Ao tomar posse, presidente do BC sugere que índice deve cair para patamar de países emergentes
O novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, tomou posse ontem com um discurso duro, de manutenção do atual tripé de política monetária com metas de inflação, regime de câmbio flutuante e austeridade fiscal, mas reforçou a possibilidade de uma redução da meta de inflação, hoje em 4,5%. Ele também alertou que manterá a vigilância para evitar bolhas no mercado de crédito e reafirmou os compromissos que já havia declarado quando foi nomeado para o cargo, em novembro. Segundo ele, o principal objetivo determinado pela presidente da República, Dilma Rousseff, foi a busca de forma "incansável e intransigente da missão institucional de assegurar a estabilidade e o poder de compra da moeda".
Para cumprir essa tarefa, disse, o instrumento mais adequado é o sistema de metas, adotado há 11 anos. "Esse regime tem obtido sucesso inquestionável no alcance do seu objetivo principal de coordenar as expectativas da sociedade e tem feito isso com flexibilidade, absorvendo choques econômicos diversos ao menor custo para a sociedade", afirmou em seu discurso de posse, ontem na sede do Banco Central, em Brasília.
A estabilidade é uma conquista da sociedade brasileira, afirmou, mas sua manutenção é um desafio permanente. Nesse ponto, aproveitou para estender a responsabilidade a todo o governo, mas ressaltando que o papel principal deve ficar mesmo com a autoridade monetária. "A estabilidade do poder de compra é uma conquista da sociedade brasileira e a sua manutenção é um desafio permanente, cuja responsabilidade recai sobre todo o governo, mas principalmente sobre o Banco Central do Brasil", completou.
Tombini também afirmou que o país deve perseguir metas de inflação mais baixas, próximas do patamar de países emergentes. A meta para este ano e o próximo está em 4,5% com dois pontos de tolerância para cima e para baixo. Essa busca, disse ele, é consequência do sucesso da atual política. "A consolidação dessa política econômica, combinada com o contínuo aperfeiçoamento do marco legal e regulatório brasileiro, propiciará as condições necessárias para, no futuro, discutirmos a convergência da nossa meta de inflação para níveis mais baixos, semelhantes aos observados nas principais economias emergentes", disse.
O novo presidente se coloca, portanto, favorável a uma redução da meta, cuja definição será em junho deste ano. "Creio que esse é um processo que devemos ter a ambição de perseguir no futuro", completou.
Disse ainda que a autoridade monetária se manterá atenta para evitar uma bolha no crédito imobiliário. Segundo Tombini, o crédito pessoal está desacelerando, enquanto o financiamento habitacional vem aumentando sua participação no crédito global, o que é positivo. "É importante que isso ocorra com qualidade, e não se transforme em uma bolha, como ocorreu em outros países", afirmou.
Ele iniciou seu discurso ressaltando a qualidade do corpo técnico do BC, de onde é oriundo. Celebrou ainda o modelo do BC brasileiro, que une supervisão com regulação. Essa junção, disse ele, se mostrou, durante a crise, o padrão mais acertado, sendo copiado, hoje em dia, por diversos países. Por fim, reforçou a necessidade de uma continuidade da inclusão financeira, que evoluiu bastante nos últimos anos.
A cerimônia foi prestigiada pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, além de presidentes da maior parte dos bancos e associações de instituições financeiras, como Luciano Coutinho, do BNDES, Fábio Barbosa, da Febraban, Roberto Setubal, do Itaú Unibanco, e Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco. Todos saudaram Tombini como uma ótima escolha.
"A escolha do Tombini denota a importância do sistema de metas de inflação e a conciliação do combate à inflação com as metas de crescimento", disse Trabuco. Para Setubal, "o Brasil estará muito bem servido". Já Fábio Barbosa disse que o novo comando aponta para um alinhamento com a administração do ex-presidente Henrique Meirelles. "O mercado está tranquilo", disse.
Ao se despedir após oito anos à frente do BC, Henrique Meirelles destacou que o Brasil deixou para trás o falso dilema de que a economia não pode crescer com controle da inflação. Alertou ainda que "não deve ser motivo de alarido" para a sociedade, se o Comitê de Política Monetária (Copom) voltar a subir a taxa Selic. "Juros sobem e descem, segundo os ciclos monetários", afirmou.
A primeira reunião do Copom sob o comando de Tombini ocorre nos dias 18 e 19 deste mês. O mercado aposta em alta de juros de 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Tombini deve conceder uma entrevista coletiva à imprensa ainda esta semana.
Veículo: Valor Econômico