijão. Retirados esses dois itens do cálculo, a inflação do ano passado teria estacionado perto de 5%.

 

INFLAÇÃO GLOBAL

 

A virada de 2010 para 2011 trouxe como novidade uma aceleração da inflação em todo o mundo, de alimentos a produtos minerais.
Na semana passada, a ONU anunciou que seu índice mensal de preços de alimentos ultrapassou o pico de junho de 2008.

 

Naquele mês, pouco antes do início da crise financeira que levou à Grande Recessão de 2008/2009, o mundo assistiu a dezenas de protestos, do Egito a Bangladesh, contra a inflação de alimentos.
Desta vez, além da recuperação da demanda global, especialmente entre emergentes populosos como China, Índia e Brasil, os preços das commodities agrícolas e minerais sobem na esteira da especulação financeira.

 

É um movimento parecido ao que vem levando à valorização do real no Brasil.
Por conta da baixa atividade interna, os países ricos (os EUA em especial) reduziram quase a zero o juro que pagam a investidores que queiram comprar seus títulos.
Ao mesmo tempo, o BC dos EUA inundou o mercado com dólares (serão US$ 600 bilhões neste primeiro semestre, além do US$ 1,7 trilhão de 2009) para estimular os bancos a emprestar mais, aquecendo a economia.

 

Bancos e investidores, porém, tomam esses recursos a custo quase zero e, em vez de emprestar a terceiros, especulam em países como o Brasil (daí a entrada recorde de dólares), índices de preços baseados em commodities (elevando os preços) e outros ativos reais, como ações.
"Movida pela demanda global e pela especulação, a inflação é a grande preocupação para 2011", avalia José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da Opus Consultoria.
Esses dois fatores levaram as commodities agrícolas a subir cerca de 60% na segunda metade de 2010. O petróleo, 40% no ano.

 

Por conta da especulação, alguns preços já atingiram níveis próximos a 2008, sem que a atividade econômica global ainda tenha chegado ao mesmo patamar.
Sérgio Mendonça, economista do Dieese (que calcula a cesta básica em 17 capitais), diz que a inflação tem sido "mais malvada" com os mais pobres nos últimos quatro anos, período em que os alimentos subiram mais.
A cesta básica paulistana, por exemplo, aumentou 16% em 2010 (até novembro). Já o valor do salário mínimo pode ter correção de apenas 6%.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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