Estoques baixos dão ritmo à indústria no início de 2011

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Os fabricantes de produtos como eletroeletrônicos entram em 2011 com níveis ajustados de estoques, um fator importante de impulso à produção. No setor automobilístico, o volume de inventários diminuiu em relação ao pico de meados de 2010, devendo deixar de ser um obstáculo relevante à alta da produção - para o segmento, as medidas de restrição ao crédito adotadas pelo Banco Central no mês passado devem atrapalhar mais, já que uma parte significativas das vendas é feita a prazo.

 

No Polo Industrial de Manaus (PIM), as empresas apostam suas fichas num começo de ano positivo, segundo o assessor econômico da presidência da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Gilmar Freitas. Ele diz que as encomendas estão firmes, apontando para um aumento da produção em janeiro de 15% em relação ao mesmo período do ano passado, um mês em que a atividade econômica tinha sido forte.

 

"As empresas fizeram uma projeção já esperando a continuação de uma demanda aquecida pelo menos até o fim do primeiro semestre", afirma ele, segundo quem o volume de pedidos, ainda que expressivo, está dentro do esperado pelo segmento. "Praticamente toda a produção de janeiro está vendida." Com base no volume de encomendas às empresas do PIM, Freitas acredita que o varejo virou o ano com estoques baixos, próximos aos "apresentados no encerramento de 2009", níveis que ajudaram a impulsionar os negócios no ano passado. Assim como em 2010, Freitas acredita que o setor de eletroeletrônicos, a locomotiva do PIM, deve registrar o melhor desempenho em 2011.

 

O aquecimento também é sentido na indústria de componentes eletrônicos, que fornece para grandes prestadores de serviço, como distribuidoras de energia elétrica, redes de TV a cabo e empresas de telefonia. "Todo o segmento de telecomunicações está em plena expansão e somos beneficiados por investimentos sociais de eletrificação no campo, tanto do governo federal quanto do estadual", comentou Ailton Ricaldoni Lobo, dono da Clamper, empresa de Lagoa Santa (MG). Ele espera atingir R$ 30 milhões de faturamento este ano, ante R$ 20 milhões no ano passado e especificamente para o mês de janeiro prevê um faturamento 20% superior ao mesmo período no ano passado. No ramo de componentes eletrônicos, o nível de estoques é baixo.

 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, também espera um bom crescimento no começo de 2011, dado o nível de encomendas de dezembro. As empresas que vendem bens de consumo duráveis devem ter um ano bastante positivo, diz. No caso das que fabricam bens de capital, há perspectivas promissoras, dado o cenário favorável para o investimento em infraestrutura e do programa Minha Casa, Minha Vida (que favorece as companhias que fabricam materiais elétricos de instalação, por exemplo). O temor de Barbato, porém, é que parte dessa demanda não seja atendida por empresas brasileiras. O câmbio valorizado e o elevado custo de produção no país afetam a competitividade das empresas brasileiras, afirma ele. "Há encomendas, mas a rentabilidade muitas vezes é muito baixa."

 

A indústria de veículos, que conviveu com volumes de estoques elevados especialmente no meio do ano passado, reduziu um pouco os inventários ao longo dos últimos meses. O diretor de assuntos corporativos para a América do Sul da Ford, Rogelio Golfarb, diz que os estoques caíram mais em dezembro, um mês em que os emplacamentos cresceram 30,2% sobre o mesmo mês de 2009.

 

A economista Tatiana Pinheiro, do Santander, diz que essa é uma boa notícia, observando que o setor não deverá ter, porém, um ano como 2010, quando os licenciamentos aumentaram quase 12%. Golfarb acredita que haverá algum crescimento, mas inferior ao do ano passado. Além de não haver mais o incentivo do Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) mais baixo, que vigorou em parte de 2010, o setor vai enfrentar um quadro de crédito mais restritivo e de provável aumentos dos juros, lembra ele.

 

O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Bellini, acredita em alta das vendas de 4% a 5% em 2011. Para a produção, a entidade trabalha com aumento pouco superior a 1%. "As vendas devem crescer mais que a produção por causa do aumento das importações e de alguma redução das importações. Estamos perdendo competitividade devido ao real forte", diz Bellini.

 

Essa forte concorrência externa é um dos fatores que podem limitar um voo mais alto da indústria em 2011, na visão do economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero. Para ele, o aumento da fabricação de bens intermediários (insumos) é um sinal favorável, que costuma antecipar aumento da produção do resto da indústria, assim como a queda de estoques.

 

A questão, segundo ele, é que a demanda interna tem sido atendida em parte expressiva por produtos importados, num quadro de câmbio valorizado. Isso pode limitar o fôlego da indústria em 2011. Para Montero, é preciso verificar também a real magnitude da queda dos estoques de veículos em dezembro, a ser divulgada hoje, para ter ideia do potencial de expansão do setor no começo do ano. De julho a novembro, os inventários caíram de 330 mil unidades para 291 mil, um recuo não tão expressivo, para ele.

 

Veículo: Valor Econômico


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