Apenas com ameaças de ação no câmbio, Mantega faz cotação subir

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, movimentou o mercado ontem ao liberar um comunicado à imprensa avisando que falaria sobre câmbio no início da tarde. A reação dos investidores ampliou o discreto movimento altista do início do dia e elevou a cotação da moeda americana, de R$ 1,656 para R$ 1,672. Mas bastou a primeira resposta do ministro aos jornalistas para ficar claro que nada mudaria: "Eu não vou anunciar nenhuma medida cambial hoje", disse Mantega.

 

"Não vou anunciar nenhuma medida, mas quero dizer que nós sempre temos um conjunto de medidas preparadas para a área cambial", insinuou o ministro. "No caso de haver uma deterioração maior do dólar, nós tomaremos medidas adicionais", afirmou. E completou: "Na medida em que o dólar chegue num certo patamar, poderemos tomar novas medidas".

 

Apesar da ameaça, a cotação recuou para R$ 1,662, e fechou o dia ainda em alta, de 0,78%, a R$ 1,664, depois das declarações de Mantega. O ministro não esclareceu qual "patamar" detonaria o anúncio dessas medidas "adicionais". Mas manteve a prática que se tornou comum no segundo semestre do ano passado, de tentar conter uma valorização excessiva do real frente ao dólar por meio de discursos em que reafirma a disposição do governo de não deixar o câmbio derreter. "O governo está atento a essa questão do câmbio e não permitiremos que o dólar derreta."

 

Entre as medidas que o governo poderia tomar, Mantega citou a intervenção "direta ou indireta" no mercado cambial e também mudanças na área comercial para estimular as vendas ao exterior, como a devolução de crédito dos exportadores. "Ainda temos várias medidas além do IOF. São infinitas as medidas que podemos tomar do ponto de vista da intervenção direta no câmbio e estamos até autorizados pelo G-20 para tomar essas medidas".

 

Ele não quis comentar, no entanto, se uma das possibilidades seria a quarentena de recursos vindos do exterior. Esse tipo de "bondade" nunca é anunciada previamente, brincou.

 

O ministro citou ainda a criação, por medida provisória, da Agência Brasileira de Garantias, informando que o novo órgão de regulação do setor de seguros funcionará em breve e será uma das iniciativas de caráter institucional para conter a volatilidade do dólar. Na realidade, a montagem da agência ainda não está resolvida, como deu a entender o ministro.

 

Mantega também acredita que as medidas fiscais de contenção de gastos, que serão anunciadas em breve pelo governo, podem ajudar a conter a queda do dólar, além de colaborar com o Banco Central no trabalho de combater a inflação. Mas ressaltou que a decisão de cortar a Selic cabe ao BC "quando ele achar que é possível reduzir os juros", disse Mantega.

 

"Essa ação que faremos em relação aos gastos vai ajudar a política anti-inflacionária do Banco Central para que ele possa, em um momento adequado, quando ele achar que é possível, vir a reduzir os juros do país de modo a atrair menos capital externo, menos operações de arbitragem entre juros lá fora que são muito baixos e os nossos juros que são mais altos", afirmou.

 


Veículo: Valor Econômico

 


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